Por que a fertilidade feminina diminui após os 35 anos?

“A fertilidade está em um continuum”, dizem os especialistas. Embora a idade seja o golpe mais duro nas chances de uma mulher engravidar, muitos outros fatores também estão em jogo.

Por Stacey Colino
Publicado 7 de fev. de 2023, 10:10 BRT

Imagens de um feto tiradas com ultrassom.

Foto de Giovanni Gagliardi Alamy

Resulta cruelmente irônico que quando é biologicamente mais fácil para uma mulher engravidar e ter um bebê, muitas delas não estão interessadas em fazê-lo. E, no entanto, muitas mulheres não percebem até que ponto o tempo não está a seu favor nessa frente: na verdade, uma pesquisa realizada com mil mulheres entre 18 e 40 anos nos Estados Unidos descobriu que 20% não conheciam os efeitos da idade em sua fertilidade.

“A idade média em que as mulheres procuram engravidar tem aumentado constantemente”, diz Tarun Jain, endocrinologista reprodutivo e diretor médico do Centro de Fertilidade e Medicina Reprodutiva da Northwestern Medicine, em Chicago (Estados Unidos). Geralmente, isso geralmente acontece porque, quando a fertilidade das mulheres está no auge, elas estão focadas em suas carreiras e/ou não estão prontas para se estabelecer com o parceiro certo.

“Muitas mulheres ficam realmente surpresas ao saber o quanto a fertilidade diminui com a idade”, diz Jain. À medida que as mulheres envelhecem, acrescenta, “a fertilidade diminui e as taxas de aborto espontâneo e os defeitos congênitos aumentam. É um caminho que se torna mais doloroso com a idade”.

Esta é a realidade: a fertilidade de uma mulher (isto é, a capacidade de engravidar) está no auge entre o final da adolescência e o final dos 20 anos, de acordo com o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (Acog). Aos 30 anos, a fertilidade da mulher começa a diminuir e depois dos 35 a taxa acelera. Especificamente, segundo a pesquisa, antes dos 30 anos as mulheres têm 85% de chance de conceber dentro de um ano; aos 30, essas chances caem para 75%; e aos 35 cai para 66%. Aos 40 anos, uma mulher tem apenas 44% de chance de conceber em 12 meses.

Sandra Ann Carson, endocrinologista reprodutiva e obstetra-ginecologista da Universidade de Yale (EUA), diz que “a fertilidade está em um continuum” e explica que é uma inclinação descendente e gradual.

Causas da diminuição da fertilidade

Ao contrário de um homem, que pode fabricar um novo lote de esperma a cada 72 dias, a mulher nasce com todos os óvulos que terá na sua vida (aproximadamente de 1 a 2 milhões). Esse valor cai para entre 300 mil e 500 mil na puberdade e, a partir daí, continua sua trajetória descendente. Durante os anos em que uma mulher está menstruada, ela perde óvulos todos os meses. “Muitas mulheres acham que estão perdendo um óvulo por vez, mas é uma coorte de 10 a 20 por mês”, diz Jain.

Quando um óvulo maduro é liberado do ovário durante a ovulação, há uma janela de 12 a 24 horas quando ele pode ser fertilizado pelo esperma. “Os outros ovos morrem por meio de um processo chamado apoptose”, explica Jain. (A apoptose é uma morte celular biologicamente programada e é uma parte inerente da função ovariana humana.) Quando uma mulher chega aos 37 anos, sua contagem de óvulos cai para 25 mil, e aos 51, que é a idade média da menopausa nos EUA, ela tem no máximo mil óvulos em seus ovários.

"Faz parte do envelhecimento. À medida que envelhecemos, ficamos com rugas, e nosso metabolismo fica mais lento e continuamos a perder óvulos", detalha R. Kate Byron, obstetra e ginecologista da Universidade Estadual de Ohio, em Columbus, EUA.

No entanto, não é apenas uma questão de números. Também é uma questão de qualidade, porque aos 45 ou 50 anos, a maioria dos óvulos que permanecem nos ovários são cromossomicamente anormais, diz Joseph Hill, endocrinologista reprodutivo e especialista em fertilidade dos Centros de Fertilidade de New England, com sedes em Massachusetts, New Hampshire e Maine, estados norte-americanos. 

“A maioria dos óvulos cromossomicamente anormais não permitem a fertilização. Daqueles que sim, a maioria não se desenvolve em embriões que possam se implantar [no útero]. Dos que conseguem implantar, 70% são perdidos nas primeiras 11 semanas por aborto espontâneo”, explica Hill.

De fato, o número de óvulos cromossomicamente normais que uma mulher possui diminui com a idade, observa Carson. À medida que a mulher envelhece, tem um número maior de óvulos geneticamente anormais e, a cada mês após a ovulação, uma porcentagem maior de óvulos anormais fica na reserva.

Contrariamente, a idade dos homens não impacta em sua fertilidade: é verdade que a qualidade do esperma se deteriora um pouco à medida que os homens envelhecem, mas eles essencialmente têm uma nova chance para a produção de esperma a cada dois meses e meio. Como diz a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), “não há idade máxima para que um homem seja pai de um filho”.

