Como a "dubaização" transforma as cidades do Golfo Pérsico
Idiossincrasias tomam conta de nações ricas em recursos mas pobres em tradições arquitetônicas.
Esta reportagem está na edição de fevereiro de 2018 da revista National Geographic Brasil.
Gigantescos shopping centers e hotéis em arranha-céus redesenharam o perfil de cidades como Dubai, Doha e Abu Dhabi. No meio do deserto, pistas de esqui internas recebem flocos de neve e jardins florescem. “Estão construindo um mundo artificial que não tem nada a ver com a natureza”, diz o espanhol Roger Grasas, cujo projeto Min Turab – expressão em árabe que significa “da terra” – tem como proposta fotografar os improváveis cenários surgidos com o surto desenvolvimentista do Golfo Pérsico.
Essas cidades “rejeitaram o passado”, diz Grasas. “Antes do petróleo, eram nações pobres. Agora associam tudo o que é novo a uma vida melhor.”
O desenvolvimento acelerado, sem consideração pela história ou pelo ambiente, foi chamado de “dubaização” por Yasser Elsheshtawy, ex-professor de arquitetura da Universidade dos Emirados Árabes Unidos. Espigões de manutenção dispendiosa e alto consumo energético “fomentam a segregação”, ao mesmo tempo que ameaçam os bairros históricos. Um motivo de esperança, porém, é que esse progresso também leva à melhoria das vias e dos transportes públicos – algo que beneficia a todos.
Os esforços para se preservar um “forte, palácio ou mercado” têm em vista o turismo, diz Elsheshtawy. Mas, nos últimos tempos, diante do fim da arquitetura tradicional, ele nota um impulso renovado para salvar “o que restou”.