Não, nós não corremos perigo com a inversão do campo magnético da Terra

Um apocalipse geomagnético pode não estar próximo, mas existe uma ciência fascinante por trás da propaganda do fim do mundo.

Por Nadia Drake
Publicado 6 de fev. de 2018, 17:57 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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A Terra como foi vista pela tripulação da missão para a Lua Apollo 17 em 1972. O voo marcou a primeira vez que uma trajetória das missões Apollo permitiu que se fotografasse a calota polar da Antártida.
Foto de NASA

Muitas vezes na história do nosso planeta, os polos magnéticos da Terra se inverteram. Isso significa que uma bússola que aponta para o norte estaria apontando para a Antártida e não para o Ártico. Isso pode parecer estranho, mas é uma peculiaridade relativamente previsível. Movido pelas alterações do núcleo de ferro e da rotação da Terra, esse processo de inversão geomagnética tem feito o seu trabalho sem muita fanfarra por eras.

Isso é, até essa semana, quando um trecho de um livro descrevendo esse fenômeno apareceu online. Pouco tempo depois, vários websites começaram a anunciar que o fim do mundo estava chegando, um apocalipse geomagnético no qual tumores aparecem desenfreados, satélites caem do céu e a vida na Terra como conhecemos deixa de existir.

Verdade. Quase certeza que a vida na Terra será diferente do que conhecemos hoje em vários milhares de anos. Mas esses polos acrobáticos têm muito a ver com isso?

Primeiro, as coisas mais importantes: todos nós vamos morrer?

Sim.

Calma, calma!

Eventualmente, todos nós vamos morrer. Mas é provável que não morramos imediatamente, ou em um futuro próximo, quando a próxima inversão geomagnética da Terra acontecer.

Beleza. Então o que é uma inversão geomagnética?

Se a história geológica se repetir, os polos magnéticos da Terra devem eventualmente trocar de lugares. Isso é inegável. Baseado nos vestígios magnéticos deixados em rochas antigas, sabemos que nos últimos 20 milhões de anos, o norte e o sul magnético se inverteram aproximadamente a cada 200 e 300 mil anos (no entanto, essa taxa não é constante para toda a existência do planeta). A última dessas grandes inversões ocorreu há 780 mil anos, apesar de os polos passearem sem rumo entre essas grandes inversões.

Isso significa que estamos um pouco atrasados para uma inversão completa e alguns dados sugerem que uma inversão geomagnética é geologicamente iminente. Mas isso não quer dizer que uma inversão polar vai acontecer amanhã ou em um futuro próximo. E poderíamos apostar muito dinheiro que, por enquanto, o norte ainda aponta para o Ártico, apesar de nenhum de nós saber quando acontecerá a próxima inversão completa.

Tudo bem. Mas se acontecer logo, isso não será ruim?

Isso também não é claro. Cientistas estimam que as inversões polares anteriores foram lentas, com o norte e o sul migrando para as posições opostas durante cem anos. Isso é bom e ruim se você está preocupado em como uma inversão geomagnética irá afetar a vida na Terra.

A lenta inversão polar é boa porque isso significa que temos tempo para nos preparar e podemos fazer o nosso melhor para aperfeiçoar quaisquer efeitos desagradáveis antes deles realmente ficarem desagradáveis. Mas é ruim, porque o campo magnético do nosso planeta ajuda a nos proteger de prejudiciais radiações solares e cósmicas e uma inversão demorada significa que a Terra pode estar levemente menos protegida contra os nocivos raios espaciais por mais tempo do que gostaríamos.

Não é também nada muito dramático porque isso não significa que, de repente, você irá acordar e descobrir que o seu smartphone ache que a fábrica do Papai Noel é no Hemisfério Sul.

Que pena, isso parece chato. Então o que vamos realmente perceber?

O único grande efeito notável que certamente ocorrerá é que quando a inversão polar terminar, a agulha de sua bússola lhe dirá que o Norte é na Antártida e o Sul é em algum lugar perto do Canadá. Isso fará com que os nomes dos continentes americanos sejam temporariamente confusos (pelo menos, em uma escala de tempo geológico), mas será uma boa história para contar nas salas de aula.

Outra consequência interessante será que animais que usam o campo magnético da Terra para se locomover, como aves, salmões e tartarugas-marinhas, poderiam se perder durante viagens de rotina.  Eventualmente, eles irão organizar tudo e, assim como todas as outras coisas, a vida continuará. Muitos profetas do fim do mundo tentaram comparar as inversões geomagnéticas com as extinções em massa, mas os dados não são os mesmos.

Então não tem nada com que se preocupar?

Não exatamente. É verdade que quando os polos se invertem, o campo magnético da Terra pode ficar mais fraco, mas a sua força já é bem variável, então isso não é necessariamente incomum e, de acordo com a Nasa, não tem nenhuma indicação de que a Terra desaparecerá por completo. Por quê? Porque isso nunca aconteceu.

No entanto, se o campo magnético ficar substancialmente mais fraco e ficar dessa maneira por um período significativo, a Terra estará menos protegida de numerosas partículas de alta energia que estão constantemente voando ao redor no espaço. Isso significa que tudo no planeta será exposto a altos níveis de radiação, o que com o tempo poderia produzir um aumento de doenças como o câncer, assim como danificar espaçonaves e redes elétricas na Terra.

Essas são as consequências para as quais podemos nos preparar, e no que diz respeito a tudo abaixo da estratosfera, nós teremos uma atmosfera boa e espessa que também nos ajudará, agindo como um escudo.

Por enquanto, estamos fazendo um ótimo trabalho ao lançar toxinas carcinogênicas no meio ambiente e alterar a forma que os ecossistemas normalmente funcionam, então tem coisas piores com o que se preocupar a curto prazo.3

Dito isso, um bônus de ter um campo magnético mais fraco é que as auroras serão visíveis de latitudes muito menores – o céu noturno será muito mais épico.

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