5 coisas para saber sobre testes de covid-19 em tempos de Ômicron

A nova variante é altamente transmissível, mas muitos outros aspectos permanecem desconhecidos. Confira sugestões de cientistas sobre o uso correto de testes para se manter seguro.

Por Amy McKeever
Publicado 5 de jan. de 2022, 12:50 BRT
Foto de agente de saúde enfiando cotonete em narina de uma pessoa durante teste de covid-19

Pessoa faz teste de covid-19 em Berlim, em 25 de janeiro de 2021.

Foto de Lena Mucha, T​he New York Times, via Redux

Com o fim das festas de fim de ano e a ameaça crescente da variante Ômicron, um dilema tem acometido pessoas com sintomas de covid-19 ou que tiveram contato com infectados: podemos continuar nos reunindo com outras pessoas ou é preciso se isolar?

Até mesmo quem está totalmente vacinado, e que acreditava que as vacinas eram a solução para que a rotina pudesse voltar ao normal ficaram ansiosos à medida que a mais transmissível variante Ômicron saltou de 12,6% para 73,2% dos casos de covid-19 em apenas uma semana nos Estados Unidos. Autoridades de saúde pública alertam que infecções em vacinados representam alguns desses novos casos – embora as vacinas ainda protejam amplamente contra casos graves da doença e mortes.

Mas há uma ferramenta útil para decidir se seguimos com as reuniões e aglomerações – familiares ou não. Rachael Piltch-Loeb, pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública T.H. Chan, da Universidade de Harvard, afirma que os testes são extremamente necessários, muito embora ainda haja pouco conhecimento sobre a Ômicron — incluindo a probabilidade de pessoas totalmente vacinadas serem infectadas.

Barun Mathema, professor assistente de epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública Mailman, da Universidade de Colúmbia, concorda. “Os testes são a única maneira de saber realmente o risco representado por você a si mesmo e a sua comunidade”, comenta ele. “Sem eles, basicamente, não temos ideia dos riscos.”

Alguns países têm seguido à risca a orientação de Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, que disse que a testagem é parte da espinha dorsal do combate à pandemia em uma conferência ainda no começo de 2021. “Temos uma mensagem muito simples para todos os países: teste, teste e teste”, orientou Ghebreyesus.

Esse certamente não é o caso do Brasil, onde os autotestes, disponíveis em farmácias dos EUA e de países da Europa, sequer foram aprovados pela Anvisa.

"Se tem um quesito que o Brasil realmente falhou e continua a falhar nesta pandemia é na testagem”, disse Lorena Guadalupe Barberia, professora do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de São Paulo e integrante do Observatório Covid-19 BR, em entrevista à BBC Brasil. “Nunca houve uma disponibilidade de exames ou uma mensagem clara de quando, como e quem deve ser testado.”

Também há escassez nos EUA, mas o governo Biden anunciou um plano para oferecer meio bilhão de testes rápidos gratuitos a norte-americanos. Os testes serão disponibilizados agora em janeiro.

Saiba mais sobre os testes em tempos da variante Ômicron — e o que os especialistas recomendam mediante um resultado positivo.

1) Quanto tempo é preciso esperar para fazer o teste após uma exposição?

Cada doença viral tem um período de incubação — o tempo entre a exposição a um patógeno até sua detecção. Atualmente, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (“CDC”, na sigla em inglês) recomendam aguardar entre cinco e sete dias após a exposição à covid-19 antes de fazer um teste. Embora essa ainda seja a regra prática, Piltch-Loeb afirma que pode ser diferente com a variante Ômicron.

Alguns dados iniciais sugerem que, em apenas entre dois e três dias, as pessoas já começam a manifestar sintomas após a exposição à variante Ômicron. Da mesma forma, Piltch-Loeb observa que os testes parecem detectar o vírus cerca de dois dias a partir da exposição. Embora seja um mau sinal em termos de transmissibilidade do vírus, a vantagem é que um resultado positivo pode não demorar cinco dias para ser obtido — permitindo que sejam cancelados planos com ainda mais antecedência, se necessário.

2) Qual teste deve ser feito? Por quê?

Os testes de reação em cadeia da polimerase, ou PCR, são considerados o padrão de referência para a detecção de covid-19. Esses testes — que identificam a presença de material genético do vírus — são altamente sensíveis e são pouco propensos a apresentar falsos negativos.

Os testes rápidos de antígeno, por sua vez, são menos confiáveis. Eles detectam segmentos de proteínas do vírus e funcionam melhor com uma carga viral mais alta, razão pela qual geralmente são usados com pessoas sintomáticas. Algumas marcas de testes também são mais confiáveis do que outras: Piltch-Loeb sugere verificar o site dos CDC, que informa os testes rápidos de antígeno de Sars-CoV-2 autorizados para uso de emergência nos Estados Unidos.

Contudo, diante da velocidade de proliferação da Ômicron, Piltch-Loeb afirma que os testes de PCR mais confiáveis nem sempre são viáveis. Embora normalmente os resultados demorem entre dois e três dias para sair, o aumento recente nos testes sobrecarregou os laboratórios, o que significa que está demorando ainda mais para que os resultados sejam fornecidos. Portanto, se um resultado não for recebido antes de um encontro planejado, conta Piltch-Loeb, o teste de PCR pode não ajudar a tomar uma decisão a tempo.

Também não se sabe ao certo como pessoas totalmente vacinadas e que tomaram a dose de reforço devem interpretar um teste de PCR. Os CDC reconhecem que pessoas totalmente vacinadas transmitem o vírus por menos tempo do que pessoas não vacinadas.

