Estas aranhas se 'catapultam' para evitar a morte depois do coito

Machos de uma espécie de aranha da família Uloboridae fogem das fêmeas lançando-se no ar – um comportamento nunca antes visto. 

Por Liz Langley
Publicado 2 de mai. de 2022, 12:58 BRT

Um macho Philoponella prominens (à direita) acasala com uma fêmea em um experimento de laboratório.

Foto de SHICHANG ZHANG

Aranhas machos que correm o risco de serem comidas por fêmeas desenvolveram uma fuga inteligente: eles lançam seus corpos no ar após o acasalamento.

Quando Shichang Zhang observou o fenômeno em um membro da família da aranha Philoponella prominens, este foi o primeiro exemplo conhecido de aranhas machos se 'catapultando' para escapar do canibalismo sexual. Ecologista da Universidade Hubei em Wuhan, China, Zhang descreveu ter ficado surpreso quando observou o comportamento no laboratório.

“O movimento super-rápido geralmente é usado por animais para escapar de predadores ou capturar presas, não para combater um parceiro sexual”, disse ele por e-mail.

No estudo de Zhang e colegas, publicado na revista Current Biology, todas as aranhas machos que se afastaram das fêmeas após o acasalamento sobreviveram. Câmeras de alta velocidade revelaram que os machos da espécie, cada um do tamanho de uma letra em um teclado de computador, fazem uma média de 175 giros por segundo na manobra de fuga.

Os pesquisadores “fornecem evidências sólidas de que esse comportamento convincente é uma adaptação sexual”, diz Greta Binford, aracnologista da Faculdade Lewis & Clark, em Portland, nos EUA, que não participou do estudo. “Não conheço outros estudos que tenham mostrado isso.”

Aranhas-macho como 'jantar'

Existem cerca de 290 espécies de aranhas da família Uloboridae. Na China, P. prominens é comum em jardins, campos e florestas, formando colônias de 300 ou mais aranhas. Binford, que estuda as Uloboridae no Peru, descreve suas casas como “um complexo de apartamentos, onde cada aranha tem sua própria teia em formato de esfera e que está conectada às outras por alguns andaimes de seda”.

As Uloboridae, como as fêmeas de muitas outras espécies de aranhas, tentarão comer seus parceiros sexuais após o acasalamento, possivelmente porque os machos são menores e mais fáceis de capturar do que outras presas. Então, para iniciar o acasalamento, um macho se aproxima de uma fêmea com cuidado. Ele usa um conjunto de apêndices chamados pedipalpos para entregar um pacote de esperma na abertura genital da fêmea. Depois, o macho salta rapidamente para longe.

Para observar essa catapulta de perto, Zhang e seus colegas coletaram jovens aranhas de um jardim próximo e as criaram isoladas no laboratório. A equipe, então, colocou um macho não acasalado na teia de uma fêmea não acasalada, registrando suas interações. A equipe manteve a fêmea bem alimentada com moscas para que a fome não influenciasse em como ela tratava o macho.

A equipe repetiu o experimento com 180 pares de aranhas e registrou 155 acasalamentos bem-sucedidos. Em 152 desses casos, os machos realizaram a inseminação, depois se lançaram para longe do perigo e sobreviveram. Nos três casos em que os machos não se catapultaram a tempo, eles foram capturados, mortos e consumidos pela fêmea.

Em um conjunto separado de experimentos, os pesquisadores testaram os efeitos da modificação dos meios de fuga das aranhas machos de diferentes maneiras, como a remoção de um par de patas dianteiras. Esses machos deficientes, como os machos que não pularam no tempo, literalmente viraram janta, descobriram os pesquisadores . 

O segredo das aranhas que se catapultam

Ao se debruçar sobre as imagens de alta resolução das câmeras de alta velocidade quadro a quadro, a equipe de pesquisa “descobriu o segredo da catapulta”, diz Zhang.

A chave, a equipe aprendeu, é a articulação metatarso da tíbia nas patas dianteiras das aranhas. Durante o acasalamento, essas pernas são dobradas contra a fêmea. Uma vez terminado, os machos contraem um músculo em seu cefalotórax, ou a parte frontal do corpo, que empurra a hemolinfa (a versão do sangue de uma aranha) em suas patas dianteiras, empurrando-as na direção contrária da fêmea. “É como se você apertasse um balão com bracinhos para fora, isso os endireitaria”, explica Binford.

Os machos também fazem uma linha de reboque – um pedaço de seda – que os coloca em sua teia a uma boa distância da fêmea. Essa âncora é uma medida de segurança, “caso as fêmeas sejam agressivas e, de repente, venham matá-las”, diz Zhang.

Nos experimentos, se os pesquisadores cortassem essa linha de reboque, os machos catapultados pousavam no chão em vez de na teia, após cortejar a fêmea, mas não tentavam acasalar. É provável que, sem a linha de reboque, a aranha saiba que não pode escapar após o acasalamento, então não ousa tentar, diz Zhang.

Mas por que esse macho se incomodaria em cortejar se ele não pretendia acasalar? Pode ser que, se a fêmea o vir como um parceiro em potencial, ela não tente comê-lo imediatamente, diz Eileen Hebets, uma aracnóloga da Universidade de Nebraska em Lincoln que não esteve envolvida no estudo.

As defesas bizarras das aranhas-macho

Em todo o reino das aranhas, os machos empregam muitas estratégias 'bizarras' para evitar serem comidos, diz Hebets. Alguns machos amarram as fêmeas com seda antes de transferir o esperma, diz Hebets, ou entregam à fêmea um 'presente' embrulhado em seda, presumivelmente para distraí-la.

Outros machos, porém, podem fazer o sacrifício final no interesse de transmitir seus genes. Se um macho consegue acasalar e fica por perto para virar refeição, presume-se que a fêmea esteja suficientemente saciada para não procurar outros machos – assim pode gerar uma ninhada do esperma de seu companheiro, mesmo que já morto.

Na visão de Hebets, o estudo da equipe de Zhang “fornece outro grande exemplo das oportunidades aparentemente infinitas de descoberta científica que as aranhas podem oferecer a cientistas observadores, curiosos e apaixonados”.

 

mais populares

    veja mais
    Tarântula troca de pele em novo vídeo time-lapse
    Esta dócil, mas venenosa, tarântula-de-joelhos-vermelhos leva sete horas para trocar de pele, mas neste time-lapse o processo dura 40 segundos.

    mais populares

      veja mais
      loading

      Descubra Nat Geo

      • Animais
      • Meio ambiente
      • História
      • Ciência
      • Viagem
      • Fotografia
      • Espaço
      • Vídeo

      Sobre nós

      Inscrição

      • Assine a newsletter
      • Disney+

      Siga-nos

      Copyright © 1996-2015 National Geographic Society. Copyright © 2015-2024 National Geographic Partners, LLC. Todos os direitos reservados