Corredora de trilhas faz história no pico mais alto da América do Sul

Sunny Stroeer é a primeira mulher a dar a volta e alcançar o cume do Aconcágua em uma única escalada.

Por Seth Heller
Publicado 27 de fev. de 2018, 18:46 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
A corredora de trilhas Sunny Stroeer sobe uma das trilhas enquanto completa o percurso “360 graus” no Aconcágua.
Foto de Sunny Stroeer

Segundo mais alto dos Sete Cumes, o Aconcágua fica localizado nos Andes, no lado oeste da Argentina. Com 6.961 metros de altitude, chegar ao cume já é um marco para qualquer alpinista.

Mas no dia 3 de fevereiro de 2018, a corredora de trilhas Sunny Stroeer tornou-se a primeira mulher a completar o maior desafio de resistência do Aconcágua: dar a volta e alcançar o cume em uma única escalada. E fez tudo isso sozinha.

Apenas uma outra pessoa já havia conseguido completar o percurso, conhecido como “360 graus”. Equipes experientes levam normalmente duas semanas para atravessar seus vales e completar a subida íngreme. Stroeer, uma corredora de trilhas amadora, treinou por menos de um mês. Ela completou a volta de quase 103 quilômetros em 47 horas e 30 minutos, marcando a porta de seu hotel alguns minutos antes do nascer do sol.

“Eu não fazia ideia do que me esperava”, ela disse em Mendoza. “Guardas florestais me pararam, alguém roubou minha água e deslizamentos haviam derrubado partes da trilha.” Além de completar o percurso, ela também espera inspirar outras corredoras. Ela explicou que “Eu só espero que algumas mulheres vejam isso e pensem: ‘Espere um pouco, talvez eu também possa fazer isso. E mais rápido!’”

Perguntamos a Stroeer como ela conseguiu completar o percurso e o que pretende fazer em seguida.

O que a inspirou para tentar esse recorde?

Eu amo montanhas, altitude e treinos de resistência. Pensei, por que não juntar os três? O “360 graus” me conquistou como um desafio pelo feminismo. Nicolas Miranda é o único homem que já o completou, e nenhuma mulher havia tentado.

Quanto tempo trabalhou neste projeto?

Pouco tempo. Cheguei no Aconcágua no fim de dezembro, mas não planejava tentar o percurso. Vim para guiar um grupo ao cume e depois tentar um outro recorde de velocidade com a Libby Sauter. Ela precisou desistir da missão em 9 de janeiro, então eu me voltei para o percurso “360 graus”.

Meu estilo de vida é como um treino: Eu escalo, guio e passo meu tempo em altas altitudes. Cheguei ao cume, passei uma semana no Campo 2 – a 5.577 metros de altitude – para me aclimatar e estudei as trilhas para que eu pudesse navegá-las sozinha a qualquer hora.

O que no seu estilo tornou isso possível?

Acho que projetos de resistência têm menos a ver com velocidade e preparo físico e mais a ver com confiança e planejamento. Eu estava preparada para enfrentar qualquer obstáculo sozinha. Não há água na parte de cima da montanha? Dê um jeito. Deslizamentos destruíram a trilha? Descubra como atravessá-los.

Você mudou sua estratégia durante o treinamento?

Eu equilibrei três elementos: quais seções eu me sentia confortável em navegar no escuro, quando eu precisaria do estímulo do nascer do sol, e como eu deveria cruzar os rios.

Por exemplo, é mais seguro atravessar o Rio Vacas cedo pela manhã, antes que a neve derreta. Mas o tempo está seco. Vi o nascer do sol (o primeiro da trilha) a 5.880 metros de altitude, próximo ao Campo 3, para aliviar a escalada de 1.127 metros até o cume.

Você conversou sobre sua estratégia com o Nicolas Miranda?

Não, mas guias locais e carregadores me aconselharam quanto aos desafios das trilhas. Também consultei a Libby Sauter, que conhece os projetos de longa distância do Aconcágua.

Quando você soube que estava pronta para tentar o percurso?

Eu não sabia. Eu ainda tinha alguns dias na minha permissão de escalada, uma janela no clima e suprimentos guardados nos dois campos base e no Campo 3 do Aconcágua.

 

Sunny Stroeer segura a prova, fornecida por um guarda florestal, de que alcançou o cume do Aconcágua.
Foto de Sunny Stroeer

Enquanto se preparava em seu quarto de hotel naquela manhã, no que estava pensando?

Eu estava assustada e me perguntava por que tentaria este projeto louco sozinha.

Alguma última palavra na porta do hotel antes de zerar o cronômetro?

O gerente estava lá. Acho que apenas murmurei “deseje-me sorte” e saí andando com a minha mochila.

Certo, e o que aconteceu na trilha? Como manteve-se em movimento?

Eu acredito em mantras. Eu repetia “sem estresse, é só um treino” e “apesar de cada passo ser difícil, você deve estar em um bom ritmo.”

Qual foi a parte mais difícil para você?

A subida ao cume. Quando cheguei ao Campo 3 a 5.880 metros, eu estava correndo há quase 24 horas. Eu havia guardado uma panela com gelo limpo lá para derreter e beber, mas alguém a havia roubado.

Eu tinha 700 ml de água comigo, mas não sabia se conseguiria escalar por mais cinco a nove horas em segurança. Quando um guia local disse que subiria naquele dia, eu decidi continuar, mesmo que isso significasse uma desidratação intensa.

Eu quase voltei seis vezes acima do Campo 3. Em um momento, eu dei alguns passos para baixo da montanha.

Quando você percebeu que havia conseguido?

No cume. Dali, deveria ser apenas uma descida até o Campo Base, e depois uma caminhada fácil até a estrada e os últimos 11 quilômetros até o hotel para fechar a volta.

Parece que encontrou problemas...

Nos últimos 30 quilômetros, partes da trilha haviam sido destruídas por diversos deslizamentos grandes, que poderiam ter me levado junto. Muitos formaram canais íngremes com grandes paredes de lama. Perdi quase uma hora percorrendo as margens em busca de pontos rasos onde eu pudesse atravessar em meio a lama e pedras.

O que você pensou quando chegou na porta do hotel?

Eu estava aliviada por parar de me mover. Fui tropeçando até o quarto, tomei um banho e um café da manhã enorme.

E agora? Vai tentar quebrar o seu recorde?

De jeito nenhum! Agora, estou me preparando para tentar o recorde de velocidade da Trilha de Hayduke em uma única temporada. E no longo prazo, quero incentivar mais mulheres a sonharem alto e partirem para as montanhas.

E talvez também tente uma missão solo ao Polo Sul.

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