Eles viram a Terra do Espaço. Veja como isso os transformou
Do espaço, não é fácil descrever a majestade do nosso planeta. Mas é isso o que tentam aqui alguns astronautas.
Leia a reportagem completa na edição de março de 2018 da revista National Geographic Brasil.
Participe de uma viagem por um dos locais mais estranhos do Universo – o planeta Terra –, acompanhando os dez episódios da série One Strange rock. Estreia em 24 de março. às 22h30.
Durante quase toda história humana, foi impossível situar a Terra numa perspectiva cósmica.
Para a maioria de nós, a Terra é o espaço que marca o horizonte da nossa existência. Aqui ficamos, limitados pela força da gravidade e pelas características biológicas. Mesmo hoje, após quase seis décadas de voos espaciais tripulados, raras pessoas tiveram a chance de contemplar o Sol “nascendo” por atrás da curvatura terrestre – desde 1961, exatas 556 pessoas desfrutaram dessa experiência única. Um número ainda menor, meros 24 indivíduos, viu a Terra encolher ao longe, ficando cada vez menor até virar um disco de diâmetro tão pequeno quanto o de um relógio de pulso. E apenas seis pessoas ficaram sozinhas no outro lado da Lua, impossibilitadas de avistar o nosso planeta.
O voo espacial é algo intrinsecamente artificial. Afinal, a nossa fisiologia evoluiu especificamente para se adaptar com êxito a este planeta, e não ao ambiente externo a ele. Talvez seja por esse motivo que os astronautas achem difícil narrar a experiência de contemplar de longe a Terra.
Um desses viajantes espaciais, o italiano Luca Parmitano, acha que ainda não dispomos de palavras que transmitam fielmente a realidade das viagens no espaço. Elementos indispensáveis da comunicação humana moderna, as palavras são restritas pelo significado e pela conotação, seja qual for a língua escolhida. Até meados do século 20, não havia por que tentar expressar o significado de se vislumbrar o planeta a partir do espaço sideral. Pois, “simplesmente, não pensávamos em termos de deslocamento pelo espaço”, comenta.
Tal experiência pode mudar a concepção de mundo da pessoa. Depois de viajar duas vezes no ônibus espacial Discovery, a astronauta americana Nicole Stott descobriu em si um novo impulso para criar obras de arte que representassem o que viu. Já o canadense Chris Hadfield conta que, enquanto estava em órbita ao redor da Terra, se sentiu mais conectado aos habitantes do planeta que em qualquer outro momento da sua vida.
Kathy Sullivan, que, em 1984, se tornou a primeira americana a realizar atividades extraveiculares no espaço, retornou assombrada com os complexos sistemas que se imbricam para fazer da Terra um improvável oásis. “No decorrer desses voos, foi crescendo em mim um desejo e uma vontade concretos [...] de não só apreciar aquelas vistas e registrá-las em imagens”, conta ela, “mas, sobretudo, de fazer algo relevante e útil.”
Ao se aposentar da Nasa, Sullivan dirigiu o órgão federal americano que cuida de assuntos referentes aos oceanos e à atmosfera durante três anos, recorrendo aos olhos robóticos dos satélites orbitais para o seu trabalho. Segundo ela, o nosso planeta é de uma extraordinária beleza, diante da qual a astronauta jamais se entediava. “Não tenho certeza de que gostaria de conviver com alguém capaz de se cansar dessa beleza.”
Em 1968, pela primeira vez na história, a missão Apollo 8 levou as primeiras pessoas para bem longe da Terra, em uma volta ao redor da Lua. Na véspera de Natal, o astronauta William Anders registrou uma imagem que iria se tornar inesquecível: um mundo vicejante erguendo-se acima do árido e esburacado horizonte lunar. Hoje conhecida como o “Nascer da Terra”, esta foto contribuiu imensamente para ampliar a percepção da beleza e da fragilidade do nosso planeta.
“O ano de 2018 é o 50º aniversário dessa imagem emblemática que ajudou a definir o movimento ambientalista. Quais são as correções de trajetória que agora nos cabe fazer para que consigamos chegar ao 100º aniversário?”, pergunta o americano Leland Melvin. Juntamente com outros astronautas, ele está empenhado em um projeto para reavaliar o modo como equilibramos a saúde ambiental e as necessidades humanas, em busca de formas de vida mais sustentáveis.
A vontade de proteger o planeta é comum entre aqueles que tiveram a chance de deixá-lo. O cosmonauta russo Gennady Padalka é o ser humano que acumulou mais dias no espaço. O fascínio das viagens espaciais o manteve em atividade por 28 anos, mas algo ainda mais forte que a gravidade continuou a trazê-lo de volta pra casa.
“Estamos geneticamente vinculados a este planeta”, analisa ele. E, por enquanto, somente a Terra reúne as condições para a manutenção da vida como a conhecemos. A última década de pesquisas astronômicas nos mostrou que somos apenas um entre bilhões de planetas na galáxia da Via Láctea, mas essa mescla específica de características geológicas, ecológicas e biológicas, hoje, faz deste estranho mundo rochoso o único que é perfeito para nós, seres humanos. Por isso, não há nada comparável ao nosso lar.
Leia a reportagem completa na edição de março de 2018 da revista National Geographic Brasil.