Eles viram a Terra do Espaço. Veja como isso os transformou

Do espaço, não é fácil descrever a majestade do nosso planeta. Mas é isso o que tentam aqui alguns astronautas.

Por Nadia Drake
fotos de Martin Schoeller
Publicado 27 de fev. de 2018, 16:44 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Samantha Cristoforetti
A astronauta italiana Samantha Cristoforetti detém o recorde da segunda viagem espacial ininterrupta mais longa realizada por uma mulher, tendo passado 199 dias na Estação Espacial Internacional em 2015. (Peggy Whitson, da NASA, bateu o recorde com quase cem dias a mais em 2017). Quanto mais tempo ficava em órbita, disse Cristoforetti, mais evoluída era a sua percepção do tempo da humanidade na Terra. Quando as enormes forças geológicas que esculpiram o planeta são visíveis com o passar dos olhos, as eras nas quais construímos as pirâmides e os arranha-céu se tornam quase indistinguíveis. É como se, do seu ponto de vista, todos os nossos monumentos tivessem sido construídos da noite para o dia.
Foto de Martin Schoeller

Leia a reportagem completa na edição de março de 2018 da revista National Geographic Brasil.

Participe de uma viagem por um dos locais mais estranhos do Universo – o planeta Terra –, acompanhando os dez episódios da série One Strange rock. Estreia em 24 de março. às 22h30.

Durante quase toda história humana, foi impossível situar a Terra numa perspectiva cósmica.

Para a maioria de nós, a Terra é o espaço que marca o horizonte da nossa existência. Aqui ficamos, limitados pela força da gravidade e pelas características biológicas. Mesmo hoje, após quase seis décadas de voos espaciais tripulados, raras pessoas tiveram a chance de contemplar o Sol “nascendo” por atrás da curvatura terrestre – desde 1961, exatas 556 pessoas desfrutaram dessa experiência única. Um número ainda menor, meros 24 indivíduos, viu a Terra encolher ao longe, ficando cada vez menor até virar um disco de diâmetro tão pequeno quanto o de um relógio de pulso. E apenas seis pessoas ficaram sozinhas no outro lado da Lua, impossibilitadas de avistar o nosso planeta.

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MIKE MASSIMINO | CIDADE DE NOVA YORK Em 2009, o astronauta da Nasa visitou o Telescópio Espacial Hubble, em órbita a 560 quilômetros, numa missão para ajustar pela última vez o famoso instrumento. O Hubble fica sempre apontado para o espaço; porém, ao cumprir as suas tarefas atado ao imenso observatório, Massimino acabou cativado pela visão da Terra. Com as verdejantes florestas tropicais na América do Sul, os áridos desertos africanos e as reluzentes áreas urbanas estendidas sob os seus pés, o planeta mais parecia um paraíso. “Em certo momento, me ocorreu que, se você pudesse ir ao céu, é assim que veria o planeta. Aí, pensei mais e disse: Não, é ainda mais belo que isso. É assim que deve ser o próprio céu! Vejo o nosso planeta como um paraíso. Temos muita sorte de viver aqui.”

O voo espacial é algo intrinsecamente artificial. Afinal, a nossa fisiologia evoluiu especificamente para se adaptar com êxito a este planeta, e não ao ambiente externo a ele. Talvez seja por esse motivo que os astronautas achem difícil narrar a experiência de contemplar de longe a Terra.

Um desses viajantes espaciais, o italiano Luca Parmitano, acha que ainda não dispomos de palavras que transmitam fielmente a realidade das viagens no espaço. Elementos indispensáveis da comunicação humana moderna, as palavras são restritas pelo significado e pela conotação, seja qual for a língua escolhida. Até meados do século 20, não havia por que tentar expressar o significado de se vislumbrar o planeta a partir do espaço sideral. Pois, “simplesmente, não pensávamos em termos de deslocamento pelo espaço”, comenta.

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    Gennady Padalka
    GENNADY PADALKA | PARQUE NACIONAL LOSINY OSTROV, RÚSSIA O russo é recordista em permanência no espaço – 878 dias em órbita de 1998 a 2015. Para ele, o trabalho em equipe e a amizade são virtudes vitais no ambiente letal do espaço. A maior ameaça à existência humana, diz, é a incapacidade de nos entendermos e de solucionarmos, juntos, os problemas. Para Padalka, o planeta vai resistir. Mas a nossa espécie sobreviverá aos seus impulsos mais egoístas e violentos?

