NASA envia sonda espacial em direção ao Sol - veja como
A Parker Solar tentará solucionar os maiores mistérios envolvendo a estrela, indo aonde nenhum outro veículo espacial chegou.
HÁ QUASE CINCO bilhões de anos, o Sol aguarda uma visita - e a NASA finalmente está em vias de alcançar e tocar a face de nossa principal estrela.
Após alguns atrasos, a Sonda Parker Solar foi lançada neste domingo (12/8), em um foguete ULA Delta IV a caminho da órbita solar. Equipada com quatro conjuntos de instrumentos, a sonda - obviamente - funciona com energia solar e, ao longo do curso de sua jornada de sete anos, se alimentará da energia da estrela objeto de seus estudos.
Sua missão? Solucionar alguns dos mais persistentes mistérios sobre o Sol, chegando o mais próximo possível dele, como nunca antes realizado.
“O Sol está sempre mudando, está sempre em movimento, atravessa períodos de incrível violência”, diz Alex Young, do Centro Goddard de Voos Espaciais da NASA. “É uma estrela incrivelmente dinâmica”.
Nasce uma estrela
O Sol torna viável a vida na Terra há bilhões de anos, servindo como base para teologias e alimentando mitos ao longo da história da humanidade. Ele é inevitável, sua presença inegável, exceto nos mais raros ambientes mundanos.
E mesmo assim, ainda não entendemos realmente como ele funciona.
Astrônomos estudam essa estrela, que é a mais próxima de nós, há mais de um século. O Sol foi observado em cada comprimento de onda do espectro eletromagnético, com telescópios localizados na Terra e no espaço especialmente projetados para resistir ao fortíssimo brilho de sua face flamejante. Apesar de todo o trabalho árduo dos cientistas, eles não conseguiram desvendá-lo.
Talvez, a explicação esteja no fato de que nenhum telescópio tenha, até o momento, chegado perto o suficiente para realmente estudar a estrela que ocupa o centro de tudo.
“Precisamos acessar essa região de ação onde se encontram todos os mistérios”, diz Nicola Fox, cientista de projeto do Laboratório Johns Hopkins de Física Aplicada.
O império do Sol
Batizada em homenagem ao astrofísico Eugene Parker, de 91 anos de idade, o primeiro a identificar o fluxo supersônico de partículas chamado vento solar, a sonda possui basicamente três objetivos científicos.
Emitido pelo Sol, o vento solar chega até o final do sistema solar. Ele nasce como uma brisa relativamente fraca próximo à estrela, vai ganhando velocidade e forma uma torrente de energia e matéria acima da velocidade do som, chicoteando o espaço a milhões de quilômetros por hora.
Entre as perguntas que nos fazem arder em curiosidade e que a missão pretende responder, está o que acelera o vento solar e por que ele é tão veloz - um fenômeno que trará mais informações sobre o funcionamento interno da própria estrela e que pode até mesmo ajudar em experimentos de fusão nuclear na Terra.
O veículo espacial também estudará as tempestades que ocasionalmente acontecem na superfície do Sol, provocando enormes erupções de materiais ao espaço, chamadas ejeções de massa coronal. Se essas nuvens carregadas chegarem à Terra, elas podem produzir belas auroras, mas também são perigosas aos astronautas e podem interromper sistemas de comunicação e redes de energia.
“Temos a tecnologia, temos pessoas no espaço e, contudo, precisamos compreender e caracterizar esse lugar pelo qual viajamos”, diz Young.
Solucionar esses mistérios significa que a sonda precisará realizar diversas viagens até a coroa solar, a porção de sua atmosfera superior que arde a milhões de graus Celsius. Entretanto, isso apresenta um outro desafio solar: Os cientistas não sabem porque a coroa é tão absurdamente quente, ao passo que a superfície do Sol atinge uma temperatura de aproximadamente 5.800 graus Celsius, que é comparativamente fria.
“Por que a coroa é 300 vezes mais quente do que a superfície do Sol?”, pergunta Fox. Essa é outra pergunta que a missão espera responder.
Crepúsculo
Acessar essa região sufocante não é uma tarefa fácil e, no fim, a Sonda Parker Solar terá atingido a maior velocidade já atingida por qualquer outro veículo espacial. Quando realizar sua última volta ao redor do Sol daqui a sete anos, o veículo espacial terá atingido uma velocidade de um pouco mais de 692 mil quilômetros por hora na superfície solar. Essa velocidade nos permitiria ir de São Francisco a Los Angeles em menos de três segundos.
Sua jornada ao coração do sistema solar começará com uma visita a Vênus em outubro, que ajudará a direcionar a órbita da sonda em direção ao Sol. Posteriormente, “iremos encontrar Vênus outras seis vezes durante o período de sete anos da missão, nos permitindo chegar mais e mais perto do Sol, a uma distância de apenas 6,14 milhões de quilômetros da superfície do Sol no ponto de maior aproximação”, diz Fox.
Se você pensar bem, parece um péssimo lugar para ficar. E você tem razão. O veículo espacial possui um escudo térmico especial de aproximadamente 11,4 centímetros de espessura que irá proteger os quatro conjuntos de instrumentos embarcados do intenso calor do Sol. Feito de compostos de carbono, o escudo é como um sanduíche e incorpora espuma, malha e placas de material.
“A maior parte dos instrumentos fica na parte principal do veículo e está bem protegida pelo escudo térmico”, explica Fox.
Entretanto, alguns instrumentos não ficarão cobertos pelo escudo que pesa cerca de 72,5 kg, pois têm como objetivo coletar dados cruciais sobre campos magnéticos, radiação, partículas e energia.
Se tudo correr bem, a missão acontecerá por pelo menos sete anos. Quando for o momento de se despedir da Sonda Parker Solar, os gerentes da missão permitirão que a espaçonave desapareça.
“Quando o combustível acabar”, diz Fox, “o veículo espacial começará a virar e, nesse ponto, partes não projetadas para observar todo o ambiente solar derreterão”. À medida que a espaçonave reduz, suas partes e peças se tornaram parte do sol.