Papai Noel está online? Como o bom velhinho tem acompanhado as novas tendências
O Papai Noel está encantando as crianças com visitas virtuais e a Mamãe Noel está assumindo sua própria identidade.
O Papai Noel e seu elfo fazem a alegria das crianças online em vez de encontrá-las em shoppings.
O Papai Noel já presenciou muitas mudanças no Natal desde que o original, São Nicolau, circulou por comunidades pobres da Turquia do século 4 presenteando a população. Mas desde a publicação do poema “Uma Visita de São Nicolau”, de 1823 — que canonizou o personagem barrigudo, de terno vermelho e de barba cheia — o bom velhinho não passava por tantas mudanças em tão pouco tempo.
Em dois anos de covid-19, muitas crianças trocaram os momentos presenciais, no colo do Papai Noel, pelas sessões remotas pelo computador. O fechamento dos shoppings fez com que o Papai Noel aparecesse mais em festas de fim de ano e eventos corporativos. E a Mamãe Noel, que antes fazia apenas o papel de manter as crianças comportadas, está tomando cada vez mais seu lugar ao lado do Papai Noel — e às vezes tendo os holofotes só para ela.
O gene do Papai Noel
É o ponto alto das férias escolares e eu vou conhecer o Papai-Noel Ed Taylor da maneira que a maioria das crianças fez no ano passado: via Zoom. Mesmo estando do outro lado do continente em sua casa, em Oregon, Estados Unidos, o espírito alegre de Taylor é palpável. Seu sorriso é contagiante e seus olhos brilham. Não há dúvida de que sua barba cheia e esvoaçante é 100% verdadeira.
Taylor era um Papai Noel relutante no início. Cerca de 20 anos atrás, quando ele dirigia uma empresa de marketing em Northwest, um amigo que havia aceitado um trabalho voluntário de Papai Noel adoeceu. Ele pediu que Taylor o substituísse.
“Eu pensei, ‘Sério? Papai Noel?’”, relembra. “Mas era para uma arrecadação de doações e eu disse que toparia participar”.
Até hoje, Taylor fica arrepiado quando se lembra de entrar na sala de banquetes do hotel e ter sua primeira experiência como Papai Noel.
Papai Noel Ed Taylor. Suas visitas com as crianças mudaram de seu colo para seu computador.
“Todo mundo adora o Papai Noel”, diz Taylor. “E eu passei a amá-los também. Um amigo mais tarde me disse: ‘Seu gene de Papai Noel despertou naquele dia.’ E ele tinha razão”.
Para Taylor, aquele evento casual lançou uma carreira que, no alegre reino dos elfos antigos, é considerada lendária. Taylor liderou o desfile de Natal em Santa Monica, Califórnia, iluminou a árvore de Natal da Paramount Studios, apareceu em dezenas de programas de TV e comerciais e espalhou a alegria do Natal em vários eventos corporativos, ele até participou de uma celebração de início do feriado, na sede da empresa de brinquedos Mattel.
Os eventos pagam as contas, mas Taylor alimenta seu próprio espírito natalino ao receber visitas presenciais de crianças que possuem necessidades especiais, por meio de seu trabalho com o Los Angeles Dream Center, que atende pessoas carentes em toda a cidade.
“Fizemos um Natal em julho em que o Papai Noel foi de porta em porta, apartamento em apartamento, entregando coisas que as pessoas precisavam”, diz ele. “Graças a Justin Turner do Los Angeles Dodgers e sua fundação, o Papai Noel conseguiu entregar 100 bicicletas para filhos de presidiárias que cumprem pena na prisão feminina de Los Angeles. É o tipo de coisa que derrete o coração, seja você o Papai-Noel ou não”.
Por ser tão procurado, Taylor tem flertado com as visitas virtuais do Papai Noel há vários anos — uma versão mais tecnológica dos antigos serviços de “Receba uma ligação do Papai Noel” que fizeram sucesso na era analógica. Mas quando a covid0-19 surgiu em 2020, ele e seus colegas enfrentaram uma nova realidade: nesse período o Papai Noel precisaria realizar suas visitas online, diretamente do Polo Norte.
Na primavera de 2021, centenas de papais-noéis se reuniram via Zoom para um evento que Taylor agora chama de Conferência Mundial dos Papais Noéis. Um dos tópicos da reunião era: como viver a experiência do Papai Noel online.
“Fomo unânimes em uma questão”, ele conta. “A ideia de o Papai Noel simplesmente não aparecer naquele ano não era uma opção”.
Durante a conferência, Taylor encontrou, na chamada de vídeo, um Papai Noel que parecia estar sentado em uma sala fantástica, com lareira e neve caindo do lado de fora. “Eu disse: ‘ei, você! Nos conte sobre esse seu Polo Norte!”.
O Papai Noel em questão estava usando tecnologia de tela verde simples para se sobrepor a um fundo animado. “Era isso que precisávamos!” disse Taylor.
Nos meses seguintes, papais noéis em todo o mundo trabalharam para aprender a utilizar essa tecnologia. A única pergunta era: as crianças irão gostar de um Papai Noel virtual? E a resposta foi um milagre de Natal.
“Ficamos maravilhados”, lembra Taylor. “Antes eu fazia centenas de visitas por ano, mas nesse ano acabei fazendo 550 visitas de pouco mais de 12 minutos. Foi uma loucura!”
Antes de cada visita virtual, os pais preenchem um formulário online com o nome de cada criança, além de informações como suas idades, hobbies e o que o Papai Noel havia trazido no ano anterior.
