Cavalos velozes evoluíram apenas recentemente, indica importante estudo sobre equinos

O maior estudo de genoma não humano já realizado revela surpresas sobre os cavalos domesticados — e também uma advertência.

Por Jason Bittel
Publicado 10 de mai. de 2019, 10:34 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
A procriação de cavalos para que sejam mais velozes (na foto, animais no Oregon) acelerou nos ...
A procriação de cavalos para que sejam mais velozes (na foto, animais no Oregon) acelerou nos últimos 200 anos, revela o novo estudo.
Foto de Konrad Wothe, Minden Pictures/Nat Geo Image Collection

Observe o mundo de hoje e pode parecer que existem mais tipos diferentes de cavalos do que nunca. Do Clydesdale de patas peludas ao Appaloosa malhado e ao Akhal-Teke dourado, há cerca de 600 raças de cavalo.

Contudo, na realidade, existem apenas duas linhagens vivas de cavalos: a do cavalo doméstico e a do cavalo-de-przewalski da Mongólia, ameaçado de extinção. E, devido à intensa procriação feita pelo homem, a diversidade genética do cavalo doméstico está no menor nível de todos os tempos, segundo o maior estudo de genoma não humano já realizado.

Por exemplo, se analisarmos o DNA dos 20 cavalos machos puros-sangues que competiram na corrida Kentucky Derby, nos EUA, no fim de abril, a maioria, se não todos, teria cromossomos Y que poderiam ter origem em um único garanhão nascido no ano de 1700. O nome dele era Darley Arabian e 95% de todos os puros-sangues machos da Terra vêm do pedigree dele.

Aliás, a diversidade do cromossomo Y esteve em declínio para todos os cavalos domésticos mais ou menos pelos últimos mil anos, afirma Ludovic Orlando, arqueólogo molecular do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França e autor principal da nova pesquisa.

Uma câmera remota capta um puro-sangue na corrida Travers Stakes em Saratoga Springs, Nova York.
Foto de Matt Moyer, Nat Geo Image Collection

Essa tendência é notável porque a baixa diversidade leva a defeitos genéticos deletérios. Doenças como a cegueira noturna e miopatia já estão afetando os cavalos, afirmam os especialistas.

Publicado no periódico Cell, o estudo apresenta a história mais detalhada da evolução dos cavalos domesticados já concebida, examinando o DNA de 278 exemplares de cavalos que habitaram a Europa e a Ásia por dezenas de milhares de anos. O estudo mostrou que as pessoas procriavam cavalos selecionando certos traços desde o século 17 a.C., embora a domesticação provavelmente tenha ocorrido muito antes.

A pesquisa teve contribuições de 121 cientistas, incluindo geneticistas, arqueólogos, paleontólogos, estatísticos e cientistas da computação.

“Nesse projeto, tentamos realmente desvendar toda a história genômica da domesticação e cuidados de cavalos nos últimos cinco a seis milênios”, afirma Orlando.

Velozes e furiosos

As velocidades extremas que associamos aos cavalos também podem ser um acréscimo relativamente moderno ao genoma dos cavalos.

Orlando e seus colegas identificaram variantes de genes nos últimos mil anos que permitem que os cavalos disparem por curtas distâncias. “Isso implica que os cavalos mais antigos eram mais bem preparados para ter resistência”, prossegue ele — considere a diferença entre um corredor de maratonas e um atleta que compete em corridas de 100 metros.

Cavalos alertas em um pasto em Belle Fourche, Dakota do Sul. A busca pela origem do primeiro cavalo domesticado prossegue.
Foto de Stephen St. John, Nat Geo Image Collection

A intensificação da velocidade ocorrida há cerca de 200 anos se deve ao fato de que os procriadores utilizaram apenas um pequeno número de garanhões, acrescenta ele. Embora os cavalos sejam mais rápidos, esse fenômeno de procriação altamente seletivo reduziu a diversidade genética entre 14 e 16%, afirma Antoine Fages, líder do estudo, biólogo molecular também do centro de pesquisa francês.

“Nenhum outro evento histórico foi tão marcante na diversidade genética dos cavalos”, conta Fages.

“Renovando muitas ideias”

Outra descoberta fascinante é a identificação de duas linhagens extintas de cavalo anteriormente desconhecidas que viveram de 4 mil a 4,5 mil anos atrás. Uma teria habitado a Península Ibérica na Europa Ocidental, enquanto a outra seria nativa da Sibéria.

“Acreditamos que essas duas linhagens em extremidades bem opostas da Eurásia representem linhagens que se isolaram na época das mudanças climáticas globais, na fase de aquecimento após as eras do gelo anteriores, e se adaptaram localmente a seus ambientes”, afirma Orlando.

Essas descobertas são ainda mais importantes à luz do que elas parecem nos revelar sobre o local e a época em que os cavalos foram domesticados pela primeira vez — um assunto muito debatido.

As evidências genéticas demonstram que a linhagem ibérica desapareceu aproximadamente 2,7 mil anos atrás, provando que a domesticação de cavalos não iniciou no que hoje é a Espanha, como sugere uma teoria popular.

“É importante abandonar esse conceito”, afirma Sandra Olsen, arqueóloga da Universidade do Kansas, que não participou do novo estudo.

Outro candidato provável foi o povoado neolítico, na região do atual Cazaquistão, chamado de botai, lar da mais recente evidência de fóssil de cavalos domesticados. No entanto um estudo publicado por Orlando e colegas em 2018 utilizou a genética para demonstrar que a linhagem dos botais não originou os cavalos domésticos.

“Eu acreditava, com boa fundamentação, que os botais haviam sido o primeiro povo documentado com cavalos domésticos e isso ainda é verdade”, explica Olsen. “No entanto seus cavalos deram origem aos cavalos ‘selvagens’ Przewalski, não às nossas raças modernas.”

Então a pesquisa da origem dos cavalos domesticados prossegue. Orlando afirma que muito mais espécimes ainda estão por ser sequenciadas e a equipe não conseguiu incluir amostras de algumas partes do mundo, como Anatólia, Ucrânia, Grécia e norte da Macedônia.

“Ainda temos trabalho a fazer”, afirma.

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