Gigantes vermes predadores vivem sob o solo marinho há mais de 20 milhões de anos, revelam fósseis

Tocas preservadas encontradas em rochas antigas sugerem que os vermes anelídeos Eunice aphroditois emboscam peixes no fundo do mar há muito tempo.

Por Riley Black
Publicado 21 de jan. de 2021, 13:47 BRT

O verme anelídeo Eunice aphroditois pode atingir 3 metros de comprimento. Este foi fotografado no estreito de Lembeh, na Indonésia.

Foto de Ryan Rossotto, Nat Geo Image Collection

Escondidos embaixo do solo marinho, próximos de recifes de corais, vermes aquáticos gigantes esperam peixes desavisados se aproximarem para abocanhá-los com suas ágeis mandíbulas e levá-los para dentro de suas tocas. Esses ataques rápidos renderam aos vermes Eunice aphroditois, descritos cientificamente pela primeira vez em 1788, a fama de temidos predadores do fundo do mar.

Agora, tocas fossilizadas recém-descobertas e detalhadas no periódico Scientific Reports indicam que esses vermes anelídeos vorazes têm atacado peixes insuspeitos há mais de 20 milhões de anos no que é hoje o norte de Taiwan.

Descobertas no Yehliu Geopark no promontório Badouzi, as tocas são vestígios fósseis – marcas preservadas deixadas por atividades de antigos animais. Vestígios fósseis são valiosos porque podem conter pistas sobre o comportamento de criaturas. Neste caso, os tubos pré-históricos, cada um com mais quase dois metros de comprimento e cerca de 2,5 cm de diâmetro, são vestígios fósseis provavelmente deixados por bichos que viveram na era cenozoica, quando essa parte do mundo estava sob o Oceano.

Apesar de serem conhecidos pelos cientistas desde o fim do século 18, pesquisadores começaram a estudar os Eunice aphroditois em detalhe apenas recentemente. Os fósseis recém-descobertos indicam que esses anelídeos predadores são parte de ecossistemas oceânicos há tempos incontáveis, o que só reforça as vantagens evolutivas de suas técnicas de caça.

Modelo 3D mostra o comportamento alimentar de um Eunice aphroditois e a forma proposta dos vestígios fósseis, batizados de Pennichus formosae. Esses vermes esperam dentro de suas tocas em formato de L e usam suas poderosas mandíbulas para capturar peixes que se aproximam.

Foto de Ilustração cortesia de Ludvig Löwemark

Tocas deixadas na rocha

O verme anelídeo Eunice aphroditois pertence à classe poliqueta, a mesma dos vermes que fazem pequenas bolhas na areia quando a maré recua. Mas os Eunice aphroditois podem atingir tamanhos muito maiores do que qualquer coisa que você já viu na praia.

Esses predadores de emboscada variam de poucos centímetros a até três metros de comprimento – e são extremamente sorrateiros. Em 2009, funcionários do aquário Blue Reef, na Inglaterra, ficaram sem saber por que peixes estavam desaparecendo – até descobrirem um enorme Eunice aphroditois, apelidado de Barry, escondido entre os buracos do ambiente de recife.

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    Em 2013, o biólogo Masakazu Nara, da Universidade de Kochi, buscava por vestígios fósseis de como raias se alimentavam em rochas de 20 milhões de anos quando notou uma série de tocas estranhas. Primeiro, parecia que as tocas em formato de L tinham sido feitas por antigos camarões, diz o paleontólogo da Universidade Nacional de Taiwan e coautor do estudo Ludvig Löwemark. Muitos bichos se entocam no solo arenoso marinho, por isso os fósseis não pareciam muito extraordinários.

    Cientistas praticamente não tocaram no fóssil novamente até 2017, quando uma conferência internacional de especialistas em vestígios fósseis permitiu que Löwemark compartilhasse observações com seus colegas. As tocas eram diferentes de qualquer coisa já vista em registros fósseis. “O fato de ninguém ter visto nada parecido nos convenceu de que esse era um novo tipo de vestígio fóssil”, diz Löwemark.

    Mas, para determinar com exatidão quem cavou as tocas, os pesquisadores precisavam trabalhar mais. “Não foi apenas uma característica que nos convenceu que essa toca foi feita por um verme”, diz Löwemark, “mas uma combinação de características.” O topo da toca parecia ter colapsado e deixado impressões em formato de penas na rocha, sugerindo que elas eram usadas repetidas vezes por um animal se movendo para dentro e para fora. “Os funis indicam um evento violento”, completa Löwemark, como um verme explodindo de dentro da toca em vez de um molusco se arrastando para fora da areia.

    A parte de cima da toca fossilizada encontrada em Taiwan tem um formato de pena, semelhante as estruturas dos Eunice aphroditois modernos

    Cortesía de Ludvig Löwemark

    Uma peça chave de evidência geoquímica consolidou o caso. A parte superior da toca é muito rica em ferro, o que sugere que o construtor dessas tocas jogava muco nas paredes superiores para manter o formato da estrutura. Bactérias depois se alimentaram desse muco, produzindo sulfeto de ferro. Essas fortificações de muco são as mesmas dos vermes anelídeos predadores de hoje, e o fato de que a areia antiga encontrada no alto da toca era revolvida regularmente indicava que era ela usada por um predador de emboscada. Os vermes Eunice aphroditois encaixavam perfeitamente no vestígio fóssil.

    “Tocas tão grandes com essas disjunções em formato de pena são perfeitas para esses vermes”, diz o paleontólogo Jakob Vinther, da Universidade de Bristol, que não estava envolvido no novo estudo. “O tamanho das tocas e a maneira como a areia é alterada pelo comportamento dos invertebrados também batem”, diz ele.

    Vermes anelídeos predadores ao longo da história

    Normalmente, vestígios fósseis são descritos e nomeados sem que a criatura específica que os criou seja identificada, diz Murray Gingras, paleontólogo da Universidade de Alberta. Isso acontece porque vestígios fósseis e restos fósseis raramente são encontrados juntos. O novo artigo – que batizou os fósseis das tocas de Pennichnus formosae junta evidências para interpretar a existência de um verme anelídeo predador, diz ele, mas restos fósseis ajudariam a confirmar o que os vestígios indicam.

    “Como o verme é quase todo composto por tecidos moles”, diz Löwemark, “as chances de preservação são muito pequenas”. Mesmo assim, a característica mandíbula multifacetada dos Eunice aphroditois é composta de proteínas endurecidas e podem conter zinco, então têm mais chances de aparecer no registro fóssil. “Esses tipos de mandíbula, creio eu, datam do período Ordoviceano”, diz Vinther, referindo-se a um tempo de mais 443 milhões de anos atrás.

    Há fósseis ainda mais antigos atribuídos a esses vermes. Rochas com cerca de 400 milhões de anos em Ontario, no Canadá, contém sinais de vermes se comportando de maneira semelhante aos Eunice aphroditois de hoje. No entanto, é meio estranho que outros fósseis como esse ainda não foram encontrados. Baseado em quão diferentes e grandes essas tocas podem ser, esses vestígios deveriam ser relativamente comuns em rochas dos últimos 20 milhões de anos, diz Gingras.

    Talvez cientistas ainda estão aprendendo a identificá-las e, com um pouco de sorte, paleontólogos poderão, em breve, buscar esses vermes predadores nas mais antigas das tocas.

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