Descobertas duas novas espécies de esquilo-voador do tamanho de gatos no Himalaia

Esses roedores, que vivem em altitudes superiores a 4,5 mil metros, têm caudas peludas usadas como lemes para auxiliar na movimentação em meio aos penhascos rochosos.

Por Carrie Arnold
Publicado 12 de jun. de 2021, 07:00 BRT
himalayan squirrel

O esquilo-voador-lanoso de Yunnan (na imagem) vive nas montanhas do sudoeste da China, região rica em biodiversidade.

Foto de Quan Li

Não é fácil sobreviver nas encostas rochosas castigadas pelo vento no Himalaia, lar das montanhas mais altas do mundo. Além de grandes rochas e cavernas, há apenas algumas árvores irregulares que fornecem proteção contra predadores e rajadas de vento mais fortes

Um dos habitantes resistentes dessa região é o esquilo-voador-lanoso (Eupetaurus cinereus), um dos maiores esquilos do mundo, que mede cerca de 90 centímetros e pesa aproximadamente dois quilogramas. Também é um dos mamíferos menos conhecidos do planeta: identificado pela primeira vez há 130 anos, o roedor do tamanho de um gato doméstico foi considerado extinto até sua “redescoberta”, na década de 1990.  

Kristofer Helgen, cientista-líder e diretor do Instituto de Pesquisa do Museu da Austrália, interessou-se pelo estudo de animais que são considerados incertezas científicas.

Intrigado com alguns avistamentos recentes de esquilos no Himalaia, Helgen — que é Explorador da National Geographic — e seus colegas decidiram estudar a fundo essa espécie misteriosa, examinando espécimes de museus e coletando dados de avistamentos obtidos através de câmeras camufladas.

Os resultados levaram a uma reviravolta inesperada. O esquilo-voador-lanoso, na verdade, são duas espécies distintas que vivem a milhares de quilômetros de distância, no teto do mundo: o esquilo-voador-lanoso-tibetano (Eupetaurus tibetensis) e o esquilo-voador-lanoso de Yunnan (Eupetaurus nivamons).

De acordo com um estudo publicado na revista científica Zoological Journal of the Linnean Society, o primeiro vive na fronteira entre Índia, Butão e Tibete, e o último vive milhares de quilômetros ao leste, na província de Yunnan, no sudoeste da China.

“Essa descoberta é animadora”, afirma John Koprowski, especialista em esquilos da Universidade de Wyoming, que não participou da pesquisa. “O desconhecimento da existência de dois animais relativamente grandes mostra como sabemos pouco sobre o mundo natural.”

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‘Nenhum zoólogo ousou descrevê-lo’

O habitat rochoso do esquilo-lanoso, em altitudes de quase cinco mil metros, é remoto e desabitado, motivo pelo qual poucos cientistas ocidentais conseguiram observar o animal na natureza. Os hábitos noturnos e o pelo marrom-acinzentado do animal, que se confunde com a cor das rochas, dificultam ainda mais sua localização. Quando o zoólogo Oldfield Thomas o identificou em 1888, ele observou que “nenhum zoólogo ousou descrevê-lo”.

Em 1994, o animal foi “redescoberto” pelo zoólogo Peter Zahler em um local remoto do Paquistão, permitindo que os cientistas aprendessem mais sobre a discreta espécie — que ela se alimenta apenas de folhas de pinheiro e de zimbro, e que seus dentes grandes são sulcados, para triturar folhas cerosas e extrair seus poucos nutrientes.

Além disso, a denominação “esquilos-voadores” é um pouco inadequada: os animais deslizam por rochas e penhascos usando a pele esticada entre as patas dianteiras e traseiras.

Suas caudas longas e peludas, muitas vezes do mesmo comprimento do corpo, agem como um leme e podem funcionar como um guarda-chuva no caso de uma tempestade repentina. O corpo grande e o pelo denso do roedor também conservam calor em meio às montanhas gélidas.

Segredos dos esquilos revelados

Quanto mais Helgen e o colega Stephen Jackson aprendiam sobre o esquilo, mais acreditavam que o Himalaia poderia abrigar mais esquilos-voadores-lanosos do que se pensava.

Quando Helgen e Jackson visitaram oito museus do mundo inteiro para examinar 24 espécimes de esquilo-lanoso — o mais novo deles com quase 50 anos — descobriram que o formato dos crânios dos esquilos apresentava diferenças consideráveis e que o animal que receberia o nome E. tibetensis tinha uma mancha preta na cauda, inexistente nos outros animais. A análise de DNA confirmou que se tratava de duas espécies distintas.

“Essas espécies ficaram na gaveta de um museu por 100 anos até seus segredos serem revelados”, comenta Melissa Roberts Hawkins, curadora de mamíferos e especialista em esquilos da Instituição Smithsoniana.

Hawkins explica que a análise da estrutura corporal e genética é essencial para o estudo de esquilos-voadores porque “dois esquilos podem ter aparências muito diferentes e pertencerem à mesma espécie, ao passo que outros dois esquilos podem parecer idênticos, mas estarem separados por vários milhões de anos de evolução”.

Como a informação foi obtida através de um número limitado de espécimes de museu, Helgen explica que o tamanho da população e as ameaças sofridas pela espécie de esquilo-lanoso são desconhecidos.

“Este é apenas o começo”, conclui Helgen. “Agora que foram identificados, os cientistas podem entender melhor como eles vivem.”

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