Nesses casos que podem ser utilizados os testes rápidos de antígeno. Entre 15 e 30 minutos, os testes rápidos fornecem um retrato de eventuais cargas virais altas naquele momento. Portanto, em pessoas totalmente vacinadas, um teste rápido positivo pode ser um indicador melhor do que um teste de PCR positivo para saber se estão transmitindo o vírus e se representam uma ameaça a outros.

Ao mesmo tempo, um teste rápido negativo provavelmente significa que a pessoa não está transmitindo o vírus naquele momento — embora o vírus ainda possa estar sendo incubado no organismo. Mas especialistas alertam que não há uma certeza nisso devido à possibilidade de falsos negativos. Estudos revelam que testes rápidos podem detectar até 85% dos casos de covid-19 — o que significa que há muita margem para erros.

Em última análise, entretanto, a escolha de um teste se resume à sua tolerância ao risco, afirma Mathema. Ele concorda que os testes rápidos positivos são confiáveis, sobretudo com pessoas sintomáticas, uma vez que falsos positivos são muito menos prováveis do que falsos negativos. No entanto ele acrescenta: “resultados negativos são preocupantes”. O que significa um resultado negativo? Que nível de conforto ele lhe proporciona?”. Se desejar ter cautela, ele recomenda fazer o teste de PCR em vez de um teste rápido ou além dele.

3) Se o resultado for negativo em um teste rápido, o que deve ser feito?

Se apresentar sintomas, mas o resultado do teste for negativo para covid-19, refaça o teste outras vezes. Os CDC recomendam a realização de dois ou mais testes rápidos de acompanhamento, aguardando pelo menos 24 horas entre cada um. Se o teste continuar negativo, segundo Piltch-Loeb, é provável que você tenha um tipo diferente de infecção respiratória. Mas não há garantia disso. E como espalhar resfriado ou gripe comum também geralmente é mal visto, ela sugere isolamento e uso de máscaras até o fim dos sintomas.

Se não houver sintomas e o resultado do teste for negativo, entretanto, Piltch-Loeb recomenda que não se esqueça de que o momento afeta o resultado de testes rápidos. Como a Ômicron é muito transmissível — e esses testes fornecem apenas um retrato instantâneo — uma pessoa pode testar negativo de manhã e positivo à tarde. Para diminuir a chance de transmitir o vírus em determinada ocasião, faça um teste rápido com uma hora de antecedência.

Para verdadeira paz de espírito, entretanto, Mathema sugere fazer um teste de PCR após um teste rápido negativo antes de se reunir com amigos e familiares — independentemente do seu estado de vacinação.

4) Se o resultado for positivo no teste rápido, o que deve ser feito?

Os CDC aconselham a qualquer um com um teste positivo a ficar em casa ou se isolar por 10 dias e usar máscaras perto de outras pessoas. Também é preciso notificar qualquer pessoa com quem foi mantido contato próximo nos últimos dois dias e alertar seu médico. Pessoas não vacinadas devem seguir rigorosamente essa regra, pois têm maior probabilidade de se contaminar e espalhar o vírus.

Se você foi vacinado e não apresenta nenhum sintoma, entretanto, Piltch-Loeb sugere fazer um segundo teste rápido mais tarde no mesmo dia ou no dia seguinte. Se ambos os resultados forem positivos, você provavelmente apresenta risco de contágio. Se o segundo teste for negativo, seus resultados são inconclusivos e você deve fazer um teste de PCR para ter certeza.

Se os resultados do PCR não voltarem a tempo, Piltch-Loeb orienta que fique em casa e se isole para evitar qualquer risco. Caso contrário, ela recomenda conversar com a família e amigos sobre seus fatores de risco e decidir juntos se manterão seus planos. Se estiver assintomático e obtiver um resultado discrepante, a probabilidade de representar uma ameaça séria é baixa — mas o risco geral é maior se seus entes queridos não estiverem vacinados ou forem vulneráveis a casos graves da doença.

“Não é uma ciência exata”, comenta Piltch-Loeb. “Não há uma boa resposta. Sempre há alguma incerteza com relação ao seu estado.”

5) Posso tomar uma vacina ou dose de reforço agora e ficar protegido da Ômicron?

A má notícia é que a primeira dose — ou até mesmo uma dose de reforço — não possui eficácia imediata. Leva tempo para a vacina treinar seu sistema imune para se proteger contra o vírus. Estudos demonstram que duas doses fornecem proteção muito maior do que uma — e leva mais de um mês para completar um regime de duas doses de qualquer uma das vacinas.

Além disso, não se sabe ao certo a eficácia de duas doses contra a Ômicron em recém-vacinados. Mas novas evidências sugerem que a imunidade gerada por duas doses diminui com o tempo, o que torna a dose de reforço muito importante àqueles que receberam a dose completa de uma vacina de RNAm há mais de seis meses ou que receberam a dose da Johnson & Johnson há mais de dois meses para se protegerem contra a Ômicron. E a dose de reforço também leva cerca de duas semanas para ter efeito.

Ainda assim, especialistas apontam que alguma proteção contra o vírus ainda é melhor do que nenhuma. Ainda que você não tenha estado protegido a tempo para as festas de fim de ano, Mathema afirma que será necessária essa proteção nas próximas semanas, à medida que a Ômicron continua avançando nos Estados Unidos e em todo o mundo.

“Se há um momento para se vacinar, esse é o momento”, prossegue ele. “Porque certamente esse patógeno acometerá os não vacinados.”

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