Por que as aves migratórias voam para tão longe?

Em 8 de outubro se celebra o Dia Mundial das Aves Migratórias. Algumas espécies de aves passam meses cruzando os céus em busca de melhores condições de habitat e são importantes indicadores ambientais.

Os gansos voam em formação durante sua migração no outono.

Foto de TOM ROGULA
Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 8 de out. de 2022, 10:00 BRT

Em determinadas épocas do ano, diversas espécies de aves viajam em bandos com destinos que podem estar a milhares de quilômetros de distância. Cerca de 20% de todas as espécies de aves são migratórias, ou seja, deixam seus habitats anualmente em busca de lugares mais propícios para sua sobrevivência.

A informação é da Organização das Nações Unidas, que determinou o 8 de outubro como o Dia Mundial das Aves Migratórias. A data é usada para aumentar a visibilidade desses animais e de sua importância para o meio ambiente. 

Por que as aves migram? 

A migração das aves, de acordo com a ONU, geralmente acontece pela busca por áreas mais quentes, onde a comida é abundante e os dias são mais longos.

Um relatório da Comissão Nacional para o Conhecimento e Uso da Biodiversidade do México (Conabio) explica melhor essa busca por climas quentes.

“Não é só fugir do frio. No inverno, a diminuição da oferta de alimento é severa, principalmente nas zonas temperadas e árticas do planeta. Assim, antes que a falta de comida ameace a sobrevivência, elas (as aves) reúnem energia acumulando gordura em seu corpo e se jogam em uma viagem perigosa ruma à regiões com mais alimento”, diz o documento. 

Quão longe as aves viajam? 

A cartilha do órgão mexicano aponta que as viagens das avez migratórias podem durar de algumas semanas até quatro meses. Para completar sua jornada, os animais realizam uma série de voos, que podem durar de horas a dias, e eles precisam realizar escalas para descansar e se alimentar. 

Em relação às distâncias, o Conabio exemplifica que os viajantes podem percorrer cerca de 60 quilômetros por dia, como é o caso da mariquita-de-rabo-vermelho (Setophaga ruticilla), um passarinho com pouco mais de 10 centímetros original da América do Norte, e a marreca-de-asa-azul (Anas discors), da mesma família dos patos norte-americanos, que migra tão longe quando o Rio Grande do Sul, no Brasil. 

Homem guia bandos migratórios de aves vulneráveis com um ultraleve
Por mais de 20 anos Christian Moullec voou com as aves. Agora, ele aproveita sua expertise para ajudar algumas espécies em projeto de conservação.

Já outras aves podem superar os 500 quilômetros diários, como o gavião-de-asa-larga (Buteo platypterus), ave de rapina natural da América do Norte e Central. “Há ainda um caso extremo, o da mariquita-de-perna-clara (Setophaga striata), que é capaz de percorrer 3 200 quilômetros em 72 horas. O equivalente a viajar mil quilômetros diários sem descanso”, informa o documento.  

No geral, a distância total das migrações varia muito de acordo com a espécie. Algumas, como o juruviara-de-cabeça-preta (Vireo atricapilla), um pequeno pássaro que se destaca por suas penas que formam um capuz preto em sua cabeça, saem do Texas, nos Estados Unidos, para passar o inverno na costa do México. 

Algumas aves costeiras, por sua vez, e que habitam a tundra canadense, passam o inverno nas ilhas da Terra do Fogo, na parte mais ao sul da América do Sul, percorrendo cerca de 16 mil quilômetros só no percurso de ida. 

Como as aves migratórias indicam ameaças ao clima e meio ambiente

De acordo com a ONU, as aves migratórias são um claro indicador de saúde ambiental. Isso porque elas viajam por centenas de quilômetros para encontrar as melhores condições ecológicas e, quando a natureza se desequilibra, seja devido à mudança climática ou poluição, e os lugares que eram refúgios durante o inverno não são mais tão propícios, elas acabam por mudar seus padrões migratórios. 

A Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Selvagen (CMS), um tratado da ONU (Organização das Nações Unidas) que também é conhecido como Convenção de Bona, aponta que as aves migratórias fornecem um panorama do estado do meio ambiente ao longo de rotas inteiras. 

Outro fator considerado pela CMS ressalta que a importância da preservação dessas aves está ligada aos serviços de regulação ecológica que elas realizam. Como, por exemplo, o controle de pragas pelos locais em que passam durante a migração. As aves migratórias também são responsáveis pela dispersão de sementes e pela polinização das flores, informa a fonte. 

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    Gansos do Canadá (Branta canadensis) na migração no outono.

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    Dia Mundial das Aves Migratórias 2022: um alerta para a poluição luminosa

    Neste ano, a ONU selecionou como tema principal para o Dia Mundial das Aves Migratórias a conscientização sobre o impacto da poluição luminosa na migração de algumas espécies. 

    A poluição luminosa refere-se à luz artificial que altera os padrões naturais de luz e escuridão nos ecossistemas. Na prática, é o excesso de luz artificial usada para iluminar ruas, comércios, casas, shows. Segundo a ONU, hoje, mais de 80% da população mundial vive sob um “céu iluminado artificalmente”.

    A campanha deste ano alerta que essas luzes artificiais podem alterar o comportamento das aves, em especial, a migração desses animais. De acordo com a ONU, a poluição luminosa atrai e desorienta aves migratórias noturnas, direcionando-as erroneamente para áreas iluminadas fora de suas rotas comuns. 

    Esses desvios podem significar exaustão, risco maior de predação e colisões letais. A cada ano, a poluição luminosa contribui para a morte de milhões de aves por colisões com prédios e outras construções.

    Um dos objetivos da campanha da ONU de 2022 é incentivar tomadores de decisão que têm um papel nas decisões sobre poluição luminosa a fim de iniciar um processo de adoção de medidas para mitigar esse problema. 

    A campanha reforça ainda uma lista do que é possível fazer, no dia a dia, para ajudar a migração dessas aves. Entre as recomendações está reduzir a quantidade de luz fora de sua casa ou local de trabalho, desligar luzes noturnas não-essenciais, usar temporizadores ou detectores de movimento para manter as luzes essenciais acesas pelo mínimo de tempo à noite, além de escolher lâmpadas que emitem luz quente para minimizar a perturbação das aves.

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