Estariam os lobos de Chernobyl disseminando mutações?

Novo estudo levanta a possibilidade de que lobos de Chernobyl poderiam disseminar mutações causadas pela radiação para outras populações de lobos na Europa.

Por Douglas Main
Publicado 18 de jul. de 2018, 16:11 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Não está claro ainda o quão impactados pela radiação os lobos em Chernobyl estão. Mas suas ...
Não está claro ainda o quão impactados pela radiação os lobos em Chernobyl estão. Mas suas populações estão crescendo e há questões sobre como isso pode influenciar o ambiente ao redor.
Foto de Sérgio Pitamitz, National Geographic Creative

Animais selvagens vivem soltos ao redor da usina nuclear de Chernobyl, no norte da Ucrânia, local do pior acidente nuclear da história, que espalhou radiação por toda a região em 1986.

Estudos apontaram que um número significativo de populações de lobos-cinzentos europeus e vários outros animais vivem na Zona de Exclusão de Chernobyl, uma área de cerca de 2,5 mil km2 de onde as pessoas foram evacuadas e ninguém mais pode viver lá.

Livres dos humanos, os animais não estão a salvo dos efeitos da radiação, um campo de pesquisa muitas vezes controverso. Há ainda muitas questões sobre até que ponto a radiação causa mutações em diversas espécies, e se ela poderia se espalhar para além da Zona de Exclusão.

Longa caminhada

Em um experimento recente, pesquisadores rastrearam 13 lobos através de colares capazes de medir radiação, e descobriram que os animais encontraram mais radiação quando passavam pelas áreas mais contaminadas. Mas uma observação no estudo, publicado no European Journal of Wildlife Research, se destacou: um jovem macho percorreu cerca de 400 km além da região, passando pela Bielorrússia,  Ucrânia e por fim pela Rússia.

Essa é a primeira migração registrada de lobos da Zona de Exclusão de Chernobyl até os seus arredores, diz o líder do estudo Jim Beasley, ecólogo em vida selvagem na Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos.

Jovens machos de lobos são conhecidos por viajarem longas distâncias à procura de companheiras, logo, o fato isolado não é nenhuma surpresa, diz Beasley. Entretanto, nos dá mais evidências de que há grandes populações de animais na região de Chernobyl, ele acrescenta.

“Sabemos que a população de lobos na Zona de Exclusão de Chernobyl é alta”, diz um dos autores Michael Byrne, pesquisador de movimentação de animais e ecologia na Universidade do Missouri. “É esperado que, em uma população de qualquer animal, quando chega a um certo número de indivíduos, os mais jovens se dispersem”.

“Chegou a hora dele sair e explorar o mundo,” brinca Byrne. (Veja fotos de visitas ilegais na Zona Morta de Chernobyl.)

A longa caminhada também levantou questões se esses animais poderiam espalhar mutações para populações de lobos de fora da área, ele acrescenta.

Disseminação de mutações?

Estudos feitos em outros animais – na sua maioria menores, como pássaros, roedores e insetos – indicam que a radiação de Chernobyl é capaz de causar mutações e doenças de saúde, diz Tim Mousseau, biólogo na Universidade da Carolina do Sul, que não estava envolvido no estudo.

Pesquisas realizadas com andorinhas-de-pescoço-vermelho e ratos-do-mato indicam que as mutações podem ser passadas para as gerações seguintes. Esses animais menores também podem espalhar poluentes radioativos no meio ambiente através de suas movimentações, Mousseau relata.

Sem humanos, vida selvagem toma conta dos arredores de Chernobyl
Ausência de humanos fez com que animais e natureza tenham dominado os arredores da região ucraniana que recebeu o acidente nuclear.

Por enquanto, as evidências não são tão claras com os lobos, ele diz. “É possível”, ele acrescenta, embora não haja grandes populações de lobo nos arredores imediatos de Chernobyl. Em outros animais menores da região, a exposição à radiação foi associada a tumores, catarata, cérebros menores e más-formações.

Anders Møller, cientista da universidade de Paris-Sud, argumenta que, sendo essas mutações nocivas, dificilmente um lobo capaz de percorrer essa distância estaria com problemas devido à radiação. Além disso, ele contesta a ideia de que os lobos estão se “proliferando” em Chernobyl, como alguns cientistas sugeriram; ele afirma que os lobos estão desenvolvendo-se também em outras partes da Europa.

Vibração radioativa

Em vez disso, o trabalho de Møller mostra que áreas com altos níveis de radiação têm baixa população de vida selvagem, o que sugere que os animais que vivem nessas regiões possuem problemas genéticos. A paisagem ao redor de Chernobyl é variada; a maior parte permanece intocada, enquanto alguns bolsões ainda possuem altos níveis de radiação.

“Eu poderia ir vendado a uma parte qualquer de Chernobyl e dizer o nível de radiação baseado apenas na quantidade de pássaros na área, por meio da presença ou não de seu canto”, Møller diz. (Relacionado: "Turismo nuclear – um legado surpreendente do desastre de Chernobyl")

O debate leva em consideração até que ponto Chernobyl serve de fonte para as populações animais locais. Byrne e seus colegas acreditam que a região é uma fonte populacional de lobos, o que de fato causaria a disseminação de defeitos genéticos causados por radiação.

Os autores do estudo reforçam que ainda há mais a ser pesquisado para responder todas as questões levantadas.

“Não quero afirmar que os animais de Chernobyl estão contaminando o mundo,” Byrne diz. “Mas se houver qualquer mutação passível de ser transmitida, é algo a ser considerado.”

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