“É tão injusto. À medida que os homens envelhecem, eles geralmente têm problemas com ereções, mas sua fertilidade não muda muito, enquanto a libido das mulheres tende a aumentar, e elas são menos férteis”, diz Carson, ex-presidente do ASRM.

Ameaças da fertilidade

Além da idade cronológica, existem fatores genéticos que podem influenciar a rapidez com que os óvulos de uma mulher morrem. “O declínio da reserva de óvulos acontece mais rapidamente em algumas mulheres do que em outras”, observa Jain. “Provavelmente, há algum tipo de programação biológica ligada a isso.” Por outro lado, acrescenta, “o útero não envelhece, são apenas os ovários, e é por isso que a gravidez pode ocorrer em mulheres mais velhas que usam um óvulo doado”.

Além disso, alguns fatores referentes ao estilo de vida, como exposição a toxinas ambientais, que incluem pesticidas e produtos químicos em plásticos (como o bisfenol A) e certas condições médicas podem afetar a qualidade dos ovos. “À medida que as mulheres envelhecem, há mais tempo para que fatores do estilo de vida e toxinas reprodutivas danifiquem os óvulos que estão em reserva”, diz Carson.

No que diz respeito ao estilo de vida, fumar é tóxico para os ovos e os danifica prematuramente, razão pela qual as mulheres fumantes costumam passar pela menopausa mais cedo do que as não fumantes, observa Hill. Um estudo publicado em uma edição de 2022 da revista PLoS One descobriu que mulheres que são fumantes compulsivas (mais de 10 cigarros por dia) ou fumantes de longa data têm maior risco de diminuição da reserva ovariana, uma condição na qual a quantidade e a qualidade dos óvulos da mulher estão abaixo do esperado para sua idade. Um estudo de uma edição de 2016 do BMJ descobriu que mulheres com idades entre 21 e 45 anos que consumiam álcool excessivamente (ao redor de 14 ou mais drinques por semana) tinham 18% menos chances de engravidar ao longo de um ano.

Enquanto isso, a obesidade pode afetar negativamente a fertilidade da mulher. Um estudo que envolveu mais de 2 mil mulheres em idade reprodutiva nos EUA e no Canadá descobriu que aquelas com índice de massa corporal (IMC) entre 35 e 39 tinham 22% menos probabilidades de engravidar em qualquer ciclo menstrual, em comparação com mulheres com índice de IMC saudável (entre 18,5 e 24); para aquelas com IMC entre 40 e 44, as chances eram piores, de 39%; aquelas com um IMC de 45 ou superior tiveram a menor probabilidade de fecundar, com uma chance 58% menor em comparação com aquelas com um IMC saudável. “Com o excesso de peso, ocorre uma reação inflamatória que pode afetar a qualidade dos óvulos e a implantação”, explica Hill.

Outros fatores não relacionados à qualidade dos óvulos também podem comprometer a fertilidade das mulheres. Ter um histórico de certas infecções sexualmente transmissíveis, como clamídia ou gonorreia, pode causar trompas de falópio bloqueadas ou cicatrizes tubárias que podem prejudicar a fertilidade em mulheres, observa Byron. Daí a importância de usar preservativos ou limitar o número de parceiros sexuais, dizem os especialistas.

Distúrbios hormonais que interferem na ovulação podem comprometer a fertilidade. Tal é o caso da síndrome dos ovários policísticos (SOP), uma condição marcada por níveis mais altos do que o normal de hormônios masculinos chamados andrógenos e, muitas vezes, excesso de peso corporal e resistência à insulina. O mesmo se aplica à endometriose, na qual o tecido semelhante ao revestimento do útero cresce fora dele. Miomas (crescimentos benignos de tecido muscular e fibroso que se desenvolvem no útero) podem, às vezes, causar problemas que aumentem o risco de aborto espontâneo, adverte Byron. E para uma mulher que recebeu quimioterapia ou radiação na pelve como parte do tratamento do câncer, essas intervenções podem afetar os ovários e impedir que eles liberem óvulos, observa Jain.

“Muitas mulheres não entendem que a fertilidade é multifatorial”, diz Byron. Quando se trata da saúde dos óvulos, a idade avançada é o golpe mais duro para a fertilidade de uma mulher, e por isso a importância de planejar a gravidez antes dos 35 anos, diz Byron. "O tempo é essencial."

Carson aconselha: “Se puder, tente engravidar antes dos 35 anos e, se não puder, pense em congelar seus óvulos”. Dessa forma, a saúde de seus óvulos será literalmente congelada no tempo para que você possa servir como seu próprio doador de óvulos mais tarde. Isso exigirá fertilização in vitro (FIV), processo no qual um óvulo é fertilizado por esperma em um laboratório e depois transferido para o útero. (Como alternativa, se com a idade você tiver problemas para engravidar, a fertilização in vitro pode ajudá-la sem usar um óvulo que foi congelado e descongelado.) O objetivo do congelamento de óvulos é que o relógio pare de marcar suas perspectivas de fertilidade.

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