Missão da Nasa toca asteroide Bennu – coleta de amostras a ser confirmada

A histórica tentativa de coletar material do asteroide Bennu pode fornecer pistas sobre a origem do nosso Sistema Solar – e da própria vida.

Por Michael Greshko
Publicado 21 de out. de 2020, 06:04 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 01:56 BRT
Como um aspirador de pó, a cabeça do coletador da nave Osiris-Rex parece ter operado sem ...

Como um aspirador de pó, a cabeça do coletador da nave Osiris-Rex parece ter operado sem problemas durante a coleta de material da superfície do asteroide Bennu. A Nasa ainda aguarda uma confirmação.

Foto de Ilustração da NASA/Goddard Space Flight Center

Littleton, Colorado, EUA – Em uma das mais ousadas brincadeiras de pique-pega da história humana, a espaçonave Osiris-Rex, da Nasa, alcançou com sucesso e tocou Bennu, um pequeno asteroide em formato de pião que circula pelo Sistema Solar há um bilhão de anos. Se tudo decorreu de acordo com o planejado, a nave recolheu um pouco do material do astro durante um breve momento de contato e partiu depois de alguns segundos com uma carga preciosa: rochas e poeira da época do nascimento do Sistema Solar.

Levará alguns dias para se confirmar se a coleta da amostra foi bem-sucedida, mas a equipe já sabe que a nave tocou solo em Bennu a apenas 75 cm do alvo inicial.

"Estamos nos distanciando da superfície do asteroide em segurança", disse o cientista planetário da Universidade do Arizona Dante Lauretta, pesquisador principal da Osiris-Rex, depois da equipe confirmar que o mecanismo de coleta da nave tinha sido ativado. "Conseguimos, tocamos na superfície de um asteroide."

A espaçonave Osiris-Rex navegou com sucesso estreita a estreita região alvo – do tamanho de algumas vagas de estacionamento, oito metros –, enquanto coletava material da superfície do asteroide Bennu.

Foto de Imagem de um vídeo da NASA, Goddard, CI Lab

A quantidade de poeira e pedras que Osiris-Rex poderá retornar à Terra só não será maior do que o material que as missões Apollo trouxeram da Lua. Se a coleta feita por Osiris-Rex for confirmada, a nave deixará Bennu em Março de 2021, chegando à Terra dois anos e meio depois. A cápsula contendo as amostras será ejetada na descida e cairá de paraquedas no deserto do estado americano de Utah.

A Osiris-Rex deve fornecer informações importantes sobre a história de Bennu, e talvez ajude cientistas a compreender a origem da água e da vida na Terra.

"Asteroides são como cápsulas flutuando no espaço e podem oferecer um registro fóssil sobre o nascimento do nosso sistema solar", disse Lori Glaze, diretora da divisão de ciências planetárias da Nasa, em um comunicado à imprensa em 19 de outubro. "Eles podem oferecer informações valiosas sobre como os planetas – incluindo o nosso – surgiram."

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    Guiada por um mapa digital, a Osiris-Rex voou entre enormes rochas ao redor da zona de pouso, fazendo uma descida arriscada. O alvo de pouso, mostrado aqui em um círculo azul, tem oito metros de diâmetro.

     

    Foto de Ilustração da NASA/Goddard/University of Arizona

    Algumas rochas espaciais também podem ser ameaças ao futuro da vida na Terra – incluindo Bennu. A Nasa estima que há uma chance em 2,7 mil do asteroide se colidir com a Terra em algum momento no fim dos anos 2100. Daqui a décadas, quando medições futuras confirmarem uma rota de colisão, os dados de Osiris-Rex ajudariam cientistas a monitorar o asteroide e eventualmente alterar sua órbita para evitar um impacto potencialmente catastrófico.

    Em busca de um mundo antigo

    Chegar até Bennu tem sido uma longa jornada de 16 anos para a equipe de astrônomos.

    Apesar da missão ter sido concebida em 2004, a Nasa só selecionou o projeto para voar formalmente em maio de 2011. Alguns meses depois, o líder original da Osiris-Rex, o cientista planetário da Universidade do Arizona Mike Drake, morreu de uma doença causada por falha do fígado. Dante Lauretta assumiu o cargo deixado pelo mentor, e a missão tem sido dedicada à memória de Drake desde então.

    Para atingir em segurança a zona de coleta Nightingale no Bennu, a equipe da Osiris-Rex teve que mapear todos os riscos potenciais na superfície. Regiões verdes são seguras. Caso a nave seguisse em direção a uma área em amarelo ou vermelho, a descida seria suspensa para o dia seguinte.

    Foto de Ilustração da NASA/Goddard/University of Arizona

    Como a Osiris-Rex não conseguiria coletar partículas maiores que dois centímetros de diâmetro, a equipe também mapeou as melhores áreas para a coleta na zona Nightingale. Áreas em azul aparentam ter muito material particulado, enquanto as em vermelho tem objetos grandes demais.

    Foto de Ilustrações da NASA/Goddard/University of Arizona

    "É uma conquista magnífica ao sonho que [Drake] teve", disse o administrador associado da Nasa Thomas Zurbuchen, que era amigo de Drake. "Tem um tremendo senso de conquista que eu tenho certeza que ele teria, um orgulho na equipe, se ele estivesse aqui – e, em espírito, nós acreditamos que ele está."

