Novo órgão pode estar escondido embaixo da sua pele

Identificado em ratos, o simples órgão provavelmente também existe em humanos, oferecendo uma nova visão sobre como lidamos com dolorosas picadas e pressões.

Por Catherine Zuckerman
Publicado 2 de set. de 2019, 17:37 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Uma imagem de microscópio mostra a estrutura de um órgão recém-descoberto chamado complexo nociceptor glio-neural, destacado ...
Uma imagem de microscópio mostra a estrutura de um órgão recém-descoberto chamado complexo nociceptor glio-neural, destacado em verde. Células nervosas nessa imagem estão em vermelho, enquanto as células de outras partes da pele estão em azul.
Foto de Reprinted with permission from Hind Abdo et al., Science, 16-Aug-2019.

A maioria das pessoas que já foi espetada por uma agulha sabe como é: primeiro a picada, depois, a dor aguda e a sensação de ardência, seguida da vontade de se afastar, ou no mínimo se encolher. O esquema exato de como essa reação universal acontece ainda não é totalmente compreendido, mas os cientistas podem ter descoberto uma importante peça no quebra-cabeça: um órgão sensorial desconhecido dentro da pele.

Batizado de complexo nociceptor glio-neural, a estrutura não se parece com um órgão como estamos acostumados a ver, como o coração ou o baço. É na verdade um órgão simples composto por uma rede de células chamadas de células da glia, conhecidas por proporcionarem suporte e nutrição aos neurônios. Neste caso, as células da glia formam uma estrutura em forma de malha entre as camadas externas e internas da pele, com filamentos que se estendem para a camada externa da pele.

De acordo com a publicação na revista Science, este órgão parece ter um papel importante na percepção da dor mecânica – desconforto causado pela pressão, picadas, e outros impactos na pele. Até o momento, acreditava-se que células individuais conhecidas como fibras nociceptivas eram as principais responsáveis por esse tipo de dor.

“Pensamos há cerca de cem anos que a dor começa em nervos na pele,” diz o coautor do estudo Patrik Ernfors, neurobiólogo molecular no Instituto Karolinska, na Suécia. “Mas o que vemos agora é que a dor pode ser iniciada nessas células da glia.”

Uma ilustração do complexo glio-neural mostra a localização do órgão na camada interior da pele, ou derme (d), e a camada exterior, ou epiderme (e).
Foto de Hind Abdo et al., Science, 16-Aug-2019.

Progressão da dor

Primeiramente, a equipe identificou o órgão em ratos, e testaram sua funcionalidade medindo a resposta dos animais a diferentes tipos de dor. Quando as células do órgão eram desligadas por edição de genes, eles reagiam de forma normal a dor pelo calor ou desconforto causado pelo frio ou calor. Mas todos os ratos mostraram uma resposta diminuída à dor mecânica quando o complexo glial estava desativado.

A descoberta muda o que os cientistas pensavam sobre o início e a progressão da dor – pelo menos em ratos. Eles ainda não comprovaram que o órgão existe em humanos, mas Ernfors diz que a probabilidade é alta.

“Considerando que todos os órgãos sensoriais em ratos também existem em humanos, é possível que este órgão também esteja presente na nossa pele,” ele diz.

Se comprovado, o estudo pode ajudar tratamentos de diversos distúrbios de dor neuropática, que atingem cerca de 10% da população dos Estados Unidos, e entre 7 e 10% da população da Europa, diz Ernfors. Por exemplo, encontrar formas de alterar essa rede de células pode trazer benefícios às pessoas que sofrem de alodinia, uma condição em que a pele se torna tão sensível que mesmo um toque leve pode causar uma dor excruciante.

“É uma descoberta muito importante,” diz Luana Colloca, neurologista e professora na Universidade de Medicina de Maryland, que não está envolvida no estudo. “É excitante saber que existe um sistema muito maior que as fibras nociceptivas, que é o que ensinamos aos nossos alunos.”

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