O que é a depressão sazonal e como a ciência tem tratado o transtorno?

O transtorno afetivo pode acontecer tanto no inverno quanto no verão. Conheça algumas causas e como tratá-lo.

Por Sarah Gibbens
Publicado 6 de fev. de 2023, 12:22 BRT

Aqueles que sofrem de depressão sazonal atendem aos critérios para depressão clínica, mas seus sintomas melhoram com o início das estações mais quentes.

Foto de Photo Illustration by Chris Fertnig Getty Images

Quando se mudou da África do Sul para Nova York (Estados Unidos), Norman Rosenthal percebeu que se sentia mais deprimido durante os dias frios e curtos do inverno da cidade do que em seu país natal.

"Era uma doença que se escondia à vista de todos porque as pessoas diziam 'bem, é assim que todo mundo se sente no inverno'. Eles não viam isso como tratável", diz Rosenthal, psiquiatra da Faculdade de Medicina de Georgetown (EUA).

Em 1984, ele publicou o primeiro artigo que deu o nome científico à tristeza do inverno: Transtorno Afetivo Sazonal (TAS), também chamado de depressão sazonal, um tipo de depressão provocada pelos dias escuros do inverno.

Estudos subsequentes descobriram que essa forma de depressão varia de acordo com a geografia. Acredita-se que até 3% da população em geral sofre de TAS, mas um estudo publicado por Rosenthal em 1990 descobriu que a condição se tornou mais prevalente nos EUA nas latitudes do norte, como é caso de New Hampshire, onde aproximadamente 10% dos residentes relataram sofrer esta condição.

E, surpreendentemente, cerca de 10% dos pacientes com TAS apresentam sintomas no verão.

Especialistas em saúde mental dizem que existem soluções para tratar o TAS tanto no inverno quanto no verão.

Os cientistas acreditam que os dias mais escuros interrompem o ritmo circadiano, fazendo com que algumas pessoas desenvolvam sintomas de depressão.

Foto de Photo Illustration by Jennifer Lee Blanton Getty Images

Diferenciar o mau humor da depressão estacional 

É normal que o humor flutue com as estações, e até mesmo que as pessoas se sintam um pouco mais desanimadas no inverno, segundo afirmam os especialistas. Mas aqueles que sofrem de TAS apresentam sintomas de depressão clínica.

“São exatamente iguais”, diz Kelly Rohan, psicóloga da Universidade de Vermont especializada no transtorno.

“Procurávamos coisas como um humor persistentemente triste. Perda de interesse pelas coisas; alterações do sono; mudança significativa na alimentação ou no apetite; perda de energia; fadiga; e dificuldade de concentração”, diz ela.

Na Clínica de Pesquisa de Depressão Invernal de Yale, os sintomas mais comumente relatados são a hipersonia (o desejo de dormir mais do que o normal) e aumento do apetite, diz Paul Desan, psiquiatra e diretor da clínica.

“É como se os seres humanos estivessem tentando hibernar”, compara Desan.

A maioria das pessoas começa a apresentar sintomas na idade adulta, mas o TAS pode começar em qualquer fase da vida. A condição também varia conforme o sexo.

“Aproximadamente as mulheres sofrem de TAS três vezes mais do que os homens por razões que não entendemos”, diz Desan.

Embora o TAS seja tipicamente diagnosticado quando os pacientes atendem aos critérios para depressão clínica, alguns pacientes ficam um pouco abaixo desse diagnóstico oficial. Em vez disso, eles são diagnosticados com “TAS subsindrômico”, uma condição mais leve, mas ainda incômoda.

O que provoca o TAS?

“É bastante aceito que o gatilho é um fotoperíodo curto, isto é, o número de horas do amanhecer ao anoitecer”, diz Rohan. “É o fator que melhor prediz quando começam os sintomas.”

Mas por que exatamente menos luz do dia parece deprimir clinicamente algumas pessoas?

“Essa é a pergunta do milhão”, diz Rohan.

Uma das principais teorias é que a mudança na luz do dia interrompe a liberação de melatonina de nossos corpos, um hormônio que o cérebro libera todas as noites para induzir o sono. O processo faz parte do nosso ritmo circadiano, nosso relógio biológico inato que manda quando dormimos e acordamos.

Nossos relógios são marcados pela luz da manhã, mas como o suprimento de luz do dia diminui no inverno, a teoria sugere que a melatonina pode ser liberada mais tarde e também desaparecer mais tarde.

Isso significa que “aquele despertador pode estar tocando durante a manhã, mas o corpo ainda está em um estado biológico noturno”, esclarece Rohan.

Aqueles diagnosticados com TAS podem ser particularmente sensíveis a horários que interrompem seu ritmo circadiano por começar e terminar em horários estranhos, como turnos de trabalho, acrescenta ela.

Mesmo com essa teoria, Rohan diz que não está claro por que a alteração do ritmo circadiano pode levar à depressão, em vez de provocar uma simples fadiga.

E a depressão de verão?

