Baleias, orcas e golfinhos choram por seus mortos, assim como nós

Estudo revela que pelo menos sete espécies de mamíferos marinhos já foram vistas próximas ao corpo de amigos ou parentes.

Por Traci Watson
Publicado 2 de ago. de 2018, 15:20 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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Uma orca mãe carrega seu filhote morto. Várias espécies de baleias demonstram sinais de luto.
Foto de Robin W. Baird, Cascadia Research

Há alguns dias, a orca  J35, da costa do estado americano de Washington, deu à luz. Apenas meia hora depois, viu seu filhote morrer. Por pelo menos dois dias seguidos, ela pareceu estar velando seu corpo, empurrando-o pela água. Mais de uma vez, ele escorregou de seu focinho e todas as vezes ela mergulhou para pegá-lo de volta.

“É inacreditavelmente triste”, diz Brad Hanson ao The Seattle Times, biólogo especialista em vida selvagem no Northwest Fisheries Science Center. “Isso mostra os vínculos que esses animais possuem e, como pai, você consegue imaginar os tipos de emoções por quais eles passam quando algo desse tipo acontece”.

Inteligentes e sociáveis, as baleias formam fortes vínculos entre si. Pelo menos sete espécies já foram vistas próximas ao corpo de outra, provavelmente um parente ou parceiro. A explicação mais provável para esse comportamento seria o luto.

“Elas estão velando os corpos”, diz Melissa Reggente, bióloga da Universidade de Milano-Bicocca na Itália e coautora de um estudo de 2016 sobre o assunto. “Elas estão estressadas e sofrendo. Sabem que algo está errado”.

Cientistas encontraram um grande número de espécies, de girafas a chimpanzés, que demonstram comportamento de luto. Os elefantes por exemplo, retornam inúmeras vezes ao corpo de um companheiro.

Essas descobertas alimentam o debate sobre os animais terem emoções – e, se possuem, como essas emoções devem influenciar o modo como os tratamos.

De acordo com Barbara King, professora emérita de antropologia na William & Mary em Williamsburg na Virgínia, e autora do livro How Animals Grieve, o luto animal pode ser definido como um sofrimento emocional associado a uma mudança no comportamento habitual.

Vigilantes

Para o estudo de 2016 com as baleias, Reggente e seus colegas reuniram relatórios, a maioria não publicados, de comportamento de luto em sete espécies de baleias, das cachalotes aos golfinhos-rotadores.

Eles descobriram que as sete espécies foram vistas fazendo companhia a seus mortos em oceanos ao redor do mundo, de acordo com o estudo publicado recentemente no Journal of Mammalogy.

“Descobrimos que é muito comum e que há uma presença global desse tipo de comportamento”, diz Reggente.

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    Cientistas em um barco no Mar Vermelho viram um golfinho-roaz do Indo-Pacífico empurrar o corpo de um golfinho menor pela água.

    Quando os pesquisadores laçaram o animal e começaram a levá-lo para ser enterrado, o adulto nadou com o corpo, as vezes tocando-o, até que a água ficasse rasa demais. Muito tempo depois da carcaça ter sido levada, ele permaneceu na costa.

    Não se sabe qual era o parentesco entre os dois golfinhos, mas é provável que fossem mãe e filho ou um parente próximo, diz Reggente.

    Um comportamento como esse tem um custo alto: uma baleia fazendo vigília é uma baleia que não está comendo nem fazendo alianças com outras.

    Velando entes queridos

    Às vezes os cientistas têm algumas pistas do relacionamento entre o enlutado e o morto.

    Em 2010, uma orca fêmea conhecida como L72 foi vista próxima a ilha de San Juan em Washington carregando um filhote morto em sua boca. Ela mostrava sinais de ter passado por um parto recentemente e os pesquisadores que a viram sabiam que já havia se passado tempo suficiente desde sua última cria, para que ela estivesse pronta para ter outra.

    “Ela estava tentando manter seu filhote na superfície o tempo todo, equilibrando-o em cima de sua cabeça,” diz o coautor do estudo, Robin Baird, do Cascadia Research Collective, em Olympia, Washington, e que testemunhou a cena.

    Uma mãe orca e seus filhos podem passar a vida toda juntos, ele diz. Quando alguém morre, Baird acredita que “os animais passam por um período onde experimentam os mesmos tipos de emoções que eu ou você teríamos quando um ente querido morre”.

    O estudo também possui relatos de baleias carregando os filhotes mortos na boca, empurrando-os pela água e tocando-os com suas barbatanas.

    Em uma ocasião, baleias-pilotos no Oceano Atlântico Norte formaram um círculo ao redor de um adulto e seu filhote morto. Em outro caso, um golfinho no Mar Vermelho empurrou o corpo até um barco. Quando os tripulantes ergueram a carcaça, todo o grupo de golfinhos nas proximidades circulou o barco e foram embora.

    “Não conseguimos explicar por que fizeram isso”, diz Reggente.

    Luto real

    A antropóloga Barbara King concorda que esse comportamento demonstra que as baleias estão velando seus mortos.

    “Com certeza, às vezes podemos ver curiosidade ou exploração ou um comportamento de proteção que não pode simplesmente ser ‘desligado’”, ela diz via e-mail.

    Mas “é inegável que também podemos perceber o luto dos animais na energia em que colocam para carregar ou manter filhotes mortos flutuando, tocar seus corpos repetidamente, ou nadar em grupo ao redor do indivíduo falecido”.

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