Um raro olhar sobre uma família de linces-pardos

Esta fotógrafa especializada em vida selvagem formou uma conexão incomum e emocionante com uma mãe e os filhotes desta espécie de felinos.

Por Alexa Keefe
fotos de Karine Aigner
Publicado 14 de mai. de 2018, 11:41 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Todos os dias, a mãe lince e seus filhotes saíam de baixo da casa e iam ...
Todos os dias, a mãe lince e seus filhotes saíam de baixo da casa e iam direto para o pote de água, que era permanentemente deixado cheio pelo dono do rancho.
Foto de Karine Aigner

Em um dia quente no estado norte-americano do Texas, em junho do ano passado, a fotógrafa de vida selvagem Karine Aigner deu de cara com um lince-pardo e, assim, teve início um relacionamento inesperado.

“Já haviam me falado que linces-pardos se abrigavam debaixo da casa havia anos, mas, durante os seis verões que passei ministrando um curso de fotografia no rancho, eu só os havia visto uma ou duas vezes”, conta ela.

Sabe-se que linces-pardos são tímidos, e mesmo vivendo espalhados por todo os Estados Unidos, conseguir mais do que um vislumbre é raro. Ela nunca havia considerado estes felinos um tema para fotografar.

Mas, naquela semana, após avistar um dos filhotes correndo pelo pátio, Aigner decidiu tentar a sorte. “Eu me convenci de que estaria bem escondida por trás do meu pseudo-bivaque camuflado amarrado em cada lado a cadeiras externas” ela disse. “Eu estava improvisando”.

Ela se entregou ao sol quente da tarde com sua lente de 600mm apontada para o pote de água que o dono da casa mantinha na varanda.

“O sol começou a se pôr e ela apareceu, como fazem os linces-pardos, de maneira silenciosa e repentina” lembra Aigner. Seu coração estava disparado enquanto ela observava o animal, que posteriormente chamaria de “mãe-gato”, beber água do pote com um de seus filhotes ao lado. “Nós olhamos uma nos olhos da outra pelo o que pareceu uma eternidade. Obviamente, minha camuflagem não estava funcionando”.

Aigner reorganizou sua agenda para que pudesse passar o resto do verão com a mãe-gato e seus três filhotes. Ela passava seus dias observando silenciosamente a rotina diária dos animais: eles dormiam juntos debaixo da casa até que o calor diminuísse, e então se aventuravam juntos bebendo água, brincando e se limpando.

“De repente, a mãe partia para além das cercas” disse Aigner, “e, como que por um comando implícito, três pequenos rabos de lince se alinhavam na varanda a observando partir. Quando pensava nisso, quase parecia que ela os estava deixando sob os meus cuidados. Linces-pardos mudam de esconderijo a qualquer sinal de perigo. A mãe-gato nunca se mudou”.

Aigner observou a mãe-gato afugentar outros linces-pardos e matar uma mãe guaxinim com seis filhotes que haviam se aproximado do pote para beber água. “Certas noites, ela trazia para casa coelhos e ratos, posicionando-os para os filhotes bem na minha frente, e outras noites ela deixava os filhotes completamente sozinhos”.

Ela observou os filhotes ficarem cada vez mais corajosos e mais curiosos, até que criaram a coragem de ousarem e caçarem sozinhos.

 “A mãe-gato me deixou entrar em seu mundo” disse Aigner. “Ela deixou que eu visse como é ser um lince-pardo e o que é necessário para ser uma mãe solteira com três filhos. Nós nos refugiamos no mundo da outra. Eu não tinha outra intenção a não ser estar presente, e parecia que ela sabia disso”.

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    A mãe cuidava muito bem de seus filhotes, ensinando-os coisas novas a cada dia.
    Foto de Karine Aigner

    O verão acabou e, assim como os filhotes seguiam em frente, também era hora para Aigner voltar à sua vida normal. Mas a experiência a marcou. Quando ela voltou ao Texas no outono a trabalho, decidiu visitar o rancho.

    “Meu lado racional sabia que eles não deveriam estar mais lá, mas minha esperança dizia o contrário” disse Aigner. “Eu sabia que não devia me apegar a um animal selvagem. Eu me referia a eles secretamente como ‘meus filhos’, mas nunca os dei nomes. Meu coração estava disparado”.

    Aigner olhou debaixo da casa, como sempre fazia, mas os filhotes haviam partido. Quando Aigner se virou para ir embora, um lince-pardo desceu os degraus lentamente com as costas viradas para ela. Ele parou no fim dos degraus e virou para ela, quando começou a lamber calmamente suas patas.

    “É raro que um lince-pardo pare para se limpar na sua frente. Eu sabia que era ela” disse Aigner. “Ela se virou para mim e olhamos uma nos olhos da outra, como fizemos no início”.

    A estrutura do rancho fornecia mais do que abrigo em tardes escaldantes, os filhotes o utilizavam como um trepa-trepa ou parquinho.
    Foto de Karine Aigner

    Nesse momento, Aigner diz, ela percebeu o presente que havia recebido. “Há uma conexão implícita entre os seres vivos. Eles nos ensinam tanto, se apenas nos permitirmos parar e prestar atenção”.

    Aigner observou a mãe-gato voltar pelo seu buraco na cerca e com lágrimas rolando no rosto, sussurrou: “Adeus, mãe-gato. Obrigada”.

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