Encontrado fóssil de rinoceronte mais alto que girafa na China

A espécie recém-descoberta, um dos maiores animais terrestres já existentes, vagava pela atual região do planalto tibetano e do Paquistão, há mais de 25 milhões de anos.

Por Michael Greshko
Publicado 22 de jun. de 2021, 16:30 BRT
Paraceratherium linxiaense

Há cerca de 26,5 milhões de anos, uma espécie de rinoceronte gigante recém-descoberta vagava pelo nordeste do planalto do Tibete. Com base na anatomia do crânio, os responsáveis pela descoberta do rinoceronte acreditam que o animal possuía um focinho alongado e preênsil como o de uma anta moderna.

Foto de Illustration by Yu Chen

O planalto do Tibete atualmente alcança as alturas: é uma extensão escarpada de estepes de altitude elevada com o imponente Himalaia ao fundo. Contudo, há 26,5 milhões de anos, trechos dessa região eram pontilhados por bosques úmidos, oferecendo refúgio a outro tipo de arranha-céu: um dos maiores mamíferos a caminhar sobre a Terra.

O animal recém-descoberto, revelado em 17 de junho na revista científica Communications Biology , é um primo extinto do rinoceronte atual e pertence à espécie Paraceratherium linxiaense. A criatura colossal teria pesado até 24 toneladas, quatro vezes mais do que os elefantes-africanos de hoje, e somente seu crânio possuía cerca de um metro de comprimento.

É a mais recente espécie descoberta de um grupo de rinocerontes gigantes sem chifres que viveu em toda a Ásia Central entre 50 e 23 milhões de anos atrás. O P. linxiaense e seus parentes são todos conhecidos por seus tamanhos enormes. Acredita-se que um adulto tenha, em média, mais de cinco metros de altura até os ombros, um pescoço de cerca de dois metros e um crânio imenso. As girafas atuais têm entre quatro e seis metros de altura, até a cabeça.

Os rinocerontes gigantes “conseguiriam se alimentar de flores no terceiro ou quarto andar de um prédio”, afirma Pierre-Olivier Antoine, Explorador da National Geographic e paleontólogo de rinocerontes da Universidade de Montpellier, na França, que revisou o novo estudo.

O P. linxiaense foi um dos últimos desses gigantes, denominados paraceratérios, que viveram cerca de 26,5 milhões de anos atrás. Devido à sua idade e localização, os novos fósseis, incluindo um crânio completo, uma mandíbula e três vértebras, ajudam a definir a árvore genealógica dos paraceratérios ao identificar onde esses rinocerontes gigantescos evoluíram e como ocorreu sua distribuição pelo continente atual da Ásia.

Gigante pré-histórico

Fósseis de Paraceratherium são raros e geralmente estão incompletos, dificultando o mapeamento da evolução e distribuição do gênero. Ao que parece, o lar de longa data do grupo foi a Ásia Central, mas a P. bugtiense, primeira espécie de Paraceratherium já encontrada, viveu no atual oeste do Paquistão. Como exatamente esse rinoceronte gigante chegou ao subcontinente indiano?

Pesquisadores liderados por Tao Deng, paleontólogo de mamíferos do Instituto de Paleoantropologia e Paleontologia de Vertebrados da China em Pequim, descobriram recentemente que a nova espécie P. linxiaense possui parentesco próximo com a paquistanesa P. bugtiense, o que sugere uma possível origem do rinoceronte no Paquistão.

Os novos fósseis foram extraídos dos arenitos marrons da Bacia Linxia, na China central. Nessa bacia, camadas de sedimentos de quase dois quilômetros de espessura recontam a história dos últimos 30 milhões de anos da Terra, possuindo fósseis dispersos de criaturas primitivas que viveram na região.

Na década de 1950, proprietários rurais da região alegaram ter encontrado “ossos de dragão”. Por algum tempo, esses restos mortais foram vendidos a empresas médicas e utilizados como ingredientes na medicina tradicional chinesa. Na década de 1980, os paleontólogos reconheceram o valor científico dos fósseis conservados na região, oriundos do fim da época do Oligoceno, período entre 23 e 28 milhões de anos atrás.

Desde então, os paleontólogos do Instituto de Paleoantropologia e Paleontologia de Vertebrados estudam as rochas da Bacia Linxia e a rica variedade de fósseis nelas contidos.

Em maio de 2015, Deng e seus colegas encontraram algo raro próximo ao vilarejo de Wangjiachuan: o crânio completo e a mandíbula de um rinoceronte gigantesco, bem como três vértebras de outro indivíduo. Segundo Deng, quando os pesquisadores encontraram os ossos de 26,5 milhões de anos — incluindo o crânio de pouco mais de um metro de comprimento — ficaram “muito surpresos” com seu estado de conservação e tamanho.

Com base em suas semelhanças com o rinoceronte gigante do Paquistão, as novas descobertas sugerem que os rinocerontes gigantes transitavam livremente por milhares de quilômetros entre a Ásia Central e o subcontinente indiano entre 30 e 35 milhões de anos atrás. As condições tropicais da época “permitiram que o rinoceronte gigante retornasse rumo ao norte para a Ásia Central, o que implica que a região tibetana ainda não havia se elevado como um planalto de grande altitude”, escreveu Deng por e-mail — uma hipótese confirmada por evidências geológicas, sugerindo que ainda houvesse algumas planícies na região até cerca de 25 milhões de anos atrás.

Mistérios do rinoceronte gigantesco

Antoine, paleontólogo francês, afirma que o novo estudo ajuda a revelar os padrões geográficos que determinavam a movimentação dos rinocerontes gigantescos na Terra antiga. Um catálogo de fósseis de rinocerontes gigantescos apresentado na nova pesquisa sugere que os animais nunca atravessaram, por exemplo, os montes Urais para ir da Ásia à Europa, um indicativo de que a cordilheira já fosse uma barreira na época.

A pesquisa também pode ajudar a explicar como as grandiosas criaturas chegaram à região atual da Turquia, onde fósseis de rinocerontes também foram encontrados. De acordo com Antoine, fósseis ainda não descritos em um artigo científico sugerem que, depois que rinocerontes gigantescos chegaram ao atual Paquistão, atravessaram as regiões atuais do Afeganistão e Irã em direção à Turquia.

Alguns dos fósseis que revelaram essa história, entretanto, foram perdidos. Um acervo de 300 fósseis coletados em parte por Antoine no Paquistão — incluindo restos de rinocerontes gigantescos — foi destruído em 2006, quando o exército paquistanês bombardeou Dera Bugti, cidade no oeste da província de Baluchistão, devido a um conflito civil de longa duração. No mesmo ano, o poderoso líder baluchi Nawab Akbar Bugti foi morto em uma explosão durante confronto com militares paquistaneses. Bugti havia sido um importante contato e fonte de proteção aos paleontólogos que trabalhavam na região.

Já os fósseis da espécie P. linxiaense estão em segurança no Museu Paleozoológico de Hezheng, na província de Gansu, centro-norte da China. Deng está bastante animado com os futuros estudos desses restos mortais, inclusive com a reconstituição dos músculos da criatura e uma estimativa mais precisa de sua massa corporal.

Ele acrescenta que, diante das atuais evidências da travessia de rinocerontes gigantescos pelo atual planalto do Tibete, pode haver mais fósseis a serem encontrados na região — um animal colossal pode estar enterrado no atual “teto do mundo”.

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