Rohan diz que uma minoria de pessoas que experimenta TAS no inverno pode ficar “maníaca” no verão, quando o número de horas de luz estimulantes aumenta.

Porém, outras pessoas experimentam um fenômeno chamado TAS de verão, quando os sintomas de depressão sazonal ocorrem apenas no verão, talvez desencadeados pelo calor e pela umidade.

Em vez de se sentirem letárgicos, os pacientes com TAS no verão costumam se sentir irritados e agitados.

Os cientistas estão estudando se o aumento das temperaturas como resultado da mudança climática pode prejudicar a saúde mental. Um estudo de 2018 sobre o estado de ânimo expresso nas mídias sociais descobriu que a linguagem depressiva aumentava conforme a temperatura.

O TAS é realmente uma doença? 

O TAS não é isento de céticos. Um estudo publicado em 2008 analisou as taxas de depressão entre as populações do norte da Noruega, onde não há luz solar durante dois meses de cada inverno, e não encontrou aumento sazonal.

Outro estudo publicado em 2016 analisou uma pesquisa nos EUA com pouco mais de 30 mil pessoas. Quando fizeram perguntas relacionadas à depressão, não houve um pico perceptível relacionado à estação ou latitude.

Steven Lobello, psicólogo da Universidade Auburn em Montgomery, Alabama (EUA), não está convencido de que o TAS se qualifique como um transtorno mental diagnosticável. Ele acha que estudos anteriores feitos para medir as taxas de TAS foram muito sugestivos. Em vez de ligar para as pessoas durante o inverno e perguntar se elas se sentem deprimidas, os estudos perguntaram às pessoas se elas já se sentiram deprimidas durante o inverno, o que muitas pessoas acreditam que sim.

“Se você fizer perguntas às pessoas de uma forma que permita que elas conheçam a natureza do que você quer dizer, acho que você não faz mais que medir essa crença”, acredita Lobello.

No entanto, Rohan diz que esses estudos podem não detectar o TAS porque é relativamente raro, considerando que representa cerca de 10% das pessoas diagnosticadas com depressão clínica.

“É como procurar uma agulha no palheiro e, por não encontrar agulhas, determinar que elas não existem”, diz ela.

Luz como terapia contra a depressão sazonal

Para aqueles que acham que podem estar sofrendo de TAS, os especialistas dizem que um diagnóstico profissional é o passo crucial para o tratamento.

“As pessoas não devem se autodiagnosticar", diz Rohan. “A depressão é um problema sério de saúde mental, por isso é melhor deixar isso para profissionais qualificados.”

Sentar-se em frente a uma caixa de luz brilhante é um dos tratamentos mais comuns para o TAS. Especialistas dizem que a chave é procurar caixas de luz que forneçam luz igual a 10 mil lux, uma medida de brilho.

“10 mil lux é como estar ao ar livre em um dia de verão em julho. É muita luz”, diz Desan.

Precisa ter cuidado com o tamanho da caixa, ele observa. Uma caixa de luz muito pequena pode não fornecer a quantidade de luz adequada para o tratamento. (O site de sua clínica lista caixas examinadas.)

Os especialistas recomendam sentar em frente a caixas de luz por cerca de 30 minutos, e geralmente nas primeiras horas da manhã, para ajudar a indicar ao corpo que é hora de acordar. Este tratamento pode melhorar o humor. A única desvantagem das caixas de luz, observa Rohan, é que elas funcionam apenas no dia em que você as usa, portanto, precisam ser utilizadas diariamente.

Psicoterapia e mudanças no estilo de vida

Um tratamento que pode ter benefícios mais duradouros é a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), uma forma de psicoterapia que Rohan sugere para o tratamento do TAS.

“Os pensamentos negativos tendem a gerar emoções negativas, e o que precisamos é transformá-los em pensamentos um pouco menos negativos e mais neutros”, diz ela sobre a abordagem da TCC. Por exemplo, “Eu odeio o inverno” pode ser reformulado como “o inverno não é minha estação favorita, mas ainda encontro coisas para aproveitar”.

Encontrar passatempos de inverno também pode ajudar

“As pessoas com TAS geralmente têm hobbies e interesses específicos do verão – cultivar jardins, ir à praia”, diz ela. Em vez de hibernar sob um cobertor, ela sugere que essas pessoas encontrem hobbies internos como tricotar, ingressar em um clube de leitura ou ir à academia.

As mudanças no estilo de vida também podem ser ferramentas úteis de saúde mental, diz Rosenthal. Exercitar-se, aprender maneiras de controlar o estresse ou planejar férias ensolaradas durante o inverno pode ajudar a levantar o ânimo, diz ele.

Seja por meio da fototerapia ou terapia de conversa, Rosenthal enfatiza que não há razão para não procurar tratamento de saúde mental, mesmo que os sintomas só estejam presentes durante alguns meses do ano. “Existem muitas estratégias que as pessoas podem usar para se dar bem o ano inteiro", conclui.

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