Foto de vítima de covid envolta em plástico recebe prêmio de fotografia

Imagem de morto por covid-19 envolto em plástico ficou em segundo lugar na categoria 'notícias' do World Press Photo, prêmio mais importante da fotografia mundial.

Por David Beard
Publicado 15 de abr. de 2021, 10:00 BRT
Corpo de uma vítima com suspeita de morte por covid-19 em um hospital na Indonésia. Após ...

Corpo de uma vítima com suspeita de morte por covid-19 em um hospital na Indonésia. Após a morte do paciente, os enfermeiros envolveram o corpo em camadas de plástico e aplicaram desinfetante para conter a propagação do vírus.

Foto de Joshua Irwandi

Julho de 2020 era o terceiro mês da pandemia e as mortes por covid-19 ainda batiam a casa dos 700 mil. Não havia notícias de novas variantes ou vacinas.

Foi então que a foto de uma vítima da pandemia de coronavírus envolta em plástico apareceu pela primeira vez. A reportagem publicada aqui viralizou e tornou-se uma das mais acessadas da história deste site.

Agora, nove meses depois – com quase 3 milhões de mortos, poucas vacinas e muitas variantes –, a imagem recebeu o prêmio de segundo lugar na categoria General News, ou notícias, na mais importante honraria da fotografia no mundo, o World Press Photo. 

O fotógrafo indonésio Joshua Irwandi acompanhou o profissionais de saúde em um hospital de seu país. Irwandi trabalhava em missão para a revista National Geographic e tinha ganhado uma bolsa de financiamento concedida pela National Geographic Society. 

A Indonésia atuava de forma lenta no combate à pandemia, inclusive com o presidente Joko “Jokowi” Widodo promovendo um medicamento fitoterápico não comprovado em março daquele ano. Algumas das reações à imagem de Irwandi, que humanizaram o sofrimento causado pelo vírus, foram hostis.

A foto foi exibida nos noticiários da TV, compartilhada pelo porta-voz da equipe de resposta ao coronavírus do país e amplamente copiada e republicada pela mídia indonésia sem a permissão de Irwandi. Mais de 325 mil pessoas “curtiram” a foto em seu perfil no Instagram, divulgada por ele após a publicação da reportagem.

“Está claro que o poder dessa imagem inflamou a discussão sobre o coronavírus”, disse Irwandi à época. “Temos que reconhecer o sacrifício e o risco enfrentado pelos médicos e enfermeiros.”

Não há dúvida de que a fotografia quebrou paradigmas, concordou Fred Ritchin, reitor emérito do Centro Internacional de Fotografia: “Aqui temos uma pessoa mumificada. Ao olhar para ela, ficamos horrorizados."

Ao mesmo tempo, há um certo distanciamento, disse Ritchin. “Para mim, a imagem me pareceu ser de alguém sendo jogado fora, descartado, envolto em celofane, pulverizado com desinfetante, mumificado, desumanizado, discriminado... Faz sentido de certa forma. As pessoas discriminaram outras portadoras do vírus por não querer estar nem perto do vírus.”

Depois que Irwandi publicou a foto, um cantor popular que acumula muitos seguidores acusou o fotógrafo de fabricar a notícia, dizendo que a covid-19 não é tão perigosa e opinou que um fotojornalista não deveria ter sido autorizado a tirar uma foto em um hospital, sem nem sequer a família poder ver a vítima. Os seguidores do cantor acusaram Irwandi equivocadamente de ter montado a foto com um manequim e o chamaram de “escravo” da Organização Mundial da Saúde. O fotógrafo de 28 anos recebeu ameaças.

“Detalhes da minha vida pessoal foram publicados sem minha permissão”, conta Irwandi. “Houve um grande desvio da intenção fotojornalística da minha fotografia.”

No entanto ele conseguiu apoio da associação de fotojornalistas do país. Eles alegaram que a imagem atendia aos padrões jornalísticos – e exigiram que o cantor se desculpasse, o que ele fez posteriormente.

Sua esperança era que a imagem incentive os indonésios a tomar precauções – e salvar vidas. Ele citou um desafio para fotojornalistas lançado em maio pela professora de Harvard Sarah Elizabeth Lewis: ir além das estatísticas e mostrar o impacto da covid-19 sobre as pessoas.

Naquele julho, a Indonésia registrava 4.320 mortes por covid-19 e 89.869 casos. Hoje, apesar de estar em uma curva descendente, o país acumula 42.782 mortes e mais de 1,5 milhões de casos.

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