Estes são os vulcões mais perigosos dos Estados Unidos, afirmam cientistas
A classificação do governo é atualizada pela primeira vez desde 2005 e são considerados diversos fatores para determinar os possíveis impactos caso ocorram erupções no futuro.
Após sua recente explosão de lava, talvez não seja tão surpreendente assim o fato de o Kīlauea no Havaí ser considerado o vulcão mais perigoso dos Estados Unidos, de acordo com a recém-publicada classificação da agência de Pesquisa Geológica do Governo dos EUA (U.S. Geological Survey - USGS, em inglês). O Monte St. Helens e o Monte Rainier, em Washington, ocupam o segundo e terceiro lugares.
O novo estudo que avalia a ameaça dos vulcões é uma atualização do relatório de 2005 e determinou os principais riscos com base no potencial de erupção e impacto aos humanos. Para deixar bem claro, o relatório não lista os vulcões com mais probabilidade de entrarem em erupção—trata-se apenas de uma classificação da "possível gravidade dos impactos" em caso de erupções no futuro.
"A ameaça articulada no relatório é a mesma existente há uma semana", diz Ben Andrews, diretor do Programa Global de Vulcanismo do Instituto Smithsoniano. "O que pode ter mudado é que ela foi descrita de uma forma um pouco melhor".
Essas classificações fornecem informações cruciais para que a USGS e outras organizações possam determinar quais vulcões merecem maior atenção para pesquisas, monitoramento, planejamento de emergência e destinação de recursos. Com isso, esses grupos conseguem ajudar as comunidades locais a enfrentarem futuras erupções de forma mais eficaz.
"É muito importante", diz Janine Krippner, vulcanóloga da Universidade de Concord, sobre o relatório. Os recursos destinados ao estudo dos vulcões são limitados, observa ela. Desta forma, a classificação ajuda cientistas e oficiais do governo a se concentrarem nos principais perigos, na tentativa de evitar desastres.
"Vulcões tendem a emitir alertas antes de entrarem em erupção", diz Krippner. "Porém, se não estivermos prestando atenção, esses alertas passam despercebidos".
Qual é o nível de atividade vulcânica dos Estados Unidos?
Os Estados Unidos são um dos países com maior atividade vulcânica do mundo, com mais de 10 por cento dos vulcões ativos ou potencialmente ativos do planeta. O último relatório identifica 161 vulcões dignos de preocupação, estando a maioria concentrada na costa oeste do país, ao longo dos estados da Califórnia, Washington, Oregon e Alaska.
Essa intensa atividade é provocada pela convergência de placas tectônicas, na qual a placa oceânica de maior densidade é empurrada sob a placa continental da América do Norte. Conforme a placa oceânica é afundada em direção ao centro da Terra, as temperaturas e pressões sobem, fazendo com que a água escape. A presença de água reduz o ponto de derretimento das rochas localizadas acima, formando o magma. Se esse material derretido chega à superfície, um vulcão anteriormente inativo pode ganhar vida e entrar em erupção. (Veja o que acontecerá quando as placas tectônicas não existirem mais.)
Contudo, a costa oeste não é o único local do país com potencial para atividade vulcânica. Embora classificados com nível de ameaça bem menor, vulcões no Arizona, Colorado e Utah também compõem a lista.
"A razão pela qual foram incluídos na lista é bastante discutida", diz Adam Kent, vulcanólogo da Universidade do Estado de Oregon, sobre esses vulcões localizados na parte central do país. Eles podem ser ativados por pontos quentes, locais sob os quais se escondem colunas de magma. Esse é o mecanismo por trás da formação da cadeia de ilhas no Havaí. As ilhas surgiram com o avanço da placa tectônica sobre uma grande coluna estacionária. Kent relaciona o processo a uma esteira que se move sobre um maçarico.
Um ponto quente vulcânico também explica a formação da infame Caldeira de Yellowstone, apenas em 21o lugar na nova lista. Embora seu status de supervulcão tenha dado o que falar nos últimos anos, erupções são improváveis no futuro próximo.
"Gostaria de negritar, sublinhar e destacar essa parte: não estamos, de forma alguma, prestes a testemunhar uma erupção em Yellowstone", afirma Andrews.
Como as classificações são feitas?
