Nossa galáxia está destinada a colidir com sua vizinha — mas quando?

Medições do observatório espacial Gaia ajustaram a previsão de quando e como a Via Láctea colidirá com nossa galáxia vizinha de Andrômeda.

Por Nadia Drake
Publicado 14 de fev. de 2019, 07:40 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
A galáxia de Andrômeda, também conhecida como Messier 31, brilha em uma imagem divulgada recentemente pela ...
A galáxia de Andrômeda, também conhecida como Messier 31, brilha em uma imagem divulgada recentemente pela Zwicky Transient Facility, a Unidade Zwicky de Observação de Objetos de Brilho Transitório, na Califórnia, EUA.
Foto de ZTF, D. Goldstein and R. Hurt Caltech

Nossa galáxia, a Via Láctea, está destinada a colidir com sua maior vizinha, um conjunto de estrelas cintilantes chamado de galáxia de Andrômeda. Esse cataclismo foi profetizado por físicos famosos, e os astrônomos sabem que, quando a poeira espacial baixar, nenhuma das galáxias será como antes: em aproximadamente um bilhão de anos do primeiro contato, haverá uma fusão das duas em uma só galáxia elíptica muito maior.

Contudo, novas medições das estrelas dentro de Andrômeda feitas pelo telescópio espacial Gaia, da Agência Espacial Europeia, estão mudando as previsões de quando e de como exatamente ocorrerá a colisão.

Como publicado por astrônomos no periódico Astrophysical Journal, a data do choque prevista originalmente para daqui a 3,9 bilhões de anos foi adiada em cerca de 600 milhões de anos. E, em vez de uma colisão frontal, os astrônomos agora estão prevendo um impacto inicial de relance—como uma batida no espelho retrovisor de um vizinho.

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“O panorama geral não é tão diferente”, afirma Roeland van der Marel, autor do estudo, do Instituto de Ciências de Telescópios Espaciais. “Porém as órbitas exatas são outras.”

Isso é uma boa notícia?

É inevitável. Andrômeda, atualmente a uma distância de 2,5 milhões anos-luz, avança em direção à Via Láctea a uma velocidade aproximada de 400 mil quilômetros por hora.

Os astrônomos sabem disso desde que Vesto Slipher apontou pela primeira vez um telescópio para Andrômeda e mediu o movimento da galáxia em 1912 (na época, ele não sabia que era uma galáxia, quando o pensamento convencional sugeria que era uma nebulosa dentro da Via Láctea. É desnecessário dizer que os cálculos de Slipher indicaram que essa ideia precisava ser revista).

Mais tarde, astrônomos que utilizavam o Telescópio Espacial Hubble conseguiram medir o movimento lateral de Andrômeda, que determina se as galáxias estão destinadas a um golpe direto ou a uma passagem cósmica de raspão. Usando essas observações, em 2012, van der Marel e sua equipe previram uma colisão frontal em aproximadamente 3,9 bilhões de anos—uma previsão que acabaram de alterar.

“É interessante, apesar de ser, de certa forma, uma mudança relativamente discreta em relação ao que se pensava antes”, afirma Brant Robertson, da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz.

O que Gaia fez de diferente do Hubble?

Gaia fez uma análise profunda das 1.084 estrelas mais brilhantes de Andrômeda e mediu seus movimentos. Em seguida, van der Marel e sua equipe calcularam a média dessas observações e o índice de rotação de Andrômeda pela primeira vez, além de fazer novos cálculos do movimento lateral da galáxia.

Essa última observação é “extremamente difícil de fazer a essas distâncias”, afirma Julianne Dalcanton, da Universidade de Washington.

Com os novos números, a equipe refez a trajetória de Andrômeda utilizando modelos de computador. E, quando aceleraram o movimento da galáxia, ela seguiu por um caminho ligeiramente diferente, mais tangente em direção à Via Láctea, adiando a derradeira colisão e chocando-se de raspão e não com um golpe frontal.

Agora as previsões sugerem que o choque inicial ocorrerá daqui a 4,5 bilhões de anos, o que não surpreende Dalcanton.

“Como estamos falando de bilhões de anos”, afirma ela, “até alterações discretas nos movimentos de hoje podem produzir resultados bastante distintos quando ‘acelerados’ ao longo de eras.”

Então como será essa pancada galáctica?

Na primeira aproximação, as duas galáxias estarão a uma distância aproximada de 420 mil anos-luz ou a uma distância suficiente uma da outra para seus discos brilhantes não interagirem. No entanto galáxias estão envoltas em uma grande quantidade de matéria escura e, quando a Via Láctea e a Andrômeda passarem uma pela outra, esses halos escuros esbarrarão.

“Isso causará atrito, desacelerando-as e fazendo com que percam energia—e se unam”, conta van der Marel.

Em outras palavras, as galáxias farão uma reversão, colidindo efetivamente, passarão uma pela outra, retornarão e colidirão novamente, o que se repetirá sem parar até que, em algum momento, essas colisões as tenham esculpido em uma única galáxia.

O que isso significa para a Terra?

Como na previsão original, essa fusão não significará grande coisa para quaisquer formas de vida terrestres que ainda existam em 4,5 bilhões de anos. O espaço é imenso, as estrelas estão bem distantes e até quando galáxias colidem, estrelas individuais raramente se chocam umas com as outras.

“Nosso planeta ainda orbitaria o Sol, mas em uma órbita com uma orientação mais aleatória e dentro de uma grande galáxia elíptica”, explica van der Marel.

Ainda assim, o espetáculo de luzes cósmicas que se desenrolará nos céus promete ser bastante espetacular. Conforme as duas galáxias se aproximam uma da outra, Andrômeda aumentará de tamanho cada vez mais no céu noturno e acabará se distorcendo em uma espiral deformada conforme a gravidade da Via Láctea a atrair. Em seguida, quando as galáxias começarem os movimentos de bumerangue e colisões, os gases comprimidos provocarão explosões que formarão novas estrelas.

“É aí que o céu ficará bem bonito”, afirma van der Marel.

A questão é se algo na superfície da Terra ainda estará vivo para notar. A essa altura, o Sol estará quase se tornando uma gigante vermelha, que é um estágio natural da evolução das estrelas. Nesse estágio, ele ficará mais claro e expandirá, engolindo Mercúrio e Vênus e transformando a Terra em um pedaço de carvão planetário.

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