Este é o asteroide com mais chances de atingir a Terra. Saiba como isso afeta nosso futuro

Novas e ultraprecisas medições mostram que as chances do asteroide Bennu cair na Terra nos próximos 300 anos são maiores do que se pensava, diz estudo da Nasa.

Por Michael Greshko
Publicado 12 de ago. de 2021, 15:48 BRT
Bennu

Apesar do risco ainda ser baixo, cientistas da Nasa descobriram que o asteroide Bennu (na foto) tem mais chances de atingir a Terra nos próximos 300 anos do que se pensava.

Foto de Kel Elkins, NASA Goddard Space Flight Center

Por milhões de anos, o asteroide Bennu, com sua superfície de aparência semelhante a uma pilha de entulho, orbitou o Sol relativamente sozinho. O asteroide, com cerca de 487 metros de largura em seu equador, não representa uma ameaça imediata ao nosso planeta, embora daqui a centenas de anos exista uma pequena chance de Bennu se chocar contra a Terra.

Em um novo estudo publicado na revista científica Icarus, cientistas utilizaram dados da espaçonave Osiris-REx da Nasa para fazer cálculos precisos da órbita de Bennu e sua futura proximidade com nosso planeta natal. Os pesquisadores analisaram o risco de impacto entre os dias atuais e o ano de 2300. O estudo revelou uma chance de 1 em 1.750 para a ocorrência de uma colisão nos próximos três séculos – probabilidade um pouco maior do que a estimativa anterior.

Quase todas as aproximações mais arriscadas com o asteroide Bennu ocorrerão no fim de 2100 e início de 2200, com maior probabilidade de ocorrer um impacto na tarde do dia 24 de setembro de 2182, uma terça-feira. Nesse dia, Bennu terá uma chance em 2.700 de atingir a Terra.

A equipe, liderada por Davide Farnocchia, engenheiro de navegação do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, chegou a essa estimativa revisada a partir da identificação da distância entre Bennu e a Terra em cerca de 2,13 metros, constatada dezenas de vezes entre 2019 e 2020. Esse nível de precisão é como medir a distância entre o Empire State Building e a Torre Eiffel em milésimos de centímetros.

“Bennu é certamente o asteroide mais amplamente estudado do Sistema Solar”, afirma o cientista planetário Dante Lauretta, da Universidade do Arizona, principal pesquisador da missão Osiris-REx e autor sênior do estudo. “Nós sabemos onde o asteroide estará daqui a 100 anos, em metros. Nenhum outro objeto no Sistema Solar possui esse nível de detalhamento no estudo de sua trajetória orbital – nem mesmo a Terra!”

A cientista planetária Amy Mainzer, da Universidade do Arizona, especialista em asteroides próximos à Terra que não participou do estudo, elogiou os cálculos “absolutamente minuciosos” da equipe. “A capacidade de prever o deslocamento futuro de um asteroide é totalmente determinada pela precisão com que se mede sua posição atual”, explica ela. “Essa equipe realizou uma medição extremamente precisa.”

Apesar da chance um pouco maior de impacto, os riscos que Bennu apresenta não devem preocupar a população. Existem mais de 99,9% de chance de que Bennu não atinja a Terra nos próximos três séculos, e um impacto com o asteroide não causaria uma extinção em massa, como o asteroide que formou a cratera de Chicxulub e extinguiu os dinossauros há 66 milhões de anos. Esse asteroide provavelmente tinha cerca de 10 quilômetros de extensão; Bennu tem menos de 487 metros de largura, em média.

Mesmo assim, uma colisão com Bennu seria devastadora na região em que ocorresse. Um impacto liberaria a energia de mais de 1,1 bilhão de toneladas de TNT, cerca de dois milhões de vezes a força da explosão devastadora do porto de Beirute, no Líbano, no ano passado.

Localizando um asteroide

Desde a descoberta de Bennu em setembro de 1999, os astrônomos vêm rastreando cuidadosamente a órbita do asteroide com telescópios terrestres, incluindo o antigo Observatório de Arecibo, em Porto Rico. Esses dados permitiram aos astrônomos prever a localização futura de Bennu com razoável precisão para o próximo século.

Bennu é classificado como um 'asteroide potencialmente perigoso', o que significa que o objeto possui mais 140 metros de largura e teoricamente poderia chegar a 7,48 milhões de quilômetros da Terra. Um estudo de 2014 constatou que o asteroide tinha quase 0,037% de chance de colidir com a Terra entre 2175 e 2199.

Contudo, até o momento, as simulações mostram aproximações a partir de setembro de 2135. Estudos anteriores revelaram que Bennu passará entre 120 mil e 531 mil quilômetros da Terra em 2135, possivelmente ficando mais próximo da Terra do que da Lua. Praticamente não existem chances de Bennu atingir a Terra, mas dependendo precisamente de quando e onde o asteroide se aproximar, a gravidade do nosso planeta pode ajustar a órbita do corpo rochoso o suficiente para colocá-lo em uma rota de colisão futura.

Simulações por computador identificaram as pequenas regiões do espaço pelas quais Bennu teria que passar para criar as condições de um futuro impacto. A principal questão é se a trajetória real de Bennu em 2135 passará por qualquer um desses “buracos de fechadura gravitacional”, que variam de centenas de metros a alguns quilômetros de extensão. Responder a essa pergunta exige que os cientistas tracem a trajetória atual de Bennu – e tudo o que poderia afetar sua rota futura – com precisão extraordinária.