As classificações atualizadas se baseiam em 15 fatores de risco, incluindo o tipo de vulcão, a frequência conhecida de erupções, a ameaça de causar um tsunami e o potencial de deslizamentos vulcânicos ou lahares. As classificações também consideram nove fatores de exposição. Esses fatores estão relacionados a ameaças às comunidades locais, como fatalidades no passado e densidade populacional nos arredores do vulcão.
Cada vulcão é classificado de acordo com cada um desses fatores, gerando uma pontuação final. A lista final é então dividida em cinco categorias com base no nível de ameaça: muito alto, alto, moderado, baixo e muito baixo. Kent afirma considerar esses agrupamentos maiores mais importantes do que cada número individualmente.
Os riscos apresentados pelos vulcões têm aumentado cada vez mais, afirma Krippner. "Mas isso não acontece porque os vulcões estão mudando", afirma ela. "É porque estamos mais perto deles".
Além de considerar o aumento populacional e a proximidade, o novo relatório dá atenção especial às ameaças à aviação. Atravessar nuvens de cinza vulcânica é extremamente perigoso e pode causar problemas como desintegração do motor, entupimento de filtros de ar e até mesmo pane total.
Desde o relatório de 2005, as estimativas de tráfego aéreo sobre os vulcões do Alaska triplicaram de 20 mil pessoas por dia para cerca de 60 mil pessoas por dia. Essa é uma das razões pela qual a lista inclui cinco dos picos do Alaska entre os 18 vulcões com nível de ameaça "muito alto".
As classificações mudaram?
De forma geral, as novas classificações se assemelham bastante às do relatório de 2005, que também considerava Kīlauea como o mais perigoso. Os mesmos 18 vulcões também permaneceram na categoria de "ameaça muito alta".
"As coisas mudaram um pouco", diz Andrews, mas o fato de não ter havido muitas mudanças é uma notícia boa. "Isso sugere que temos informações importantes sobre quais vulcões são realmente perigosos".
A lista inclui oito vulcões a menos do que no relatório de 2005 após alterações no Programa Global de Vulcanismo do Instituto Smithsoniano. Essa "perda" se deve principalmente a métodos mais precisos na determinação das datas, o que remonta as últimas erupções conhecidas de alguns vulcões a um passado mais distante do que anteriormente se pensava. Se as últimas erupções conhecidas ocorreram há mais de 11.700 anos, o vulcão é considerado inativo.
As novas classificações trouxeram apenas três exceções a essa regra: o supervulcão de Yellowstone em Wyoming, a Caldeira de Valles no estado do Novo México e o vulcão Long Valley na Califórnia. Esses três são particularmente grandes e acredita-se que entrem em atividade em intervalos muito mais longos do que o limite de 11.700 anos, afirma Andrews.
O que isso significa para mim?
"Se você vive em um país que tenha vulcões, assim como em um país que tenha furações ou terremotos, busque informações e esteja preparado", diz Kent da Universidade do Estado de Oregon. Caso esteja em uma região perigosa, ele sugere possuir um kit básico para desastres.
Também é possível buscar informações sobre os perigos e sobre como enfrentá-los, acrescenta Krippner. A USGS possui muitos recursos disponíveis online para ajudar os moradores locais e visitantes a compreenderem os perigos vulcânicos que os cercam.
"Essa é uma ótima oportunidade para lembrar as pessoas que, sim, os Estados Unidos são um dos países com maior atividade vulcânica do mundo; isso precisa ser uma prioridade na distribuição de recursos financeiros e no monitoramento", diz Krippner. "A USGS está fazendo um excelente trabalho para conhecer os perigos existentes e comunicá-los—e todos precisam prestar atenção".
Os 18 vulcões na categoria de "ameaça muito alta" são:
- Kīlauea, Hawaii
- Mount St. Helens, Washington
- Mount Rainier, Washington
- Redoubt Volcano, Alaska
- Mount Shasta, California
- Mount Hood, Oregon
- Three Sisters, Oregon
- Akutan Island, Alaska
- Makushin Volcano, Alaska
- Mount Spurr, Alaska
- Lassen volcanic center, California
- Augustine Volcano, Alaska
- Newberry Volcano, Oregon
- Mount Baker, Washington
- Glacier Peak, Washington
- Mauna Loa, Hawaii
- Crater Lake, Oregon
- Long Valley Caldera, California