Extremamente rara, zebra ‘loira’ é registrada em habitat natural
De acordo com cientistas, as imagens confirmam que zebras albinas são capazes de sobreviver na natureza.
Em 17 de fevereiro de 2019, próximo a um bebedouro em um tranquilo vale no Parque Nacional de Serengeti, na Tanzânia, o fotógrafo Sergio Pitamitz esperava capturar algumas imagens de zebras migratórias. Conforme dezenas delas se moviam lentamente em direção à clareira, ele avistou um estranho no rebanho: um animal com uma coloração pálida.
"Num primeiro momento, achei que a zebra havia rolado na poeira", diz Pitamitz. Mas, conforme ele observou o animal entrar na água para matar a sede, percebeu que a "poeira" não estava saindo. Animado, disparou fotos com a sua câmera.
É provável que a zebra com pelagem dourada seja parcialmente albina, uma condição raramente observada na espécie, conforme já afirmaram diversos cientistas, incluindo Greg Barsh, geneticista do Instituto HudsonAlpha de Biotecnologia.
Albinismo parcial significa que o animal possui uma quantidade significativamente menor de melanina — um pigmento natural encontrado na pele — comparado às zebras normais. Como resultado, as listras parecem ter uma cor mais clara.
"Não se sabe nada sobre albinismo em zebras", afirma Barsh por e-mail. Os animais são tão raros que sua existência foi somente confirmada em cativeiro, apesar de algumas aparições terem sido relatadas na natureza. Algumas zebras parcialmente albinas vivem em uma reserva particular no Parque Nacional do Monte Quênia. Uma outra zebra, chamada Zoe, nasceu com a condição em um zoológico do Havaí e passou sua vida em um santuário, até morrer em 2017.
Ele afirma que essa zebra albina indica que a variante genética responsável pelo albinismo parcial pode estar distribuída de forma mais difusa do que se pensava anteriormente, tanto no Quênia quanto nas proximidades.
APENAS UM MEMBRO DO GRUPO
As fotografias de Pitamitz “confirmam que os animais com a condição são capazes de sobreviver na natureza [e] são bem aceitos pelas zebras 'normais'”, afirma Barsh.
Ren Larison, biólogo da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, patrocinado pela National Geographic Society, observa que os machos "loiros" da reserva particular do Monte Quênia se comportam "como garanhões com haréns" — o agrupamento padrão que envolve um único macho cercado de várias fêmeas.
E, na natureza, zebras com outras colorações (como zebras malhadas e zebras que parecem ter listras pretas adicionais) também são bem integradas ao rebanho, afirma Barsh. Essas zebras com aparência diferente encostam a cabeça umas nas outras, acasalam e geralmente fazem coisas normais que todas as zebras fazem.
Mas ao passo que a aceitação social não seja um problema, Barsh e Larison afirmam que é possível que zebras selvagens parcialmente albinas enfrentem desafios no que diz respeito à proteção pessoal. Embora ainda não conheçamos bem a função das listras pretas nas zebras (não há nenhuma evidência de que as listras detenham predadores ou sirvam para camuflagem, por exemplo), há fortes evidências de que as listras espantem insetos sugadores de sangue.
Tim Caro, ecologista evolucionário da Universidade de Califórnia, em Davis, que estuda em detalhes a relação entre as listras das zebras e insetos sugadores de sangue, afirma que é possível que listras de cor mais clara não detenham os insetos como as listras pretas normais.
Embora não saibamos ao certo como as listras pretas espantam os insetos, a existência de tão poucas zebras douradas indica que a característica seja, de alguma forma, possivelmente nociva, afirma Caro.
NO ESCURO
Albinismo total ou parcial já foi amplamente estudado em animais domésticos: humanos, camundongos, cavalos e porquinhos-da-índia, por exemplo. Mas o que sabemos sobre albinismo em animais domésticos não nos ajuda a compreender os possíveis efeitos do albinismo na sobrevivência na natureza, afirma Barsh.
É um desafio, diz ele, tentar entender uma anormalidade em um animal do qual mal conseguimos nos aproximar. Embora a população em cativeiro no Quênia seja suficiente para estudos genéticos, os animais são muito ariscos e é difícil coletar amostras de sangue.
Para Sergio Pitamitz, cujas fotos ajudaram a enriquecer o nosso conhecimento sobre albinismo em zebras selvagens, fotografar a zebra dourada foi como ganhar na loteria — pela segunda vez. Há dois anos, ele por acaso fotografou um gato-selvagem negro extremamente raro no Quênia.
"Fotografar animais selvagens é uma questão de paixão [e] paciência", afirma Sergio. "Mas, às vezes, a sorte está do nosso lado!".