Fotos revelam a vida nos minúsculos cubos futuristas do Japão

Construída em 1972, a Torre de Cápsulas Nakagin foi um marco do boom econômico do Japão pós-guerra. Hoje, seu futuro é incerto.

Por Ye Ming
fotos de Noritaka Minami
Publicado 1 de nov. de 2017, 19:04 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Foto de Noritaka Minami

Nos arredores do elegante distrito de Ginza, em Tóquio, encontra-se a Torre de Cápsulas Nakagin, uma estrutura curiosa que outrora representou a visão do Japão para o futuro.

O prédio foi projetado por Kisho Kurokawa, pioneiro da arquitetura metabolista – movimento dos anos 1960 que criou a ideia de edifícios dinâmicos e adaptáveis a uma paisagem urbana futurista e em constante evolução.

Do lado de fora, a torre parece uma pilha de máquinas de lavar roupa. O edifício é composto por dois núcleos de concreto de 11 e 13 andares, sobre os quais há cubos "removíveis". Cada cubo, que mede 10 m2, foi pré-montado em uma fábrica e, em seguida, conectado aos núcleos com 4 parafusos de alta tensão. Estes apartamentos em cápsulas, como são chamados, possuem eletrodomésticos básicos e um banheiro do tamanho de um lavatório de avião.

O edifício foi construído em 1972 em apenas 30 dias. Kurokawa imaginou o prédio como o início de uma nova era.

Em vez disso, a Torre de Cápsulas Nakagin tornou-se uma utopia que nunca se realizou. A substituição das cápsulas, planejadas para uma vida útil de 25 anos, mostrou-se onerosa. Hoje, a torre é um anacronismo entre edifícios mais práticos que surgiram ao seu redor.

Quando Kurokawa morreu em 2007, os moradores, cansados do concreto em ruínas e dos vazamentos, votaram para derrubar sua obra-prima e substituí-la por um edifício convencional, mas o plano foi interrompido pela quebra da bolsa de valores de 2008.

O fotógrafo Noritaka Minami começou a contar a vida e o destino da torre de Nakagin em 2010. Nos sete anos que se seguiram, visitou o prédio quase 10 vezes. "Sempre que visito o edifício, aprendo algo sobre a arquitetura e os moradores", diz ele.

Alguns proprietários mudaram-se ou converteram suas unidades em escritórios, enquanto outros escolheram reformá-las e permanecer na habitação.

Minami evitou fotografar os inquilinos diretamente, preferindo ter sua presença comunicada através de objetos. "[O apartamento] funciona como um recipiente da identidade das pessoas, seus interesses, passatempos e gostos".

Com as Olimpíadas chegando a Tóquio em 2020, o desenvolvimento da cidade foi retomado, bem como o debate sobre o futuro da torre histórica.

Minami espera que a torre seja preservada como símbolo de um movimento cujos conceitos de vida urbana eficiente são relevantes até hoje. É também uma lembrança de fins não alcançados e de um futuro que nunca chegou.

"Não há tanta ênfase na preservação da arquitetura moderna no Japão", explica Minami. "É importante que a torre possa permanecer lá, em vez de ser demolida em nome do progresso econômico".

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