Disco misterioso é encontrado em naufrágio da Grécia Antiga
O local fascina arqueólogos há décadas, inclusive Jacques Cousteau. Até um "computador" primitivo já foi encontrado.
Braços e pernas de bronze, a tampa de um sarcófago, peças de uma estátua de mármore e um misterioso disco de bronze foram encontrados nas escavações de um dos naufrágios mais antigos e famosos do mundo.
A Divisão de Antiguidades Subaquáticas da Grécia – agência governamental do Ministério de Arqueologia do país – anunciou as descobertas na semana passada, depois das escavações que ocorreram entre 4 e 20 de setembro. Localizado na costa da ilha grega de Anticítera, a 55 metros de profundidade, o naufrágio de Anticítera pode nos dar algumas ideias sobre a cultura romana em seu auge.
"[Arqueólogos marinhos] encontraram um enorme tesouro de estátuas de mármore e bronze e outros itens", afirmou um dos líderes da expedição, Aggeliki Simossi.
De acordo com Simossi, o navio mercante do século 1 a.C. tinha como destino Roma, onde os mais ricos decoravam suas moradias com arte grega. Grande para o seu tempo, o navio media aproximadamente 40 metros de comprimento, e abrigava um grande número de artefatos quando partiu para a Itália.
As imagens feitas durante a escavação mostram os arqueólogos puxando um braço com cotovelos e dedos – fragmento de uma escultura realista. A posição de algumas das mãos das estátuas, com os dedos apontando para cima e para fora, sugerem que as estátuas foram inspiradas em filósofos.
Embora as estátuas provavelmente tenham sido consideradas arte de alta qualidade em seus dias, talvez o artefato mais intrigante encontrado seja um pequeno disco de bronze. Marcado com furos e decorado com a imagem de um touro, não há evidências sobre a real função do disco, de acordo com Simossi.
"Talvez seja um artigo de decoração, ou talvez um selo, ou até mesmo um instrumento", disse ela. "É muito cedo para dizer".
A peça se assemelha à máquina de Anticítera, um pequeno disco de bronze capaz de medir os movimentos celestes com impressionante precisão. Esta peça foi encontrada entre os restos do navio em 2006. O mecanismo é tão preciso que é comumente considerado um "computador primitivo".
A equipe de arqueólogos, liderada por Simossi e pelo arqueólogo Brendan Foley, da Universidade de Lund, na Suécia, seguirá estudando os restos da embarcação encontrados neste ano. Depois, retornam ao local do naufrágio em maio de 2018 para realizar mais escavações.
Embora Simossi diga que o trabalho de campo deste ano encontrou uma embarcação maior do que nos anos anteriores, o naufrágio de Anticítera segue rendendo frutos. Os restos foram descobertos em 1900 por mergulhadores que encontraram membros de estátuas de bronze.
Os membros "órfãos", como são chamados por arqueólogos, sugeriram que havia mais tesouro esperando para ser encontrado. O famoso explorador marinho francês Jacques Cousteau escavou as ruínas em 1976, encontrando estátuas e outros artefatos menores.
Embora o local seja conhecido há mais de 100 anos, as escavações têm sido intermitentes desde a viagem de Cousteau, na década de 1970. Quando Foley voltou à região em 2014, o interesse arqueológico veio junto. Talvez um dos achados mais significativos tenha ocorrido em setembro do ano passado, quando restos humanos foram encontrados. Foi a primeira oportunidade de estudar um DNA de 2 mil anos atrás ligado ao naufrágio, fornecedo ainda mais pistas para a história da embarcação. O DNA ainda está sendo analisado, mas o trabalho inicial sugere que ele pertencia a um homem jovem.
Ao discutir a descoberta em 2016 com a revista científica Nature, Foley especulou que o navio afundou de repente devido a condições naturais – provavelmente uma tempestade.
De acordo com Simossi, o naufrágio contém mais carga do que qualquer outro navio já encontrado no Mediterrâneo. Filtrar os destroços é um trabalho lento e minucioso, porém, é possível que leve a mais descobertas.