Por que os cachorros são tão amigáveis? A ciência explica

Nossos caninos de estimação têm alterações nos seus genes que os tornam mais sociáveis que os lobos, diz novo estudo.

Por Carrie Arnold
Publicado 4 de jan. de 2018, 12:42 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT

Para Marla, a sheepdog inglesa de 11 meses da Bridgett von Holdt, o mundo inteiro é um amigo que ela ainda não conheceu.

"Ela é hipersociável. Eu até tive que fazer um exame de genótipo", admite von Holdt.

O interesse de Von Holdt não é mera curiosidade. A biólogo evolutiva de Princeton e alguns colegas passaram os últimos três anos estudando a base genética responsável pelo comportamento social em cães e lobos.

Estudos mostram que os cães são mais sociáveis do que os lobos criados em circunstâncias semelhantes – eles geralmente prestam mais atenção aos seres humanos e seguem nossas diretrizes e comandos de forma mais eficaz.

A experiência de Von Holdt em genética evolutiva fez com que ela se perguntasse sobre a potencial base genética dessas diferenças.

O estudo, publicado no periódico Ciências Avançadas, fornece uma dica interessante: cães hipersociáveis, como a Marla, carregam variantes de dois genes chamados de GTF2I e GTF2IRD1. A exclusão desses genes nas pessoas causa a síndrome de Williams, caracterizada por aparência facial “élfica”, dificuldades cognitivas e tendência a amar todos.

Von Holdt suspeita que as variantes dos genes em cães inibam sua função normal, levando aos mesmos problemas observados em humanos com a síndrome de Williams.

"Nós podemos ter criado uma síndrome comportamental em um animal de companhia", diz ela.

PERGUNTA "SEXY"

Um border collie faz pose para a câmera. Os cachorros domésticos são muito mais propensos a responder aos seres humanos do que os lobos criados em circunstâncias semelhantes.
Foto de Vincent J Musi, National Geographic Creative

Desde que evoluíram de um antepassado comum aos lobos, há pelo menos dez mil anos, os cachorros domésticos nos ajudam a encontrar comida e nos protegem de nos tornarmos comida de outras espécies, ao mesmo tempo em que fornecem uma companhia amigável e uma cauda alegre.

Compreender como nossos melhores amigos, do chihuahua ao mastiff, se tornaram o que hoje são uma questão “sexy", de acordo com Karen Overall, especialista em comportamento canino da Universidade da Pensilvânia que não estava envolvida no novo estudo.

Em 2010, em colaboração com Monique Udell, um behaviorista animal na Universidade Estadual de Oregon, von Holdt procurou os genomas de cães e lobos e identificou alterações no gene WBSCR17 que ocorreram durante a domesticação de cães. Os resultados foram publicados na Nature.

Seu projeto ficou inativo até 2014, quando von Holdt e Udell conseguiram financiamento para criar um novo conjunto de experimentos com 18 cachorros de várias raças – incluindo dachshund, jack russell terrier e bernese – e 10 lobos habituados aos humanos.

Os cientistas treinaram todos os animais para abrir uma caixa que continha um pedaço de salsicha. Então, pediram aos cachorros para abrir a caixa em três situações distintas: com um ser humano familiar presente; com um ser humano desconhecido; e sozinho, sem ninguém.

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    Em todos os três cenários, os lobos superaram os cachorros com larga vantagem. Essa vantagem aumentou ainda mais quando os cachorros tiveram que abrir a caixa na presença de pessoas.

    "Não é que eles não conseguiam resolver o quebra-cabeça, eles estavam mais ocupados em observar o humano", diz von Holdt.

    CACHORROS AINDA EM EVOLUÇÃO

    Para o novo estudo, Von Holdt realizou análises genéticas adicionais da parte do genoma envolvendo o gene WBSCR17 alterado em uma amostra maior de cachorros e lobos.

    Além de confirmar suas descobertas iniciais de que WBSCR17 variou em cachorros e lobos, ela encontrou dois genes próximos, GTF2I e GTF2IRD1, também diferentes.

    A combinação dos dados genéticos e comportamentais mostrou à von Holdt que as mudanças nesta região do genoma ajudaram a transformar lobos em cachorros que amavam os seres humanos.

    Karen Overall, da Universidade da Pensilvânia, observa que a amostragem do estudo era pequena, o que limita a força das descobertas. Mas elogiou a análise genética.

    “Estamos agora selecionando cachorros que são fáceis de lidar, que podem passar longos períodos de tempo em pequenos apartamentos,” observa Overall.

    "Estamos mudando o comportamento de cachorros a cada ano".

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