Boas-vindas que não cabem em palavras
É uma recepção que não pode ser expressa em palavras, uma sensação de cuidado que se manifesta em pequenos detalhes do cotidiano. Aqui estão cinco formas de experimentar essa receptividade.
A recepção que tive em meu segundo dia continuou por 15 anos. É generoso sem ser exagerado e amigável sem ser descarado.
No meu segundo dia na Nova Zelândia, caminhei sem rumo pela Wellington’s Ghuznee Street na agitada manhã de um dia de semana, lista de compras em mãos, sentindo-me desorientada e sobrecarregada. Mudei-me para esse país sem conhecer sequer uma alma, deixando meu país natal, os Estados Unidos, para trás e, nesse momento, me perguntava o por quê.
“Olá. Você parece meio perdida. Posso te ajudar com alguma coisa?” Uma mulher de meia-idade, vestida como quem trabalha em um escritório, me parou na rua. Sua gentil oferta era como um raio de sol que atravessava uma nuvem. Expliquei que procurava coisas para casa – esponjas, uma vassoura, lençóis.
“Isso é fácil”, disse ela. “Você terá o que precisa em apenas um segundo.” Ela listou os nomes das lojas que eu precisava e onde encontrá-las. Depois, dispensou meu expansivo agradecimento com um aceno de mão.
“Sem problemas,” disse. “E seja bem-vinda à Nova Zelândia.”
Uma hora depois, com o carrinho de compras transbordando na fila do caixa, um jovem registrava minhas muitas compras. “Mudando de flat?”, perguntou.
“Flat?”
“Flat. Casa. O lugar que você mora”, traduziu. “Você é nova aqui?”
Mal respondi que “sim” quando ele começou a escrever uma lista de coisas que eu deveria fazer e ver, começando com um show naquela noite, em um bar local.
“Não existe recepção melhor à Nova Zelândia do que um pouco de música kiwi”, ele disse. “Você realmente deveria ir. Não vai se arrepender.”
Eu fui e não me arrependi. Nem me arrependi de ter me mudado para esse país extraordinário. A recepção que tive em meu segundo dia continuou por 15 anos. É generoso sem ser exagerado e amigável sem ser descarado. É uma recepção que não pode ser expressa em palavras, uma sensação de cuidado que se manifesta em pequenos detalhes do cotidiano. Aqui estão cinco formas de experimentar essa receptividade:
Diga oi ao seu colega de assento: Voos regionais na Nova Zelândia são ótimos locais para iniciar conversas e também uma ótima forma de ver a paisagem. Os kiwis dão esses pulos curtos com frequência, para negócios e divertimento, e geralmente apreciam uma boa conversa com seus colegas de assento. A piada local é que os neozelandeses têm que tomar cuidado com as conversas a bordo. Em um país com 4,9 milhões de pessoas, é provável que você e seu colega passageiro conheçam pessoas em comum – algo que já aconteceu comigo várias vezes.
Peça um café: kiwis amam suas cafeterias, e participar dessa cultura do café é uma forma bacana de conhecer os moradores locais, sejam donos de estabelecimentos, funcionários ou outros entusiastas do flat white, o expresso com leite. Wellington é o centro das cafeterias, e você terá muitas escolhas por aqui. Tente o eclético Fidel’s na Cuba Street, ou o mais novo Flight Coffee Hangar na Dixon Street. Outros favoritos incluem o Chocolate Fish na Shelly Bay e a cafeteria no Maranui Surf Life Saving Club, com uma vista sem cortes de Lyall Bay. Em Auckland, a área de Britomart, localizada entre Waitemata Harbour e a parte baixa do Distrito Comercial Central (DCC) de Auckland, é um bairro revitalizado de edifícios de usos mistos e históricos. Visite a cafeteria francesa L’Assiette ou – para os verdadeiros amantes de café – o Espresso Workshop. Mas uma boa xícara de café sempre pode ser encontrada em qualquer cidade, e pedir recomendações de cafeterias a um kiwi é uma ótima forma de iniciar uma conversa. Aqui vai a minha dica: Kai Whakapai, em Wanaka na Ilha Sul, é um ótimo lugar para conhecer uma interessante mistura de moradores e visitantes.
Torça por um time: os neozelandeses são loucos por esportes. Sempre acontecem eventos esportivos, seja grassroots rugby, um torneio de netball de salão ou uma partida de críquete. É um passeio agradável (e surpreendentemente acessível) para os viajantes e outro bom tópico para puxar assunto. Não importa qual cidade esteja visitando, os moradores estão sempre antenados. Se não puder assistir algo ao vivo, passe em um pub da vizinhança para assistir ao jogo na TV – especialmente se for uma partida de rugby dos All Blacks, como é conhecida a seleção nacional. Mesmo se for uma transmissão da Europa às 3 da madrugada, os pubs estarão lotados de kiwis torcendo.
Conheça os fabricantes: os neozelandeses são pessoas habilidosas que adoram produzir desde mel, queijo, vinho, até geleias. E adoram compartilhar essas iguarias com seus convidados. Visitar um mercado (como o Motueka Sunday Market), uma vinícola (como Fromm na região de Marlborough ou Chard Farm no Gibbston Valley em Queenstown) ou uma loja local (como Fix & Fogg em Wellington, produtores de uma maravilhosa manteiga de amendoim) é uma maneira deliciosa de aprender mais sobre a região e as pessoas que colocam coração e alma em seus produtos.
Experimente o espírito dos Māori: A cultura dos primeiros habitantes da Nova Zelândia está viva e em constante evolução, e os Māori são compreensivelmente zelosos com ela. A melhor forma de experimentá-la é com experiências criadas para os visitantes. O Waitangi Treaty Grounds na Baía das Ilhas é um dos locais históricos mais importantes da Nova Zelândia, e um dos melhores lugares para aprender sobre a história, os protocolos e a cultura Māori. Outros lugares, como a região geotérmica de Whakarewarewa, oferecem pernoites em maraes, locais tradicionais de encontros que são o ponto central das comunidades Māori. Tais visitas são uma excelente forma de conhecer membros da comunidade, fazer perguntas e curtir uma experiência cultural mais profunda. Mas não entre nem tire fotos em um marae sem ser convidado. Apresente-se, faça perguntas e deixe as coisas evoluírem a partir daí.
Carrie Miller é uma escritora da National Geographic Travel e mora na Nova Zelândia. Siga-a em @carriemiller_writer.