Mães píton cuidam dos filhotes – e surpreendem até especialistas

Um novo estudo da África do Sul observou cobras selvagens protegendo e confortando seus filhotes semanas após eles terem saído dos ovos.

Por Joshua Rapp Learn
Publicado 21 de mar. de 2018, 17:53 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Pítons também amam: estudo com câmeras mostra que a espécie cuida da cria por até duas semanas
Já era sabido que víboras cuidam das crias, mas, pela primeira vez, serpentes ovíporas são vistas cuidando dos filhotes.

Com comprimentos que podem chegar até 5 metros, as pítons-sul-africanas de sangue frio não são o tipo de mãe que você provocaria.  

As fossetas labiais sensíveis ao calor capazes de detectar sangue quente para petiscar podem não suscitar instintos maternos, mas um novo estudo revelou que a espécie coloca e cuida dos ovos e dos bebês píton por cerca de duas semanas antes de largá-los no implacável mundo selvagem.

“Nossas pítons estão ficando com os ovos. Os ovos eclodem, então a mãe e os bebês têm essa interação durante as duas primeiras semanas depois do nascimento”, disse Graham Alexander, doutor em répteis pela Universidade Wits, na África do Sul, e autor de um estudo publicado recentemente no periódico Zoology Journal.

Alexander estudou as cobras usando transmissores de rádio e instalando câmeras em seus ninhos de ovos subterrâneos durante sete anos na Reserva Dinokeng, ao norte de Pretória. Enquanto víboras com filhotes vivos já foram observadas demonstrando comportamento maternal, a nova descoberta é o primeiro exemplo de cobras ovíparas cuidando de seus filhotes depois dos ovos eclodirem.

A píton-sul-africana é uma das metades da espécie antes conhecida como píton-africana e depois separada em espécies do norte e do sul em 1999, explicou Alexander. As sul-africanas são um pouco menores, medindo quase 5 metros e pesando até 60 quilos. As adultas podem viver até 30 anos e normalmente conseguem abater antílopes como cabritos-cinzentos e impalas.

Creche de sangue frio

As pítons do sul botam ninhadas de ovos que eclodem cerca de 40 ou 50 bebês carentes, normalmente em tocas subterrâneas e escuras. Depois que nascem, os filhotes são geralmente tímidos, colocando a cabeça para fora, mas ainda mantendo o corpo dentro do ovo por até dois dias enquanto a mãe ainda se enrola ao redor deles.

Alexander acredita que elas fazem isso para proteger as crias. Quando ele se aproxima de mães na natureza, elas são muito mais ariscas do que você imagina para um predador tão grande.

“Ela simplesmente fecha a toca”, ele disse, explicando que mães ocasionalmente demonstram comportamento agressivo quando um estranho entra no ninho.

Pode ser também por conta do desenvolvimento dos filhotes. Os recém-nascidos são engordurados devido ao resto de gema do ovo não digerida. Alexander acredita que isso é um dos motivos para a mãe ficar por perto – os bebês não se mexem muito bem e consequentemente estão mais vulneráveis a predadores nessa fase da vida. As mães garantem proteção aos filhotes e também os aquecem para ajudá-los a digerir a gema do ovo até terem mobilidade suficiente para encontrar comida – normalmente camundongos, ratos e pequenos pássaros.

De volta ao preto

Alexander disse que observou mais uma coisa inédita na espécie. Fêmeas em estado reprodutivo mudam de cor. A camuflagem normal manchada de verde-oliva, amarelo e marrom fica totalmente preta. Essa mudança faz com que elas pareçam “um grande tronco caído na natureza.”

Ele acredita que a cor preta ajuda as mães de sangue frio a absorverem mais luz solar enquanto relaxam ao sol, o que elas podem subsequentemente transferir aos ovos ou às cobrinhas recém-nascidas dentro da toca.

“Eu até vi algumas alcançarem temperaturas de 40ºC, mais quentes que um mamífero”, ele disse.

A criação de 40 a 50 bebês píton não é trabalho fácil para as mamães, que só procriam uma vez a cada três anos. “Elas demoram um bom tempo para se recuperarem depois de terem filhotes”, explicou Alexander.

Rockwell Parker, professor assistente de biologia da Universidade James Madison, na Virgínia, achou o estudo fascinante.

“Isso torna as cobras muito mais interessantes do que as pessoas normalmente as consideram”, disse.

Criadores de répteis já tinham percebido que mamães píton mimam seus filhos em cativeiros, mas Parker diz que esse estudo é parte de um “despertar” por parte dos biólogos.

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    O fator climático

    Outro fator que pode ser considerado sobre o comportamento materno das pítons é que o local que Alexander pesquisou fica no limite de alcance das pítons, devido ao clima mais frio um pouco mais ao sul. Enquanto cobras adultas conseguem suportar temperaturas mais frias, Alexander diz que o fator limitante são as mães. Abaixo de 28ºC, ovos de píton não chocam ou chocam deformados.

    Alexander também pesquisa como a mudança de clima vai afetar essa faixa da população no futuro, e ele não tem certeza se o comportamento maternal represente uma adaptação das pítons sul-africanas para lidar com temperaturas frias no limite de suas condições ou se a espécie inteira (e possivelmente suas primas do norte) carregam esse instinto materno.

    Ele diz que essa descoberta pode ajudar cientistas a entender melhor o caminho evolucionário que levou ao cuidado materno em vários animais.

    “Se voltarmos 20 anos, quando alguém sugeria que cobras tinham qualquer tipo de cuidado materno, essa pessoa seria ridicularizada”, ele conta.

    Mas a tolerância de uma mamãe píton com seus filhos não dura muito. Cerca de duas semanas depois, elas dispensam as crias permanentemente e vão embora, provavelmente buscando algo para comer.

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