Seriam estas as imagens mais antigas de cachorros?
Arte rupestre de milhares de anos descoberta na Arábia Saudita mostra caçadores levando cachorros com coleiras.
No noroeste da Arábia Saudita, um caçador cercado por um grupo de cachorros prepara uma flecha, apoia-a contra a corda do arco e puxa para matar um animal selvagem que caminha nas proximidades. Ele tem outros caçadores ao seu lado, que também preparam suas armas.
A cena, e outras como essa, estão gravadas nas falésias que se sobressaem ao deserto seco e árido que cobre a região norte da atual Arábia Saudita. Uma equipe de pesquisadores acha que pode ser a primeira descrição de cachorros, embora outros especialistas ainda não estejam convencidos desse fato. [Veja também: Por que seu cão come cocô e outros hábitos estranhos explicados]
"A distinção entre pastores e caçadores estava imediatamente clara", disse Maria Guagnin, arqueóloga do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana na Alemanha. Trabalhando com a Comissão Saudita de Turismo e Patrimônio Nacional, Guagnin documentou 1.405 painéis de arte rupestre que contêm 6.618 representações de animais individuais. [Veja também: Cachorros azuis são vistos em Mumbai, na Índia]
Gravações rupestres nas falésias de sítios arqueológicos em Shuwaymis e Jubbah mostram imagens de cachorros que ajudam caçadores humanos. Comparadas com as gravações de pessoas, os caninos são de tamanho médio, têm focinhos curtos, orelhas pontudas e cauda altiva e enrolada. Eles se assemelham à raça moderna do Cão de Canaã.
A arte rupestre tem um detalhe intrigante que revela um esforço inicial para usar cães como parceiros de caça. Coleiras parecem unir cães e companheiros humanos. Estendendo-se dos pescoços dos cachorros, as linhas se prendem na cintura humana. Em uma das cenas, um humano está pronto para usar o arco e flecha enquanto cachorros amarrados a sua cintura o cercam. [Veja também: Conheça a tartaruga e o cachorro que viraram melhores amigos]
AS IMAGENS MAIS ANTIGAS DE CACHORROS
"O problema com gravuras é que não existe um método confiável para datá-las diretamente", explicou Guagnin. Para alcançar uma estimativa aproximada, os pesquisadores analisaram a rocha ao redor do local e o conteúdo representado nas gravuras.
As cenas da arte rupestre incluem ovelhas e gado, indicando a existência de uma sociedade pastoral quando os cães foram esculpidos. Acredita-se que o pastoralismo surgiu na Península Arábica durante a primeira metade do sexto milênio, e Guagnin diz que as estimativas mais conservadoras, datam as gravuras a esse período.
Ela suspeita, no entanto, que as gravuras foram feitas entre a metade do oitavo e o nono milênio a.C. Seriam necessárias mais evidências para datar de forma mais conclusiva a arte rupestre, mas se Guagnin e sua equipe conseguirem provar que a arte remonta a 9.000 ou 8.000 a.C., essas podem ser as primeiras imagens de cachorros do mundo. Suas descobertas foram recentemente publicadas no periódico Journal of Anthropological Archaeology.
"É como um quadrinho", disse Melinda Zeder, arqueóloga do Museu Nacional de História Natural do Instituto Smithsonian, que não esteve envolvida na pesquisa. "Essas imagens colocam verdade na teoria".
Ela especulou que a arte rupestre do deserto Árabe poderia ser de aproximadamente 5.000 a.C., quando a evidência física do pastoralismo foi documentada pela primeira vez. Dizer que as imagens são mais antigas do que isso é especular demais, disse ela.
Zeder descreveu outra evidência de cachorros em arte rupestre da Síria em estudo de 2013. As imagens mostravam cachorros usados para ajudar em caçadas de grande escala – ossos nas proximidades ajudaram a datar as imagens ao 4º milênio.
ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO ANTIGOS
Arqueólogos sabem há muito tempo que cachorros foram domesticados durante o período neolítico. Ossos de cachorros de cerca de dez mil anos foram encontrados próximos a assentamentos humanos, disse Zeder. Evidências de que os cães ajudavam na caça são menos óbvias.
Robert Losey, professor da Universidade de Alberta, é especialista em relacionamentos antigos entre humanos e animais, particularmente cães. Ele encontrou evidências de restos de cachorro de 10 mil anos na Sibéria, mas não tem certeza do papel exato desses cachorros. Os restos mortais, disse ele, foram enterrados deliberadamente, com os esqueletos completamente intactos, o que significa que provavelmente não teriam sido uma fonte de alimento.
"Há trabalho etnográfico mostrando que a ajuda dos cães melhorou bastante a produtividade da caça", afirmou. Seu pressentimento é que a domesticação de cães coincidiu com, ou foi auxiliada por, humanos que se beneficiaram da caça com os caninos. Ele acha que é plausível que a arte mostre cães estejam sendo conduzidos por coleiras.
"Os vínculos emocionais que as pessoas têm com os cães são muito, muito antigos", disse ele.
Guagnin observou em seu estudo que o nível de detalhe usado para retratar os cães indica que o artista ou os artistas podem ter tido um vínculo emocional com os animais.
Enquanto Zeder está cético quanto às afirmações de Guagnin sobre a idade das gravuras, ela concorda que a arte mostra esses vínculos emocionais.
"O que me impressiona com a arte rupestre é o grau de detalhe. As diferentes marcações dos cães, a faixa de ombro comum, as manchas brancas. O nível de realidade e detalhes artísticos é realmente notável ", disse Zeder.
Guagnin e sua equipe planejam retornar a Jubbah, onde acredita que mais sítios neolítico, de até 10.000 a.C. esperam por ser explorados. Eles devem procurar evidências físicas de que os cachorros estavam de fato presentes na região naquela época.