    Tal experiência pode mudar a concepção de mundo da pessoa. Depois de viajar duas vezes no ônibus espacial Discovery, a astronauta americana Nicole Stott descobriu em si um novo impulso para criar obras de arte que representassem o que viu. Já o canadense Chris Hadfield conta que, enquanto estava em órbita ao redor da Terra, se sentiu mais conectado aos habitantes do planeta que em qualquer outro momento da sua vida.

    Kathy Sullivan, que, em 1984, se tornou a primeira americana a realizar atividades extraveiculares no espaço, retornou assombrada com os complexos sistemas que se imbricam para fazer da Terra um improvável oásis. “No decorrer desses voos, foi crescendo em mim um desejo e uma vontade concretos [...] de não só apreciar aquelas vistas e registrá-las em imagens”, conta ela, “mas, sobretudo, de fazer algo relevante e útil.”

    Ed Lu
    ED LU | CRATERA METEOR, ARIZONA, EUA Veterano de três missões espaciais da Nasa, entre 1997 e 2003, Ed Lu deu uma olhada no planeta e ficou impressionado com as imensas crateras abertas na crosta por impactos de origem externa. Em 2002, ele ajudou a criar a B612 Foundation, organização que se dedica ao que chama de “engenharia na maior escala concebível”, com o objetivo de evitar qualquer choque devastador de asteroides na Terra.

    Ao se aposentar da Nasa, Sullivan dirigiu o órgão federal americano que cuida de assuntos referentes aos oceanos e à atmosfera durante três anos, recorrendo aos olhos robóticos dos satélites orbitais para o seu trabalho. Segundo ela, o nosso planeta é de uma extraordinária beleza, diante da qual a astronauta jamais se entediava. “Não tenho certeza de que gostaria de conviver com alguém capaz de se cansar dessa beleza.”

    Em 1968, pela primeira vez na história, a missão Apollo 8 levou as primeiras pessoas para bem longe da Terra, em uma volta ao redor da Lua. Na véspera de Natal, o astronauta William Anders registrou uma imagem que iria se tornar inesquecível: um mundo vicejante erguendo-se acima do árido e esburacado horizonte lunar. Hoje conhecida como o “Nascer da Terra”, esta foto contribuiu imensamente para ampliar a percepção da beleza e da fragilidade do nosso planeta.

    “O ano de 2018 é o 50º aniversário dessa imagem emblemática que ajudou a definir o movimento ambientalista. Quais são as correções de trajetória que agora nos cabe fazer para que consigamos chegar ao 100º aniversário?”, pergunta o americano Leland Melvin. Juntamente com outros astronautas, ele está empenhado em um projeto para reavaliar o modo como equilibramos a saúde ambiental e as necessidades humanas, em busca de formas de vida mais sustentáveis.

    Leland Melvin
    LELAND MELVIN | LONG ISLAND, BAHAMAS Em 1986, Melvin passou a jogar futebol americano em nível profissional, no Lions de Detroit. Pouco depois, uma contusão encerrou a sua carreira e provocou uma mudança radical na sua vida, que o colocou em órbita. Em duas missões da Nasa, em 2008 e 2009, Melvin ficou atônito ao ver do espaço os oceanos terrestres. Tão variadas e intensas eram as cores, que ele se viu buscando por novas maneiras de descrever todas as tonalidades de azul. A curiosidade inesgotável e a boa vontade marcam os seus esforços para inspirar as pessoas, sobretudo as crianças, a cuidarem do planeta.

    A vontade de proteger o planeta é comum entre aqueles que tiveram a chance de deixá-lo. O cosmonauta russo Gennady Padalka é o ser humano que acumulou mais dias no espaço. O fascínio das viagens espaciais o manteve em atividade por 28 anos, mas algo ainda mais forte que a gravidade continuou a trazê-lo de volta pra casa.

    “Estamos geneticamente vinculados a este planeta”, analisa ele. E, por enquanto, somente a Terra reúne as condições para a manutenção da vida como a conhecemos. A última década de pesquisas astronômicas nos mostrou que somos apenas um entre bilhões de planetas na galáxia da Via Láctea, mas essa mescla específica de características geológicas, ecológicas e biológicas, hoje, faz deste estranho mundo rochoso o único que é perfeito para nós, seres humanos. Por isso, não há nada comparável ao nosso lar. 

    Leia a reportagem completa na edição de março de 2018 da revista National Geographic Brasil.

    One Strange Rock: Estreia em 24 de março
    Will Smith apresenta uma série em 10 episódios sobre o lugar mais estranho do universo, o Planeta Terra. Estreia sábado, 24 de março, às 22h30, no canal National Geographic.

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