    Depois do lançamento, em 8 de setembro de 2016, a Osiris-Rex viajou dezenas de milhões de quilômetros até chegar em Bennu em dezembro de 2018. Bennu é o menor corpo celeste que uma espaçonave já orbitou: uma pilha de entulho com menos de 520 metros de diâmetro em média de largura que mal é sustentada por sua fraca gravidade. Em condições tão tênues, mesmo forças sutis poderiam desequilibrar a Osiris-Rex, como a pressão da luz solar empurrando a nave.

    Por isso, a equipe da Osiris-Rex teve que modelar o comportamento da nave e checar sua órbita em um grau nunca antes visto. Se não houvessem correções regulares, erros na trajetória de Osiris-Rex se somariam muito rápido, eventualmente deixando os pesquisadores sem um senso acurado da posição da nave em determinado momento.

    "Batemos os recordes mundiais de menor órbita alcançada e menor corpo orbitado, e tem um motivo por que as pessoas não tentaram isso antes – é muito difícil", disse Olivia Billet, da empresa terceirizada Lockheed Martin e engenheira de sistemas da Osiris-Rex. "É uma maneira completamente nova de operar."

    A paisagem de Bennu também trouxe à Nasa surpresas desagradáveis. Antes do lançamento da Osiris-Rex, os pesquisadores esperavam que o asteroide tivesse uma areia fina e macia na superfície. Mas, quando a nave chegou, a Nasa aprendeu que Bennu é, na verdade, coberto por grandes rochas. 

    Osisis-Rex tinha sido projetada para um terreno muito menos acidentado, o que obrigou a equipe a atualizar o software de navegação da nave no meio da missão. Para fornecer a esse software a maior quantidade possível de informação, a equipe da Osiris-Rex mapeou toda a superfície do asteroide a uma resolução de 5 cm – de longe o mapa global mais detalhado que uma espaçonave já fez de um corpo celestial. "Nós realmente tivemos que apontar nossos lápis", disse o engenheiro chefe Mark Fisher, da Lockheed Martin. 

    Trazendo tudo de volta

    Apesar da equipe ainda esperar pela confirmação da amostra, os dados já recolhidos pela nave revelam que moléculas com carbono, necessárias para a vida, estão por toda parte na superfície de Bennu, incluindo o local de amostragem Nightingale. Pesquisadores já estão preparando laboratórios em todo o mundo para estudar o material e buscar pistas sobre a origem da vida no Sistema Solar.

    "Bennu se tornou tudo o que esperávamos que se tornasse", disse Lauretta. "Cientificamente, é [...] uma poeira valiosa."

    Duas missões anteriores de coleta de amostras em asteroides – conduzidas pelas naves Hayabusa e Hayabusa2, do Japão – abriram o caminho para a Osiris-Rex. Hayabusa retornou com a primeira amostra de um asteroide em 2010, e a Hayabusa2 soltará sua carga – uma cápsula contendo vários gramas do asteroide Ryugu – do espaço em direção ao deserto australiano em 6 de dezembro. 

    Mas as missões japonesas coletaram apenas pequenas quantidades de material muito granulado. Em comparação, Osiris-Rex foi projetada para recolher até 2 kg de amostras, que vão desde pequenos grãos até pedras de dois centímetros de diâmetro.

    Em 11 de fevereiro de 2016, a Osiris-Rex passou por testes ambientais em uma câmara de vácua da Lockheed Martin. Lançada quase sete meses depois, em 8 de setembro de 2016, a espaçonave está agora há mais de 320 milhões de quilômetros da Terra.

     

    Foto de Lockheed Martin

    Jamie Elsila, uma pesquisadora do Centro de Voo Espacial Goddard, da Nasa, em Greenbelt, estado americano de Maryland, está interessada em aminoácidos – blocos de produção de proteína – que se formaram na poeira de Bennu através de processos químicos abióticos. A vida na Terra usa 20 aminoácidos, mas vários outros tipos já foram encontrados em meteoritos que caíram por aqui. As amostras perfeitas de Bennu poderiam jogar luz em quais aminoácidos estiveram presentes no início do Sistema Solar e como essas proporções podem ter afetado a origem da vida na Terra.

    Apenas o começo

    O toque bem-sucedido ao solo já dá um certo alívio, mas a equipe ainda não está pronta para estourar o champanhe. A próxima semana e meia será crucial para checar se a Osiris-Rex de fato coletou o material de Bennu como planejado.

    Nos próximos dias, pesquisadores devem enviar um comando para a nave realizar uma pirueta em volta de si com o braço robótico estendido. Quanto mais material a Osiris-Rex tiver coletado, mais força será necessária para acelerar a rotação da nave, o que deve permitir aos pesquisadores estimar a quantidade coletada dentro de uma margem de erro de poucas gramas. Em 30 de outubro, Zurbuchen deve decidir se a Osiris-Rex guarda a amostra para retornar à Terra ou volta à Bennu para uma segunda tentativa. 

    Missões futuras para outros antigos e pequenos mundos já estão sendo planejadas, como um voo até o asteroide metálico Psique. A Lockheed Martin, que abriga o centro de controle da Osiris-Rex, também está construindo a nave Lucy para a Nasa, que deve ser lançada no fim de 2021 para visitar os asteroides troianos, que orbitam Júpiter. 

    Esses minúsculos mundos podem ajudar a resolver os grandes mistérios cósmicos. E como um detetive impaciente no caso mais importante da vida, Lauretta está ansioso para ver as pistas oferecidas por Bennu. "Eu não posso esperar para pegar essas amostras", diz ele. "Nos divertiremos muito."

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