Como são erguidas as enormes torres humanas da Catalunha

Expressão única da história e da identidade catalã, os castells surgiram durante os comícios pró-independência em toda a região.

Por Meaghan Beatley
Publicado 8 de nov. de 2017, 20:36 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Os castellers de Barcelona constroem a torre humana em frente à prefeitura da cidade durante o festival anual La Mercè.
Foto de Matthias Oesterle, Alamy

O rugido de uma multidão de milhares de pessoas no centro de Barcelona virou sussurro com o som da gralla – um instrumento catalão. De repente, três corpos são içados acima da multidão. Eles se encaram, braços interligados, mãos agarradas aos antebraços uns dos outros. Outros três escalam ao topo, colocam seus pés descalços nos ombros dos três primeiros e, igualmente, erguem-se acima da multidão, com braços entrelaçados. Mais três sobem. E então, mais três. E mais um grupo. E outro. Finalmente, três crianças com capacetes de macacos escalam até o topo da coluna íngreme. O menor levanta uma mão para o céu. A multidão festeja enquanto, de cima para baixo, a torre humana se desmonta em questão de segundos.

Essas torres humanas, castells em catalão, tornaram-se um símbolo da Catalunha, a região no nordeste da Espanha que busca autonomia. Classificados pela UNESCO Patrimônio Cultural da Humanidade em 2010, os castells tornaram-se símbolos de uma cultura catalã distinta e, ultimamente, surgiram em manifestações pró-independência em toda a região. A maioria dos participantes, ou castellers, afirmam, no entanto, que a prática é apolítica – trata-se apenas de uma maneira de manter a tradição viva.

“É um esforço coletivo em que todos realmente importam, desde quem está na base a quem está na torre”

Os historiadores afirmam que os primeiros castells surgiram na cidade catalã de Valls, em 1902. Ao longo do século 19, os castells "eram apenas um número circense", explica o historiador Pablo Giori. Os castells eram formados por imigrantes de regiões ao sul, como Andaluzia, que vieram ao norte – uma região mais rica – em busca de trabalho. Era um show pago. "Hoje, isso é visto como algo muito burguês, mas antigamente, era praticado por pessoas de círculos socioeconômicos mais baixos. Se você quisesse enviar seus filhos para lá, você claramente estaria precisando de dinheiro", diz Giori.

Quase todas as aldeias se vangloriavam de ter dois grupos de castells concorrentes, ou colles, financiados pelos dois partidos políticos da época: monarquistas e republicanos. A partir de 1939, sob o regime de Francisco Franco, os castells não foram banidos como muitos outros símbolos da cultura catalã – como a sardana, uma dança tradicional e a língua da região – mas os colles foram unificados para extinguir diferenças políticas.

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      Impressionante ato de coragem e equilíbrio, os castells podem ter até dez andares.
      Foto de Matthias Oesterle, Alamy

      Após a morte de Franco e a restauração da democracia, os castells se tornaram o símbolo da identidade catalã que são hoje. À medida que os catalães recuperavam os espaços públicos que lhes eram negados sob o regime ditatorial, eles inseriram em suas celebrações um senso de risco e perigo oriundos da recém conquistada liberdade. As torres humanas e a pirotecnia – outro elemento básico das festividades catalãs contemporâneas – tornaram-se pilares culturais.

      "Há essa incerteza, você realmente não sabe se terá sucesso até terminar", explica Caue, um casteller com oito anos de experiência. "É realmente estético, provoca um impacto visual. Nunca encontrei alguém que não ficasse impressionado."

      A torre é sustentada por uma organização complexa de distribuição de peso. A base, ou orpinya, é composta por cerca de cem castellers, todos empurrando um ao outro com seus peitos (e, convenientemente, criando um colchão humano para amortecer uma possível queda). As torres podem ter nove ou até andares de altura, cada um composto de até cinco castellers.

      Ao ser perguntado sobre como os castellers mantêm o equilíbrio, Caue recita seu lema com um toque poético: "força, equilibri, valor, i seny", ou "força, equilíbrio, coragem e sabedoria".

      "É um esforço coletivo em que todos realmente importam, desde quem está na base a quem está na torre", diz ele. "Se você não estiver lá, ou se não fizer sua parte, o castell cairá. É um sentimento realmente especial".

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