Polvo asfixia golfinho até a morte em observação inédita

O jovem macho, Gilligan, estava em perfeitas condições, segundo um novo estudo.

Por Joshua Rapp Learn
Publicado 16 de jan. de 2018, 18:09 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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Gilligan foi encontrado na praia Stratham, em Bunbury, Austrália, com tentáculos de polvo ainda saindo pela boca.
Foto de John Symons, Marine Mammal Science

Ninguém nunca disse a Gilligan, o golfinho, que ele não deve por na boca mais do que consegue mastigar.

O óbito do golfinho-nariz-de-garrafa do Indo-Pacífico é o primeiro caso conhecido de um cetáceo que morreu asfixiado por um polvo.

“Parece que ele foi muito guloso e pensou, ‘sabe de uma coisa, vou engolir isso inteiro’”, disse o líder do estudo Nahiid Stephens, patologista da Universidade de Murdoch, em Perth, Austrália.

Quando o jovem macho, encontrado na praia a cerca de 2 horas ao sul de Perth, foi trazido para o laboratório de Stephen para uma autópsia em agosto de 2015, partes de um polvo da espécie Macroctopus maorum ainda escorriam de sua boca.

Outros golfinhos já foram observados matando e comendo polvos, então Stephens conduziu a autópsia para descobrir o que tinha dado errado – especialmente porque o animal, batizado de Gilligan, estava em condições excelentes. Antes, ele teve que remover os restos do cefalópode.

“Era um polvo enorme, continuei puxando e puxando e pensei: Meu Deus! Ainda tem mais”, disse Stephens. No fim, os tentáculos foram medidos em 1,2 metros.

A autópsia, descrita em um estudo recente publicado no periódico científico Marine Mammal Science, revelou que o problema surgiu enquanto Gilligan engolia o que seria sua última refeição.

Golfinhos podem mover a epiglote – um pedaço de tecido que conecta a laringe ao espiráculo – para abrir a garganta e engolir pedaços maiores de comida.

Stephens disse que o cefalópode de 2 kg parece ter se agarrado à laringe de Gilligan com um tentáculo, impedindo que o golfinho a reconectasse com o sistema respiratório e o sufocando até a morte.

Foto da autopsia revela o polvo agarrado à laringe do golfinho.
Foto de Dr Nahiid Stephens, Marine Mammal Science

“O polvo poderia estar, em teoria, morto, mas as ventosas ainda estavam em pleno funcionamento”, disse Stephens, acrescentando que, apesar de ninguém sair ganhando nessa situação, “o polvo teve um urro final”.

Brincando com a comida

Kate Sprogis, pesquisadora da Universidade de Murdoch, disse que um polvo “não é uma presa fácil de se engolir.”

Quando estudava uma população de golfinhos próxima a Bunbury, onde Gilligan morreu, Sprogis observou que os golfinhos jogavam os polvos para cima a fim de amolecer os invertebrados – quebrando-os em pedaços menores e mais digeríveis.

O cetáceo vai muitas vezes à superfície e joga o polvo no ar – um espetáculo, de acordo com Sprogis, que não estava envolvida no novo estudo.

“É algo que demanda muita energia dos golfinhos”, ela disse. “Os cefalópodes tentam se agarrar à cabeça dos golfinhos e o enorme esforço por parte dos cetáceos nos faz acreditar que os polvos são altamente nutritivos.”

Depois de jogar a presa para lá e para cá, o golfinho normalmente arranca a cabeça do polvo com uma mordida – mas a batalha não acaba aí, afinal, os tentáculos continuam ativos por algum tempo.

Quanto a Gilligan, “ele certamente não jogou o polvo para cima o suficiente, deu uma de arrogante e engoliu o animal inteiro”, disse Sprogis.

Lições da tragédia

Apesar da morte de Gilligan ser inédita para os cientistas, ela provavelmente acontece com mais frequência na natureza.

Histórias de antigos marinheiros dão conta de batalhas entre cachalotes e krakens – lendários monstros marinhos. Mas talvez tratava-se apenas de duelos entre polvos gigantes e cachalotes, segundo Stephens.

A situação de Gilligan é “uma maneira interessante de mostrar as coisas que acontecem no nosso quintal que não são do nosso conhecimento”, ela disse.

Não só isso, mas a má sorte do golfinho ajuda cientistas a compreender melhor os animais e sua biologia. Como um jovem macho saudável, Gilligan também é um bom contraponto aos inúmeros espécimes doentes e velhos que os patologistas normalmente encontram.

“Essas oportunidades não aparecem com frequência”, disse Stephens, “por isso, quanto mais conseguimos visualizar esses indivíduos depois do evento infeliz e trágico que é a morte, melhor”.

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