“O resultado disso foi que as visitas se tornaram ainda mais mágicas”, conta Taylor. “Isso me permitia dizer coisas como ‘me conte sobre o balé! Eu sei que você está indo muito bem!’ E as crianças ficavam com os olhos arregalados, pensando, ‘Nossa, o Papai Noel sabe das coisas que eu faço!’”
Agora, segundo Taylor, muitas famílias estão incorporando as visitas virtuais nas tradições de Natal de sua família. Por isso, os futuros papais-noéis deverão dominar essas novas habilidades.
“Há uma grande diferença entre um encontro momentâneo com o Papai Noel em um shopping e uma visita on-line que pode durar cinco minutos ou mais”, diz Taylor. “O papai noel precisa ser treinado, não apenas na tecnologia, mas nas maneiras de sustentar uma visita virtual.”
Um grande desafio inicial, lembra ele, foi ensinar os papais-noéis a se manterem alegres.
“Muitos deles eram mais motoqueiros do que papais-noéis”, Taylor conta sorrindo. Agora, por meio de sua Rede Mundial de Papais Noéis, que possui três mil membros, Taylor oferece treinamento para papais-noéis em todo o mundo a partir de janeiro de cada ano.
O projeto de Taylor é apenas um dos vários que deram certo nos Estados Unidos. A Charles W. Howard Santa Claus School, em Michigan, que recebeu o nome em homenagem a um lendário Papai Noel dos anos 1930, pode ser considerada a melhor escola de papais-noéis e já oferece cursos há 85 anos.
“Tanto os papais noéis pagos como os voluntários estão todos empenhados em fazer um excelente trabalho.”
A Mamãe Noel conquista seu espaço
Assim como muitas meninas em Toronto, no Canadá, Cat Conner ficou deslumbrada com as vitrines decoradas da loja da Eaton. Mas o que chamou a atenção da garota não foram os novos brinquedos ou figuras animadas do Papai Noel e seus duendes. Na verdade, Conner ficou obcecada pela Mamãe Noel, de cabelos grisalhos e avental, que mesmo com um papel de coadjuvante, sempre foi uma figura muito feliz, prestativa e muito... natalina.
A Mamãe Noel, também conhecida como Cat Conner, está ofuscando o Homem de Vermelho.
“Eu queria ser a Mamãe Noel”, dizia Conner, sentada no quintal de sua casa, em Los Angeles. “E agora eu sou.”
Na verdade, ela já é uma Mamãe Noel há 45 anos — desde seus 20 anos. Além de participar de eventos ao lado do Papai Noel, Conner também faz apresentações solo. Além disso ela apresenta um show interativo como Mamãe Noel.
“Quando comecei, fazia aparições e as pessoas perguntavam: ‘Você é a mãe do Papai Noel?’ “Eu pensava, ‘Sério? As pessoas nem sabiam que o Papai Noel era casado!”.
No início, Conner participava de eventos como par de vários papais-noéis (“a maioria eram muito bons; alguns muito ruins”) — mas ela logo percebeu que a Mamãe Noel tinha um apelo especial.
“As crianças vinham direto para mim”, diz ela. “As vezes podiam ter medo do Papai Noel, mas nunca ficavam com medo de mim. A Mamãe Noel tem um efeito calmante em crianças agitadas. Acho que ela representa o lado mais suave do Natal.”
Como membro da seção do sul da Califórnia da Ordem Fraternal dos Papais-Noéis de Barbados (até agora não há uma organização similar para mamães-noéis), Conner recruta colegas para acompanhá-la em eventos que tenham um papel para o Homem de Vermelho. Mas os dias da Mamãe Noel como coadjuvante acabaram.
“Esse é o Natal mais agitado que tive em 45 anos”, diz Conner. “Eu não parei por um minuto. É preciso planejar tudo com antecedência: aonde ir; a que horas chegar; onde estacionar; preciso encontrar um Papai Noel ou estarei sozinha? Eu aparecia, fazia o show, e já saía para o próximo.”
Mesmo com o Natal em baixa, Conner pôde observar que as mamães noéis têm surgido com papéis mais importantes. Atualmente, a Mamãe Noel tem aparecido com mais frequência sentada em um trono ao lado do Papai Noel, assumindo sua parte da glória natalina.
“Não entendo quando não colocam um trono para a Mamãe Noel”, diz ela. “Mas eu trabalho com isso. Eu tenho um banquinho no porta-malas que posso trazer e colocar ali ao lado do Papai Noel. A Mamãe Noel chegou para ficar!”
Ainda assim, com quase dois milênios de tradição ligados a São Nicolau, ninguém espera que a Mamãe Noel assuma as rédeas do trenó do Papai-Noel.
“Eu vou te dizer uma coisa”, diz ela, inclinando-se. “Vou pegar emprestado a barba e a fantasia de um amigo e vou tirar algumas fotos de Papai Noel. Eu quero ver como é!”
Mas no fim das contas, Conner já conheça essa sensação. Ela e a Mamãe Noel já incorporam as qualidades que fazem do Papai Noel uma figura tão querida e universal — os mesmos valores que levaram um antigo bispo do Oriente Médio a expressar sua fé cristã entre os mais pobres.
“O que adoro no Papai Noel é que ele atravessa todas as barreiras”, diz Taylor. “Todo mundo adora o Papai Noel, essa personificação da bondade e da generosidade. E o mais importante: o Papai Noel ama a todos, não importa quem sejam.
“Esse é o trabalho de qualquer Papai Noel: compartilhar o Espírito do Natal.”