Você sabe qual é o auge da fofura canina?
Os filhotinhos atingem esse grau entre seis e oito semanas de idade, diz estudo. Dado pode dar algumas pistas sobre a evolução dos cães.
Existem aproximadamente um bilhão de cachorros no mundo. Embora eles convivam com os humanos há dezenas de milhares de anos, especialistas dizem que 85% dos cães são selvagens. Perambulando pelas cidades e vilas, eles não são animais domesticados, mas mesmo assim dividem o mesmo ambiente que os humanos.
Quando os filhotes têm por volta de dois e três meses de idade, são abandonados por suas mães por inúmeros motivos. Sem ninguém para tomar conta deles, a mortalidade infantil é de 90%. Apenas 10% desses filhotes sobrevivem.
Como eles poderiam sobreviver sem a presença da mãe? A ciência diz que se eles forem muito fofos, podem persuadir os humanos a cuidarem deles. Um novo estudo publicado no periódico Anthrozoös detalha essas descobertas, o que poderia dar pistas de como os cachorros evoluíram ao lado dos humanos.
Filhote perfeito
Segundo o estudo, os pesquisadores Clive Wynne, da Universidade do Estado do Arizona, Nadine Chersini, da Universidade de Utrecht, e Nathan Hall, da Universidade de Tecnologia do Texas, mostraram a 51 estudantes fotos de filhotes em diferentes idades e pediram que dessem notas para os que mais lhe chamassem a atenção. A idade variava do nascimento a sete meses, e abrangiam três raças bem populares, Jack Russel, cane corso, e pastor branco.
Os participantes deveriam julgar pelos mais “atraentes” e não pela “fofura”, pois “queríamos que fossem neutros”, Wynne disse à National Geographic. “Não queríamos empurrá-los para as características mais infantis”.
Os pesquisadores acreditavam que as pessoas iriam gostar mais dos filhotes entre dois e três meses. É a idade do desmame, época em que são abandonados por suas mães e precisam de alguém para cuidar deles. Eles estavam certos. (Leia: “Por que os cachorros são tão amigáveis? A ciência finalmente tem uma resposta”)
Apesar de terem idades diferentes, todos foram classificados como “adorável” entre seis e oito semanas de vida. O auge dos Jack Russel foi com 7,7 semanas; cane corsos, com 6,3 semanas; e os pastores brancos, com 8,3 semanas. Todas as três raças atingiram o limite quando chegaram a 30 semanas, mas não está claro o porquê.
Harold Herzog, especialista em interações humano-animais na Universidade de Western Carolina, escreveu sobre o estudo em seu blog, e o considerou “brilhante”, porém passível de ajustes.
“Acho que seria ótimo para o estudo se eles replicassem fotos dos mesmos cachorros conforme fossem envelhecendo”, diz Herzog. Seu palpite é que repetir as fotos corroboraria os resultados. Wynne diz que algumas fotos são dos mesmos cachorros em idades diferentes, mas a maioria é de outros cachorros.
Herzog acrescenta ainda que o estudo poderia incluir lobos. Ao contrário dos cães, os lobos ficam com seus filhotes até os dois anos, o que não daria a espécie a “mesma trajetória da fofura”.
Wynne diz que no futuro os pesquisadores podem incluir vídeos de 20 a 30 segundos dos filhotes e ver se há algo em seus movimentos que atrai as pessoas. O estudo foi inspirado por uma viagem que Wynne fez às Bahamas, onde há muitos cães de rua.
“Se isso significa alguma coisa na vida dos cachorros e das pessoas, então seria o movimento do animal que elas veriam”, observa Wynne.
É um mundo do cão
Já que os filhotes recém abandonados competem uns com os outros pela atenção humana, a evolução diz que eles devem ser o mais adorável possível entre seis e onze semanas de vida. É a época em que são desmamados e então abandonados por suas mães. (Leia: “Cães terapeutas fazem milagres. Mas será que gostam do trabalho?")
“O que Clive [Wynne] argumenta é que a não ser que você seja muito fofo, você irá morrer” explica Herzog.
Há algumas características que atraem mais os humanos: olhos grandes, membros flexíveis e instáveis, e um corpo macio e arredondado. Também nos atraímos quando eles têm a cabeça grande em comparação com o resto do corpo, e essa reação tem a ver com a nossa evolução.
Chamada de kinderschema, essas características também estão presentes no bebê humano e são essenciais para a sobrevivência. Elas ativam a região do cérebro responsável pela tomada de decisões e o encorajam a proteger e cuidar do bebê. Ao mesmo tempo, a região relacionada ao prazer libera dopamina. Com essas duas reações, seu cérebro faz com que você queira cuidar do bebê e ao mesmo tempo te recompensa por isso. Com a sua proteção, o bebê sobrevive.
Apesar da pesquisa ter sido feita em um laboratório com fotos, e não com cachorros ao vivo, Herzog suspeita que os resultados não teriam sido muito diferentes. Em 1998, pesquisadores da Universidade da Califórnia – Santa Bárbara, Alan Fridlund e Melissa MacDonald andaram pelo campus com um Golden retriever chamado Goldie, para ver que tipo de reação provocaria nos estudantes. Começaram os passeios quando ela tinha 10 semanas de vida e continuaram durante 5 meses. No início, Goldie atraía inúmeros estudantes, mas quando atingiu 33 semanas, sua fofura estacionou e ela recebeu menos atenção.