‘Vespas assassinas’ chegaram aos Estados Unidos – o que você precisa saber

A maior vespa do mundo foi vista no estado de Washington, mas não há motivo para pânico – medidas já estão sendo tomadas para impedir sua proliferação.

Por Douglas Main
Publicado 7 de mai. de 2020, 17:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Foto de Atsuo Fujimaru, Minden Pictures

DUAS VESPAS INCOMUNS – de tom laranja e preto e ferrões longos – foram vistas próximo de Blaine, no estado americano de Washington, no fim de 2019. Investigações posteriores revelaram se tratar de vespas-mandarinas, as maiores vespas do mundo com quase cinco centímetros de comprimento.

Os cientistas temem que essas vespas se espalhem por todo o estado de Washington e para outros lugares, representando um perigo para as abelhas dos Estados Unidos – que já estão em declínio – e para os humanos.

Não se sabe como os insetos foram parar nos Estados Unidos. Mas sua chegada serviu como alerta e os insetos começaram a ser divulgados nas redes sociais como “vespas assassinas”. Essas predadoras, nativas do Leste da Ásia e do Japão, são conhecidas por dizimar colônias de abelhas.

Sabe-se que o veneno tóxico liberado por seus ferrões pode matar pessoas em seus habitats naturais: no Japão, uma média de 30 a 50 pessoas por ano morrem após serem picadas por vespas. Em 2013, quando as populações de vespas eram extraordinariamente altas, 42 pessoas morreram em uma única província chinesa após serem picadas. Os incidentes mais graves acontecem quando as pessoas se aproximam ou mexem nas colmeias dos insetos.

Esses insetos “são formidáveis”, diz Chris Looney, entomologista do Departamento de Agricultura do estado de Washington. “Estou muito preocupado.”

Ao mesmo tempo, Looney recomenda uma certa cautela, a começar pelo apelido de “vespa assassina”. Ele nunca tinha ouvido essa expressão até que a imprensa recentemente começou a divulgar o inseto dessa forma – e ele não gostou disso.

“Eu me preocupo que o medo que as pessoas já sentem de insetos seja algo infundado”, diz Looney. Mas ele admite haver um lado positivo nesse rótulo aterrorizante: “Parece ter chamado a atenção das pessoas. Só espero que as matérias sensacionalistas sobre a 'vespa assassina' nos ajudem a entender um pouco mais sobre os nossos ecossistemas”.

Comedoras vorazes

Até o momento, os pesquisadores não sabem como as vespas chegaram. Looney diz que a hipótese mais provável é que elas tenham ficado presas acidentalmente em contêineres vindos de países de onde são nativas.

Uma colmeia inteira do inseto foi encontrada e destruída no final de 2019 nas proximidades de Nanaimo, no Canadá. Mas testes genéticos sugerem que essas vespas gigantes tenham sido introduzidas em momentos diferentes.

As vespas-mandarinas do Japão e do Leste da Ásia já se estabeleceram como espécies invasoras em outros países, como na Coreia do Sul. Essas vespas sociais formam colônias compostas por uma rainha e diversas operárias, que podem voar cerca de nove quilômetros ou mais a partir da colmeia em busca de alimento. Elas se alimentam de diversos tipos de insetos, mas parecem preferir as abelhas.

Ao encontrar as presas, o ataque começa com uma “etapa de abate”, na qual elas utilizam suas grandes mandíbulas para arrancar a cabeça das abelhas, explica Looney. Em 90 minutos, um pequeno grupo de vespas-mandarinas pode destruir uma colônia inteira de operárias dessa maneira, diz ele.

Então, as vespas começam a se alimentar. Elas ocupam o ninho das abelhas por até uma semana ou mais, alimentando-se de pupas e larvas. Em seguida, alimentam seus próprios filhotes com os insetos.

