Como a maior população de rinocerontes do mundo diminuiu 70% em uma década

O Parque Nacional Kruger na África do Sul foi afetado por caçadores ilegais, corrupção e estiagem.

Por Dina Fine Maron
fotos de Brent Stirton
Publicado 9 de fev. de 2021, 07:00 BRT
Nas reservas privadas da África do Sul, costuma-se retirar os chifres dos rinocerontes — estes da ...

Nas reservas privadas da África do Sul, costuma-se retirar os chifres dos rinocerontes — estes da foto estão no rancho de caça de John Hume em Nelspruit — para reduzir a probabilidade de serem mortos por caçadores ilegais. Mas os chifres voltam a crescer no intervalo de alguns anos, o que torna essa estratégia cara para parques públicos com pouco dinheiro, como é o caso do Kruger.

Foto de Brent Stirton

OS RINOCERONTES NO KRUGER representam verdadeiros tesouros dos parques nacionais da África do Sul, mas estão enfrentando problemas.

O número de rinocerontes do parque caiu em cerca de 70% ao longo da última década, principalmente devido à caça ilegal e seus efeitos indiretos na reprodução e sobrevivência de filhotes, de acordo com uma nova avaliação dos Parques Nacionais Sul-Africanos (SANparks, na sigla em inglês), que administra o Kruger e outros 18 grandes parques do país.

Atualmente, o Kruger abriga menos de quatro mil rinocerontes, em comparação com mais de 10 mil em 2010. A população está dividida entre 3,5 mil rinocerontes-brancos, que são animais pastadores e possuem os lábios quadrados, e 268 rinocerontes-negros, cujo lábio superior pontudo os ajuda a arrancar folhas e frutos das árvores. Os rinocerontes do parque Kruger representam cerca de 30% dos 18 mil rinocerontes selvagens que existem no mundo, segundo estimativas.

“Essas perdas são extremamente preocupantes, mas sabemos que eles estão sofrendo uma morte lenta há algum tempo — agora foi apenas oficializado”, disse Grant Fowlds, embaixador da conservação do Rhino Project, organização sem fins lucrativos sul-africana.

Segundo Michael Knight, presidente do grupo de especialistas em rinocerontes-africanos na União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que avalia a situação dos animais selvagens, a caça furtiva de rinocerontes fêmeas é particularmente prejudicial porque cada uma pode ter até 10 filhotes ao longo da vida, e filhotes sem suas mães costumam morrer.

O chifre de rinoceronte é vendido para uso na medicina tradicional ou para esculturas, principalmente na China e no Vietnã, embora também exista um mercado nos Estados Unidos. Segundo o serviço de parques, o Kruger, que se estende por quase 20 mil quilômetros quadrados, há muito tempo é o epicentro da caça ilegal de rinocerontes na África do Sul.

No entanto a caça furtiva de rinocerontes no Kruger em geral tem diminuído desde o pico em 2014, quando mais de 800 rinocerontes foram mortos por causa de seus chifres. Desde então, os números diminuíram para mais da metade.

Uma estiagem que se estendeu entre 2015 e 2016 causou mais perdas, afirma Knight. Os rinocerontes se reproduziram menos e as mães produziam menos leite por estarem desidratadas, o que causou a morte de filhotes desnutridos. Durante a seca, os alimentos ficavam escassos e os rinocerontes-brancos foram particularmente afetados pela falta de grama para se alimentar; sua taxa de mortalidade duplicou, de acordo com o Departamento de Meio Ambiente, Silvicultura e Pesca da África do Sul.

Quando são retirados os chifres dos rinocerontes, uma protuberância de pouco mais de 10 centímetros é deixada para proteger o tecido na base do chifre. O chifre de rinoceronte contrabandeado é muito procurado para a medicina tradicional e para a confecção de esculturas, principalmente na China e no Vietnã.

Foto de Brent Stirton

Novas formas de ajudar os rinocerontes

Apesar das tristes notícias em geral, medidas como tecnologia de vigilância direcionada no parque (muitas vezes focada em salvar fêmeas em idade reprodutiva) e  índices mais altos de detenções de caçadores ilegais têm ajudado. Segundo os SANparks, a caça ilegal diminuiu 21,6% entre 2018 e 2019 (e a caça ilegal de elefantes caiu 43,8%).

Para ajudar a proteger os rinocerontes, os SANparks estão transferindo alguns dos animais do Kruger para áreas mais seguras fora do parque, como outros parques nacionais — um esforço que ficou paralisado por anos devido a um surto de tuberculose entre os rinocerontes.

A remoção de chifres de rinocerontes é uma prática comum contra a caça furtiva nos parques privados menores da África do Sul, mas seria extremamente cara no caso do Kruger. É preciso um helicóptero, um veterinário habilidoso e o custo desse método fica entre 600 e mil dólares por rinoceronte, diz Fowlds, e não é uma despesa única porque os chifres voltam a crescer periodicamente. (O chifre do rinoceronte é feito de queratina — a mesma substância das unhas — portanto, a retirada dos chifres, quando realizada da maneira certa, não machuca os animais.)

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    Os Parques Nacionais Sul-Africanos, que administram o Kruger, trabalham com especialistas forenses da polícia para tentar capturar caçadores de rinocerontes. Evidências de DNA que ligam os chifres a animais abatidos podem ajudar a condenar caçadores ilegais.

    Foto de Brent Stirton

    Obstáculos à frente

    Os SANparks se referem à corrupção interna como um “flagelo” e declararam que isso “afeta gravemente a equipe e as operações contra a caça ilegal, bem como a reputação dos SANParks”.

    “As quadrilhas de caça ilegal claramente conseguiram se infiltrar entre os guardas-florestais do Kruger — e outros parques e reservas — como ficou evidente com as detenções”, afirma Cathy Dean, CEO da Save the Rhino International, organização sem fins lucrativos com sede em Londres.

    Durante 2020, 394 rinocerontes foram caçados ilegalmente nos parques do país, a maioria no Kruger. Em 2020, as medidas de isolamento em decorrência do novo coronavírus inicialmente dificultaram os passeios pelo parque, reduzindo assim a caça ilegal. Mas, à medida que essas restrições foram amenizadas, a caça ilegal aumentou muito, principalmente em dezembro, de acordo com o departamento de meio ambiente, silvicultura e pesca da África do Sul.

    No ano passado, 66 supostos caçadores de rinocerontes foram presos no Kruger e mais 90 pessoas por caça ilegal e tráfico de chifres de rinoceronte fora do parque. Mas Knight explica que as ações judiciais provavelmente atrasem devido ao controverso fechamento do Tribunal Regional de Skukuza, o “tribunal de rinocerontes”, localizado dentro do parque Kruger. O Tribunal de Skukuza é conhecido por seu alto índice de condenação de caçadores ilegais e por sentenças de prisão rigorosas.

    Embora os 303 rinocerontes caçados no Kruger de abril de 2019 a março de 2020 tenham sido menos do que os 500 previstos pelos SANparks durante o período, e representem uma redução de quase 22% em relação ao ano anterior, Fowlds não está otimista. “Há menos rinocerontes para caçar”, diz ele, portanto os caçadores ilegais têm mais dificuldade para encontrá-los.

     

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