Minhocas poderiam se reproduzir no solo de Marte
Cientistas esperam que minhocas comuns possam, um dia, ser usadas para ajudar humanos a cultivar no planeta vermelho.
Várias condições tornam a Terra hospitaleira para a forma de vida que conhecemos, e uma delas é o solo em que cultivamos nosso alimento. É rico em uma complexa mistura de nutrientes, bactérias e fungos que permite que as plantas brotem. Por outro lado, descobriu-se que o solo de Marte é estéril e cheio de compostos potencialmente tóxicos.
Na corrida dos humanos em direção ao planeta vermelho, viver e comer ao chegar lá são os maiores obstáculos. Cientistas acreditam que é possível cultivar plantações de forma sustentável em Marte, mas, para isso, precisarão modificar o solo morto do planeta. O biólogo Wieger Wamelink pensa que minhocas podem ajudar.
Em seu laboratório de pesquisa holandês na Universidade de Wageningen, duas pequenas minhocas nasceram recentemente de uma colônia que vive em um solo criado pela NASA, para estimular o solo morto de Marte.
Para Wamelink, que trabalha no laboratório de pesquisa desde 2013, os nascimentos bem-sucedidos indicam que minhocas que cavam o solo simulado não apenas podem sobreviver – elas podem prosperar. Na Terra, as minhocas têm um papel crucial no ciclo da agricultura, e isso dá esperança aos pesquisadores de que, um dia, o mesmo possa acontecer em outro mundo.
Circulo Virtuoso
Para um sistema agricultor autossustentável existir em Marte, nenhuma parte da colheita plantada deve ser desperdiçada. As minhocas podem assumir a função de pegar as partes gastas da planta, como talos e folhas, e quebrá-las em nutrientes que possam ser aproveitados posteriormente. Além de lidar com essa matéria orgânica morta, esses bichos cavam túneis no solo que permitem que a água penetre nas raízes das plantas de modo mais uniforme.
“[Minhocas] pegam matérias orgânicas na superfície do solo – comem-na, mastigam-na – e, quando defecarem, as bactérias podem se quebrar ainda mais. Caso contrário, [sem as minhocas] você reduz os nutrientes no solo”, explica Wamelink.
“Em Marte”, ele continua, “você não pode permitir que algo seja desperdiçado”.
A pesquisa de Wamelink ainda está em uma fase bem preliminar, e condições marcianas completas ainda precisam ser simuladas por pesquisadores que tentam cultivar alimento. A bactéria que converte excremento de minhoca em nutrientes existia naturalmente no laboratório de Wamelink. Em Marte, esse não seria o caso.
Wamelink também enriqueceu o solo com nitrogênio, ao adicionar um tipo de fertilizante chamado esterco suíno. Ele especula que em Marte o adubo deveria ser feito de fezes humanas esterilizadas.
Para saber ao certo se é plausível cultivar plantações em Marte, como no livro e filme Perdidos em Marte, pesquisadores precisarão simular condições como aquelas vistas no planeta vermelho. E, para isso, são necessárias amostras de solo mais precisas.
É aí que entra Trent Smith. Ele é um biólogo espacial que administra a Missão de Exploração 1 (em inglês) da NASA. Enquanto trabalha na organização do Sistema de Produção Vegetal (Veggie, para abreviar), Smith ajuda a criar um tipo de solo chamado Marte 1A – do qual derivam o solo usado por pesquisadores como Wamelink.
Lidando com Toxinas
No geral, diz Smith, eles têm sido capazes de replicar o solo marciano com precisão, baseados em imagens de satélite do planeta. Mas o falso solo ainda carece de um componente-chave encontrado em Marte – percloratos. A classe química é criada na Terra por certas atividades industriais, porém pesquisadores ainda não foram capazes de replicá-la corretamente no solo marciano simulado.
Micróbios sobrevivem bem em percloratos, e ainda é possível que as plantas cresçam em um solo que contenha essa substância, afirmam Wamelink e Smith. Mas os compostos podem ser letais para as pessoas que os consomem, ou que comam plantas com eles cultivadas. Em estudos (em inglês) em que minhocas são expostas a altos níveis de percloratos, a maioria não sobrevive.
“Os estudos das plantas supõem que os percloratos sejam medicados”, diz Smith.
Para Wamelink e Smith, descobrir os processos naturais de remoção do percloratos do solo marciano permanece o maior obstáculo na forma de cultivar um sistema agricultor sustentável no planeta.
Wamelink também planeja pesquisar o tipo de bactéria e fungo mais adaptável ao ainda inospitaleiro solo do planeta vermelho. Uma vez que descobrirem isso, ainda há outro desafio: como polinizar suas plantas. Até agora, os pesquisadores têm feito isso manualmente, com uma pequena escova – uma tarefa que seria penosa demais em Marte.
Em relação a que animal recrutar como potencial polinizador do planeta vermelho, Wamelink sugere: “Achamos que pode ser a mamangaba”.