Misterioso macaco da Amazônia é visto vivo por cientistas depois de 85 anos

O primata, cujo nome homenageia um grande sambista, foi avistado pela primeira vez na década de 1930.

Por Sarah Gibbens
Publicado 8 de nov. de 2017, 20:35 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Misterioso macaco da Amazônia é visto vivo por cientistas depois de 85 anos
O primata, cujo nome homenageia um grande sambista, foi avistado pela primeira vez na década de 1930.

Se apenas uma pessoa fosse escolhida para encontrar o elusivo macaco de pernas douradas, essa pessoa seria Laura Marsh. Ela é diretora do Global Conservation Institute e uma das maiores especialistas do mundo em parauacus, um gênero de macacos do Novo Mundo encontrado em toda a Amazônia e partes da América do Sul.

Em 2014, Laura identificou cinco novas espécies de parauacus, também conhecidos como “macacos voadores”, vivendo furtivamente na região. Há alguns meses, ela resolveu buscar uma espécie específica: o macaco parauacu de Vanzolini, nomeado em homenagem ao zoólogo – e sambista – Paulo Vanzolini. O bicho não era observado vivo por cientistas há mais de 80 anos.

Para achar o macaco perdido, Laura e uma equipe de cientistas, fotógrafos, conservacionistas e guias locais partiram em uma expedição de quatro meses pela remota e pouco explorada região oeste da Amazônia. Eles zarparam em uma pequena chalana de dois andares em direção ao Rio Eiru, na fronteira entre o Brasil e o Peru.

O macaco é reconhecido pelos braços e pernas dourados e pelo cabelo desgrenhado.
Foto de Christina Selby, bioGraphic

A equipe pretendia documentar e explorar a biodiversidade da região, mas uma tarefa permanecia como prioridade – encontrar o parauacu de Vanzolini. Quando Laura avistou o macaco pela primeira vez, depois de tantos anos à procura, ela chorou.

“Foi fantástico”, disse em uma entrevista por telefone com a National Geographic. “Eu estava tremendo e tão empolgada que mal consegui tirar uma foto.

Laura dedicou anos a pesquisar a estrutura taxonômica do gênero Pithecia de parauacus, mas, até hoje, faltava-lhe evidências fotográficas do macaco, que ela disse ser facilmente distinguível de outras espécies por causa de sua rara aparência física. O primeiro registro dos parauacus de Vanzolini foi em 1936, quando o naturalista equatoriano Alfonso Ollala saiu em missão pela região. Eles foram avistados novamente em 1956 em outra expedição que também coletou espécimes mortos.

A própria região é pobre em estudos. Na Amazônia profunda, pesquisas animais são difíceis e caras.

Autointitulada Houseboat Amazon, a expedição trabalhou extensivamente com os locais para navegar a região e encontrar os primatas. A jornalista Christina Selby acompanhou o grupo e escreveu sobre a viagem na publicação ambiental Mongabay. Foi no quarto dia que o barco, com o motor desligado, deslizou lentamente pelo rio e o macaco, identificado com facilidade, apareceu no meio das árvores.

Os parauacus não têm as caudas preênsis que ajudam os primatas africanos e asiáticos a se movimentarem no dossel da floresta. Laura os descreve como parecidos com gatos, andando sobre galhos finos com as quatro patas. Próximos às comunidades ribeirinhas onde são caçados, eles observam os turistas com cautela e timidez, mas em regiões mais remotas, abordam com curiosidade as pessoas que passam pelo rio.

Quando ameaçados, os machos já foram observados correndo da mãe e dos filhotes na esperança de que predadores o sigam, permitindo que os parentes sobrevivam.

A equipe de pesquisa descobriu que os parauacus de Vanzolini vivem em toda bacia hidrográfica. Eventualmente, Laura vai determinar o status populacional da espécie para a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). A instituição monitora as populações animais e promove a conscientização sobre as ameaças que pairam sobre espécies ameaçadas.

Laura diz que deve recomendar que os parauacus de Vanzolini sejam classificados como ameaçados, mas tudo depende da caça na região. A Equipe Casa Flutuante Amazônica está feliz de ter achado o macaco, ela acrescenta, mas por toda preparação e antecipação, eles ficaram chocados em quão rápido o encontraram.

“No começo, saímos em busca de uma espécie perdida”, diz ela, mas isso se tornou um pedaço menos importante do problema que encontraram ao chegar.

 “Nunca tinha visto gente carregando armas constantemente”, disse Laura. “Pescando e caçando em todo lugar. Aves grandes são raras. Pássaros da floresta não existem. A Amazônia não é homogênea. Nossa pequena área tinha animais especiais e novas espécies.”

As considerações de Laura sobre a região se chocam com uma verdade inconveniente – o desenvolvimento na Amazônia está crescendo com velocidade. Projetos de desenvolvimento e esforços para redistribuir a população e aliviar as pressões nas grandes cidades resultaram em um grande crescimento. Dados do último censo do IBGE, de 2010, revelou que 10 cidades amazônicas duplicaram de tamanho em 10 anos. Apesar do governo ter aplicado medidas para diminuir o desmatamento, a aplicação das leis é um desafio. A Floresta Amazônica detém 10% da biodiversidade do mundo, o que faz dela uma prioridade entre conservacionistas.

As descobertas decorrentes da observação do macaco parauacu de Vanzolini devem ser publicadas no fim do mês no periódico Oryx. A diferença mais notável dessa espécie para outras é sua aparência única, no entanto, mais pesquisas precisam ser feitas para entender melhor as diferenças genéticas entre os parauacus.

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