Séculos de reprodução seletiva remodelaram o cérebro dos cães domésticos

Ressonância magnética em 33 raças descobriu que a maneira como um cão é reproduzido interfere em sua estrutura cerebral.

Por Liz Langley
Publicado 11 de set. de 2019, 07:15 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Humanos influenciaram a evolução dos cães em diversas maneiras, incluindo como seus cérebros são estruturados.
Humanos influenciaram a evolução dos cães em diversas maneiras, incluindo como seus cérebros são estruturados.
Foto de Robert Clark, Nat Geo Image Collection

Existem centenas de raças de cães no mundo, do pequeno chihuahua até o gigante são bernardo – tudo graças a séculos de reprodução seletiva por humanos. Com uma quantidade tão grande de tamanhos e temperamentos dos caninos, não é surpresa que, no processo, nós tenhamos remodelado seus cérebros, assim como seus corpos.

Novo estudo realizou ressonância magnética em 33 raças e descobriu que a maneira que um cão é criado interfere em sua estrutura cerebral.

Por exemplo, cães reproduzidos para serem pequenos – como o lhasa apso – têm cabeças redondas com cérebros redondos que ocupam a maior parte do seu crânio. Uma raça maior, como o golden retriever, tem uma cabeça longa e estreita, portanto, um cérebro mais alongado que não ocupa todo espaço do crânio.

 “O momento mais impressionante, para mim, foi olhar as imagens”, diz a líder do estudo, Erin E. Hecht, uma neurocientista da evolução na Universidade Harvard. “É muito legal na ciência quando tem um resultado que não precisa fazer cálculos estatísticos para poder dizer que tem alguma coisa acontecendo.”

Esse novo olhar dentro do cérebro dos cães oferece um maior entendimento de como as raças são programadas, que por sua vez ajuda donos de cães em potencial a escolherem a raça certa para sua casa, adiciona Hecht, cujo estudo foi publicado no periódico Neurosci.

Os tipos de cães de acordo com os cérebros

Para o estudo, Hecht e seus colegas recrutaram 62 cães em lares americanos, incluindo raças como beagle, yorkshire terrier, doberman, pinscher, boxer e outras.

Depois de observar as diferenças em tamanho e formato do cérebro, a equipe depois analisou diferenças entre os cérebros, observando como certas regiões variam entre raças com certos traços comportamentais.

Buldogues, por exemplo, foram criados originalmente para lutar com touros, mas depois foram reproduzidos para serem animais carinhosos de família, colocando-os em ambos grupos, “luta esportiva” e “companheirismo”. A equipe de estudo usou o site do American Kennel Club para dados sobre a função original das raças.

Depois, os cientistas mapearam seis redes cerebrais que poderiam discernir o comportamento de um cão, como farejar a caça ou companheirismo.

Por exemplo, na parte do cérebro chamada córtex pré-frontal, uma área associada com tamanho do grupo e interação social teve a mesma variação entre cães criados para pastorear; trabalho policial, militar e guerra; controle de pragas; capturar pássaros; e pesca esportiva.

Faz sentido, pois essas raças cumprem funções que são “cognitivamente complexas e exigentes, então elas exigem maior apoio do córtex pré-frontal”, diz Hecht.

Daniel Horschler, estudante de PhD na Universidade do Arizona, que estuda anatomia cerebral em cães, elogiou a abordagem do estudo.

“Eles não tentaram dividir o cérebro em regiões, o que é uma boa abordagem para mim, pois ainda não sabemos muito sobre como os cérebros dos cães são organizados”, diz Horschler, que não estava envolvido da pesquisa.

Foi inteligente, ele disse, que a equipe tenha notado áreas que os cérebros dos cães tendiam a mudar do mesmo jeito. E depois relacionaram essas mudanças com traços específicos de raças. “Cães são ótimos modelos para esse tipo de coisa e ninguém explorou isso antes.”

Melhor amigo da ciência?

Apesar de cães domésticos já terem sido ignorados por cientistas como “um animal falso”, diz Horschler, e considerados não dignos de investigação científica, eles têm se tornado um objeto de estudo mais comum – em particular como parte do estudo da emoção e cognição. Por exemplo, 20 mil anos de convivência fez de nossos animais de estimação intérpretes afinados da emoção humana – possivelmente mais que outras espécies.

A autora do estudo, Hecht, e seus colegas também fizeram uma análise estatística mostrando que as variações do cérebro ocorreram mais recentemente na árvore genealógica dos cães, e não no passado – levando a crer que “a evolução do cérebro canino ocorreu rapidamente”, diz Hecht.

 “Percebemos como os humanos alteram o mundo ao seu redor”, ela diz. “É de certa forma profundo que nossos cérebros estejam mudando outros cérebros no planeta.”

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