Clube da Luta Animal: Ataque das Abelhas Japonesas
Embora sejam pequenas, quando reunidas, as abelhas japonesas podem matar uma gigante vespa apenas com o bater de suas asas. Depois do serviço feito, elas se certificam de limpar qualquer vestigio da inimiga para que ninguém de sua família venha atrás delas.

As abelhas-europeias (Apis mellifera), as polinizadoras comerciais mais conhecidas, não possuem defesa conhecida contra as vespas-mandarinas. Embora já se tenha observado abelhas picando possíveis invasoras, parece que a estratégia não surte efeito sobre essas vespas.

Por outro lado, as abelhas-japonesas (Apis cerana japonica), que evoluíram em conjunto com as vespas-mandarinas, encontraram uma maneira de se proteger. Elas formam um enxame em volta das invasoras e batem suas asas até que a “massa de abelhas” atinja temperaturas acima de 46ºC, assim as abelhas cozinham as vespas até a morte e as sufocam com dióxido de carbono.

As vespas-mandarinas também podem ser fatais para espécies polinizadoras como as abelhas nativas, sendo que muitas delas já competem com outros animais exóticos, diz Looney.

Jun-ichi Takahashi, pesquisador e especialista em vespas da Universidade Kyoto Sangyo, no Japão, concorda que os danos que as vespas causam ao meio ambiente podem ser expressivos em qualquer lugar onde se propagam — e apoia as medidas de controle da população.

Entrevistado por e-mail, Takahashi disse que o rótulo de vespa assassina é apropriado porque a espécie é tão perigosa quanto as abelhas assassinas, apelido dado às abelhas-africanas. A espécie invasora de abelhas chegou ao Texas em 1990, colonizou partes do sul dos Estados Unidos e ocasionou a morte de diversas pessoas.

Takahashi acredita que “os norte-americanos não compreendam completamente a agressividade e a toxicidade dessa espécie de vespa.”

Interrompendo a proliferação

Se as vespas não forem removidas nos próximos anos, poderá ser tarde demais para interromper sua proliferação nos Estados Unidos, explica Looney.

Até agora, ocorreram apenas dois avistamentos de vespas-mandarinas próximo de Blaine, sugerindo que provavelmente exista uma colônia nas proximidades. No inverno, os ninhos ficam adormecidos e, se as rainhas acasalaram, elas se dispersam e formam novas colmeias. Atualmente, Looney e outros pesquisadores estão criando iscas para tentar capturar as rainhas que surgem.

Nos próximos meses, pesquisadores colocarão centenas de armadilhas para continuar a busca por rainhas e operárias, que podem surgir no verão se novas colônias tiverem sido formadas. Colares radiotransmissores podem ser colocados para rastrear as vespas que voltam aos seus ninhos e posteriormente destruí-las, diz Looney.

Como as vespas formam colmeias subterrâneas que geram calor, Looney e seus colegas também estão testando tecnologias com imagens térmicas para ajudá-los na busca pelas colmeias.

Ainda assim, “vai ser difícil” acabar com as vespas, diz Looney. “Mas sim, temos uma chance.”

Identifique suas vespas

Os ferrões das vespas-mandarinas têm cerca de seis milímetros de comprimento e a picada pode perfurar as roupas de proteção utilizadas pelos apicultores. Pesquisas mostram que, mesmo em pessoas que não são alérgicas, cerca de 50 picadas podem levar à morte devido aos danos causados nos rins.

Desde que as vespas viraram notícia nos Estados Unidos, Looney recebe uma enxurrada de e-mails de americanos preocupados dizendo terem visto o inseto. Em resposta, ele enfatiza que apenas dois avistamentos da vespa-mandarina foram confirmados nos Estados Unidos – e quem acredita ter visto o inseto no leste do hemisfério norte, provavelmente o confundiu com a vespa-europeia (Vespa crabro), que é parecida, mas menos agressiva e perigosa.

“Se as pessoas do leste do Mississippi avistarem algo do tipo, não devem supor ser uma vespa-mandarina”, diz ele. “É muito provável que não seja.”

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