Leopardo-negro: raríssimo felino com melanismo confirmado pela primeira vez em 100 anos

Imagens representam a primeira documentação científica dessa criatura na África em quase um século.

Por Jason G. Goldman
Publicado 20 de fev. de 2019, 17:10 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Um leopardo-negro extremamente raro caminha na região de Laikipia Wilderness Camp, região central do Quênia, em ...
Um leopardo-negro extremamente raro caminha na região de Laikipia Wilderness Camp, região central do Quênia, em 2018.
Foto de Will Burrard-Lucas, Camtraptions

Dizem que gatos pretos dão azar, mas quando Nick Pilfold ouviu sobre um que espreitava ao redor da região central do Quênia, soube que se tratava de algo especial.

O biólogo, que reside no Quênia, e sua equipe organizaram um conjunto de armadilhas fotográficas em toda a mata nativa da área de conservação de Loisaba Conservancy, no início de 2018. Não demorou muito até ele conseguir o que procurava: prova irrefutável de um leopardo melanístico super raro.

A jovem fêmea foi avistada acompanhada de um leopardo maior, de coloração normal, supostamente sua mãe. 

O oposto do albinismo, melanismo é o resultado de um gene que causa excesso de pigmento na pele ou pelagem de um animal, de forma que pareça preta. Foram feitos relatos de leopardos melanísticos entrando e saindo do Quênia há décadas, mas a confirmação científica da sua existência continua sendo bastante rara.

Publicado em janeiro na revista científica African Journal of Ecology, essas fotos representam a primeira documentação científica dessa criatura na África em quase um século.

Até 2017, apenas um único avistamento havia sido confirmado—uma fotografia de 1909 registrada em Addis Ababa, Etiópia, mantida na coleção do Museu Nacional de História Natural em Washington, D.C. Seu alcance em grande parte do continente diminuiu em até 66% devido à perda de habitat e uma redução no número de presas.

"Quase todo mundo tem uma história sobre um avistamento, é algo mítico," diz Pilfold, do Instituto de Pesquisa para Conservação Global do Zoológico de San Diego.

"Mesmo ao conversar com pessoas mais velhas, que foram guias no Quênia há muitos anos, quando a caça era legalizada [em 1950 e 1960], todo mundo sabia que leopardos-negros não deviam ser caçados. Se você visse um, você não o levava".

Vida nas sombras

Existem nove subespécies de leopardos que vivem no território entre a África e a Rússia Oriental. E embora 11% dos leopardos vivos hoje sejam considerados melanísticos, diz Pilfold, a maioria deles é encontrada no Sudeste Asiático, onde as florestas tropicais proporcionam abundância de sombra.

Acredita-se que o melanismo proporcione camuflagem adicional nesses habitats, dando vantagem aos predadores quando se trata de caçar, diz Vincent Naude, coordenador do projeto de genética forense de leopardos da organização sem fins lucrativos Panthera, que não fez parte dessa pesquisa.

Mas, no Quênia, leopardos-negros, às vezes chamados de "panteras-negras”—um termo genérico que se refere a qualquer felino com pelagem negra—parecem viver em vegetações de clima semiárido.

"Nossos leopardos vivem em ambientes do tipo savana, então ter esse melanismo extra não proporciona vantagem adaptativa," diz Naude. Ainda assim, considerando o estilo de vida noturno desses animais, um pouco mais de pigmentação certamente não faz mal.

O fato de a jovem fêmea estar acompanhada de sua mãe também sugere que sua coloração única não teve impacto na ligação familiar, observa Pilfold.

Coincidência cômica

Após saber sobre as descobertas de Pilfold, a equipe da área de conservação de Ol Ari Nyiro Conservancy — 48 km a oeste de Loisaba—surgiu com uma imagem de alta qualidade de um segundo leopardo-negro, registrada em maio de 2007.

Como essa foto foi tirada há mais de dez anos, os pesquisadores concluem que deve ser de um animal diferente, sugerindo que panteras-negras são mais prevalentes no Quênia do que em outros países africanos.

Mas panteras-negras africanas ainda são tão raras que os pesquisadores nem mesmo sabem se a mutação genética responsável pela pigmentação escura é a mesma que constitui o melanismo em leopardos do Sudeste Asiático.

Pilfold comenta que é curioso que o país fictício de Wakanda, lar do super-heroi Pantera Negra, seja localizado na África Oriental, bem próximo do Quênia.

"É uma coincidência incrível," diz Pilfold. "O único lugar onde encontramos leopardos-negros é justamente nesse lugar do Universo Marvel."

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