Esta aranha acelera mais rápido do que um foguete

As aranhas Hyptiotes cavatus armazenam quantidades impressionantes de energia em suas teias, uma habilidade única no reino animal, segundo novo estudo.

Por Kenrick Vezina
Publicado 21 de mai. de 2019, 12:20 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Em uma experiência de laboratório, a Hyptiotes cavatus segura firme a teia, ficando o fio de ...
Em uma experiência de laboratório, a Hyptiotes cavatus segura firme a teia, ficando o fio de fixação à esquerda e o fio da armadilha à direita.
Foto de S.I. Han

Para a maioria das pessoas, uma teia de aranha é uma trama de seda grudenta: uma estratégia de caça passiva, apesar de sua bela construção.

Um tipo de aracnídeo, entretanto, vai mais além com as teias, construindo ferramentas tencionadas com confiança tal qual à de engenheiros medievais. São as aranhas do gênero Hyptiotes, encontradas nos Estados Unidos e em muitas outras partes do mundo.

Após construir uma teia em formato triangular, elas se fixam a um ramo com fios provenientes de seu abdômen e puxam um fio central de fixação, esticando a estrutura cada vez mais.

Elas carregam as teias com energia potencial como a corda de uma balestra, mas usam, como mecanismo de disparo, o corpo que mantém o sistema todo esticado até a hora do ataque.

Uma aranha do gênero Hyptiotes aguarda uma presa em sua teia recém-construída.
Uma aranha do gênero Hyptiotes aguarda uma presa em sua teia recém-construída.
Foto de Stephen Dalton, Nature Picture Library

Quando um inseto cai na teia, a aranha solta o fio de fixação e afrouxa a tensão de seu abdômen, catapultando a teia (e a si mesma) para a frente e capturando o inseto na teia.

O efeito é semelhante ao de armas lançadoras de redes, afirma Daniel Maksuta, aluno de Ph.D. da Universidade de Akron em Ohio e coautor de um novo estudo sobre a aranha. De vez em quando, a aranha até mesmo “recarrega” e “dispara” a teia por algumas vezes para garantir que a presa esteja incapacitada, conta.

Agora, um novo estudo que utiliza câmeras de alta velocidade revelou que essas teias armazenam e liberam uma quantidade impressionante de energia.

Aliás, o arremesso da teia da Hyptiotes cavatus pode alcançar acelerações acima de 770 metros por segundo quadrado, ou aproximadamente 26 vezes a aceleração máxima de um ônibus espacial da Nasa.

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    Os autores alegam que é o único exemplo conhecido no reino animal de amplificação de energia externa — que usa um objeto externo para armazenar e multiplicar a energia a ser liberada toda de uma vez só.

    Aranhas velozes

    Para o novo estudo, Sarah Han, líder do estudo e aluna de Ph.D. da Universidade de Akron, Ohio, e colegas capturaram aranhas Hyptiotes cavatus na natureza e as mantiveram em cativeiro.

    As aranhas fizeram teias exatamente como fariam na natureza e a equipe registrou suas interações com presas.

    As filmagens revelaram que sempre que uma aranha puxa a teia, é como girar uma manivela para enrolar uma catapulta. Um braço só poderia gerar uma determinada força com uma única contração, porém a elasticidade da teia permite que ela armazene a força de várias contrações e solte toda de uma vez só: isso é amplificação de energia.

    A equipe ainda criou modelos de software de teias e fez simulações que compararam uma aranha utilizando a amplificação de energia a partir de sua teia, uma aranha pulando apenas com o poder muscular e uma aranha utilizando energia interna como uma pulga durante um salto.

    De acordo com os modelos gerados, a energia adicional proporcionada pela teia tensionada é o que permite que a aranha capture a presa.

    Essa estratégia ainda por cima é eficaz para as aranhas: em observações de laboratório, aranhas que não soltaram as teias fracassaram na captura das presas 100% do tempo, segundo o estudo publicado em 13 de maio no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences. Por outro lado, os aracnídeos que utilizaram a teia adequadamente tiveram uma taxa de êxito aproximada de 70%.

    Desvendando os mistérios da seda

    Outros invertebrados produzem seda, como larvas de mariposa, mas “não é tão ampla e com tantas utilidades quanto a das aranhas”, explica Paul Selden, paleoaracnólogo da Universidade de Kansas.

    Existem quase tantos usos para a seda quanto existem espécies de aranhas (mais de 45 mil) e, ainda assim, entre as aranhas-boleadeiras lançadoras de fios, as sorrateiras aranhas do gênero Ctenizidae e até mesmo as aranhas filhotes que voam com carga eletrostática, a que se destaca é a Hyptiotes.

    “Não consigo pensar em nenhuma evolução adicional desse sistema de captura nas aranhas, muito menos teias de captura comparáveis em espécies não relacionadas”, afirma Selden.

    Ainda restam várias perguntas intrigantes. Por exemplo, enquanto segura a teia esticada, a H. cavatus parece manter os joelhos dobrados, o que, para a maioria dos animais, seria extremamente cansativo.

    “Como conseguem fazer isso?”, indaga Han. Ela planeja descobrir.

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