Conheça o pássaro que canta a mesma música há mil anos

A habilidade do tico-tico-dos-pântanos de repassar a tradição das canções para os mais novos se assemelha a dos humanos.

Por Annie Roth
Publicado 22 de jun. de 2018, 15:28 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Um tico-tico-dos-pântanos macho canta uma antiga melodia.
Um tico-tico-dos-pântanos macho canta uma antiga melodia.
Foto de Robert Lachlan

TODO VERÃO, os assovios melódicos de milhares de tico-ticos-dos-pântanos ecoam pelos brejos de toda a América do Norte. Este pequeno pássaro marrom pode conhecer apenas algumas canções, mas ele as conhece bem. De acordo com um novo estudo, eles não mudam seu repertório há mais de mil anos.

Cientistas encontraram evidências de que o tico-tico-dos-pântanos, Melospiza georgiana, pode estar cantando as mesmas canções há um milênio. O jovem tico-tico imita as músicas cantadas pelos mais velhos tão precisamente que seu repertório musical se manteve quase inalterado durante todo esse tempo. Agora, cientistas sugerem que estes pássaros preservam suas tradições culturais de maneira tão eficiente quanto os humanos, se não mais. A equipe divulgou suas conclusões nesta quarta-feira (22/6), na revista Nature Communications.

“Nós conseguimos determinar que os tico-ticos-dos-pântanos raramente cometem erros enquanto aprendem suas canções. E eles não aprendem as músicas aleatoriamente, eles reproduzem aquelas mais comuns, e não as mais raras”, diz Robert Lachlan, biólogo na Universidade Queen Mary, em Londres, e principal autor do estudo.

Como os seres humanos, os tico-ticos-dos-pântanos bebês aprendem a se comunicar imitando os adultos ao seu redor. E, como crianças que aprendem apenas as músicas de sucesso, estes pássaros não memorizam todas as canções que ouvem. Pelo contrário, eles escolhem aprender as músicas que ouvem com mais frequência, uma estratégia de aprendizagem que os cientistas chamam de “viés do conformismo”, que até recentemente acreditava-se ser exclusiva dos seres humanos.

Entre 2008 e 2009, Lachlan e seus colegas gravaram os chamados melódicos de 615 tico-ticos-dos-pântanos machos em todo o nordeste dos Estados Unidos. Através de software de análise acústica, os pesquisadores dividiram cada canção em conjuntos de notas, ou sílabas, e mediram o grau de diversidade entre as composições.

A análise revelou que apenas 2% dos tico-ticos-dos-pântanos machos fugiam do status quo musical.

Lachlan diz que a combinação do “viés do conformismo” dos pássaros e sua habilidade de imitar tão precisamente os mais velhos permite que eles criem tradições que se manterão inalteradas durante séculos.

“Com esses dois ingredientes combinados, temos tradições que são muito estáveis. As melodias que ouvimos nos pântanos norte-americanos hoje podem já existir há mais de mil anos”, diz Lachlan.

Este estudo está entre os primeiros que analisam a longevidade de tradições musicais de uma espécie de ave, e seus resultados oferecem um parâmetro para que cientistas possam medir o impacto da perda de habitat na evolução cultural dos pássaros.

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    “É muito animador”, diz Andrew Farnsworth, ornitólogo da Universidade Cornell. “Ter esta abordagem e seus resultados como um parâmetro com o qual podemos comparar a realidade mutável da fragmentação e perda do habitat é realmente importante”.

    A introdução de barreiras feitas pelo homem, como cidades, estradas e plantações no habitat dos animais, pode transformar uma população unificada em um conjunto de grupos isolados que raramente interagem. Estudos também mostram que esse tipo de fragmentação pode prejudicar a transmissão de herança cultural entre populações de aves cantoras.

    Farnsworth diz que ele espera que pesquisas futuras “se desenvolvam a partir desta linha de pesquisa”, adicionando que a noção de transmitir tradições culturais é obviamente algo que nós, como seres humanos, prezamos, e observar o potencial para isso em outros organismos é muito legal”.

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