Nova espécie de animal "indestrutível" encontrada em lugar surpreendente
Descoberta em um estacionamento no Japão, a espécie de tardígrado pode oferecer pistas de como o animal mudou com o tempo.
Tardígrados são organismos resistentes e microscópicos que talvez possam sobreviver ao sol – e o que conhecemos de seu mundo acabou de ficar um pouco maior.
Kazuharu Arakawa, um pesquisador na Universidade de Keio, em Tóquio, coletou um espécime de tardígrado enquanto coletava amostras no estacionamento do prédio onde mora em Tsuruoka, no Japão. Ele colheu um tufo de musgo que crescia no concreto e o levou para testes em seu laboratório. Após encontrar o micro animal e analisar o seu DNA, Arakawa e seus colegas poloneses reproduziram o pequeno tardígrado. O que diferencia essa espécie — chamada Macrobiotus shonaicus — das outras são suas pernas grossas e ovos rugosos.
Um estudo com as descobertas foi publicado na quarta-feira na revista PLoS One.
Não mexa com o urso d’água
Os tardígrados foram descobertos em 1773 por um zoólogo alemão, mas não foram totalmente caracterizados até alguns anos atrás. Também chamados de “ursos d’água” e “porquinhos do musgo”, são organismos roliços e de várias pernas que podem ser vistos pelo microscópio. Eles possuem olhos primitivos, medem aproximadamente 0,5 milímetros e já foram encontrados em praticamente todos os ecossistemas da Terra, desde a escuridão do fundo do mar às cálidas florestas tropicais.
Embora passem suas vidas percorrendo paisagens de musgo, líquens ou folhas mortas, os tardígrados são de fato as criaturas mais resistentes conhecidas pela ciência. Podendo viver décadas, tardígrados fossilizados que viveram há mais de 500 milhões de anos também já foram encontrados.
Cientistas vêm testando os tardígrados há anos, aquecendo-os a 150ºC e congelando-os a -200ºC. Eles também já enviaram os ursos d’água ao espaço e os trouxeram de volta. Nestas condições extremas, os animais entram em um processo de hibernação conhecido como criobiologia, em que eles encolhem-se em uma bola compacta e seca e permanecem dormentes por um período indefinido de tempo. Alguns anos atrás, um tardígrado descongelado sobreviveu após permanecer congelado por 30 anos. Eles são capazes de suspender seu metabolismo e sobreviver a pressões imensas, além de já terem sido atingidos com raios-x.
“Tardígrados são animais extremamente fortes”, disse Thomas Boothby, pós-doutorando da Universidade da Carolina do Norte, à National Geographic em 2017. “Cientistas ainda estão tentando descobrir como eles conseguem sobreviver a tais situações extremas.”
Essa nova espécie é a 168ª a ser descoberta no Japão. (No mundo, há mais de 1.000 espécies diferentes de tardígrados e aproximadamente 20 novas espécies são encontradas todo ano.) Os órgãos visuais, boca, marcas e formato da perna do M. shonaicus são similares aos encontrados em outros tardígrados, mas essa nova espécie tem mais uma dobra na superfície interior de suas pernas.
Os ovos sólidos e esféricos produzidos pelo M. shonaicus são diferentes, marcados por saliências em formato de cálice e encabeçados por um aro de filamentos fibrosos e flexíveis. Arakawa diz que essas saliências podem ajudar os ovos a aderirem à superfície de onde forem depositados.
M. shonaicus é similar a duas outras espécies conhecidas de tardígrados, uma proveniente da África e outra da América do Sul. Isso significa que a nova espécie pode ser descendente de uma espécie antiga, o que poderia nos dar maiores informações sobre como os tardígrados se diversificaram e se adaptaram ao longo do tempo.
Porquinho do musgo
A habilidade dos tardígrados de aguentarem temperaturas congelantes pode ajudar os cientistas a criarem vacinas liofilizadas. Esses materiais podem ser armazenados em temperaturas mais altas que as vacinas convencionais e precisam apenas de água adicionada antes de serem utilizadas. A resistência à desidratação dos ursos d’água poderia ajudar esclarecer aos cientistas como preservar material biológico, como células, colheitas e carnes.
“Tardígrados são o mais próximo a algo indestrutível que temos na Terra,” disse Rafael Alves Batista, pesquisador de ursos d’água na Universidade de Oxford, à National Geographic ano passado. “Mas é possível que haja outros exemplos de espécies resistentes em outros lugares do universo.”