A espaçonave Osiris-REx chegou ao asteroide Bennu no fim de 2018 como a primeira tentativa da Nasa – e a terceira da humanidade – de coletar amostras da superfície de um asteroide. A espaçonave, que coletou uma amostra empoeirada e pedregosa em outubro de 2020, atualmente está retornando para a Terra com o valioso material. Mas antes de coletar amostras, a Osiris-REx passou quase dois anos orbitando e estudando a superfície rochosa de Bennu.

Como a espaçonave passou muito tempo acompanhando o asteroide, Farnocchia e seus colegas conseguiram utilizar dados da Osiris-REx para mapear com precisão a localização de Bennu. A abordagem dos cientistas era como um problema de trigonometria do ensino médio: sabendo a distância entre Osiris-REx e Bennu e a distância entre Osiris-REx e a Terra, é possível calcular a distância entre a Terra e Bennu.

A equipe se concentrou em períodos nos quais tinham informações da posição da Osiris-REx em relação ao Bennu com uma precisão de um metro, com base nas imagens da superfície do asteroide que a espaçonave capturava. Os pesquisadores então mediram o tempo dos sinais de rádio trocados entre a Osiris-REx e a Terra em 15 bilionésimos de segundo.

Combinar esses dados significava que a equipe de Farnocchia poderia calcular a distância entre a Terra e Bennu em vários metros, em distâncias que variam de 83 milhões a mais de 323 milhões de quilômetros.

Sistema Solar como um todo

O novo estudo constatou que, em 2135, Bennu chegará a cerca de 197 mil quilômetros da superfície da Terra, uma diferença de nove mil quilômetros com relação às estimativas anteriores, uma margem muito mais precisa. Embora essa descoberta exclua diversas constatações identificadas anteriormente, algumas constatações – assim como rotas de colisão futuras – ainda estão dentro da margem de erro da órbita. A partir disso, a equipe pôde revisar suas estimativas do risco de colisão apresentado por Bennu.

A incerteza persistente sobre a trajetória futura da rocha espacial não se origina do asteroide em si ou dos dados da Osiris-REx. Mas sim do restante do Sistema Solar.

Quando Farnocchia e seus colegas realizaram as simulações, tiveram que considerar diversos fatores, incluindo como ocorre o aquecimento de Bennu pela luz solar e como centenas de outros objetos no Sistema Solar, mesmo tão distantes quanto Plutão, puxam o asteroide gravitacionalmente. O problema é que os pesquisadores tiveram que estimar as massas para a maioria dos objetos dentro de um grupo específico: os 343 maiores corpos no cinturão de asteroides.

“Achei incrível que outros asteroides exercem alguma influência”, conta Lauretta. Quando outras fontes de erro ficam pequenas o suficiente, “esses efeitos aparecem e são surpreendentes”.

As missões futuras devem ajudar a refinar essas estimativas. A próxima missão da Nasa, a Near-Earth Object (Neo) Surveyor, com lançamento previsto para 2026, compreende um telescópio espacial infravermelho projetado para procurar assinaturas térmicas de asteroides, que podem ser utilizadas para estimar os tamanhos dos corpos rochosos. Espera-se que o telescópio encontre milhares de asteroides, bem como forneça dados melhores sobre aqueles que já foram identificados.

“Buscamos o máximo de informação sobre o maior número possível de objetos na galáxia, para ter uma noção razoável do que pode acontecer”, revela Mainzer, principal investigadora da NEO Surveyor.

Mainzer e Lauretta acrescentam que enviar mais espaçonaves a outros asteroides ajudaria – e a própria Osiris-REx está pronta para outra missão. Em setembro de 2023, a espaçonave voará pela Terra, lançará uma cápsula contendo amostras do asteroide Bennu no deserto de Utah e continuará sua jornada pelo Sistema Solar. Até o momento, a equipe de Lauretta encontrou apenas um próximo alvo viável para a Osiris-REx: o asteroide próximo à Terra chamado Apófis, que se aproximará da Terra em abril de 2029.

A Terra está a salvo do Apófis pelo menos até o próximo século. Mas, desconsiderando os riscos que os asteroides apresentam para o nosso planeta, visitar mundos como o de Apófis proporcionará aos cientistas novas perspectivas e terrenos para explorar – e um sentido mais amplo da história do Sistema Solar.

Os cientistas ainda têm mais de um século para continuar monitorando o risco imposto por Bennu à Terra e para modificar esse risco, se necessário. As agências espaciais já estão testando procedimentos e tecnologias necessárias para neutralizar a ameaça de um asteroide. Em 2022, a espaçonave Dart da Nasa colidirá com uma minilua de aproximadamente 170 metros de largura orbitando um asteroide próximo à Terra, com o objetivo de alterar sua órbita.

Se a humanidade for ameaçada pelo impacto de um asteroide no futuro, versões maiores desses “impactantes cinéticos” poderiam ser utilizadas para direcionar o asteroide para uma órbita segura – contanto que saibamos com pelo menos vários anos de antecedência sobre uma colisão prevista. Para objetos como Bennu, que foi descoberto quase 200 anos antes de qualquer impacto potencial, Mainzer afirma que a humanidade tem “definitivamente muitas opções a serem exploradas”.

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