Eu fotografei o túmulo de Jesus

O fotógrafo Oded Balilty abriu a janela e mostrou ao mundo um dos lugares mais sagrados do Cristianismo.

Por Nicole Werbeck
Publicado 17 de jan. de 2018, 16:50 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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O santuário que abriga o sepulcro tradicional de Jesus Cristo foi restaurado dentro da Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém.
Foto de Oded Balilty, AP for National Geographic

Às 19h da quarta-feira de 26 de outubro de 2017, na Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém, os cientistas e fotógrafos Oded Balilty e Dusan Vranic faziam parte de uma equipe de cerca de 30 pessoas que viram a superfície original daquele que é considerado o túmulo de Jesus Cristo. Falamos com Balilty sobre sua experiência.

A foto com a vista de cima da Edícula iluminada na igreja escura é deslumbrante. Como você a fez?

Eu gosto de conduzir os espectadores por um passeio em áreas que eles não conhecem.

Então eu subi no segundo andar da igreja e fotografei a mesma imagem em diferentes momentos do dia. A foto final foi a melhor porque foi feita à noitinha.

À noite, a igreja fica escura e não há luz. As luzes da construção iluminavam apenas a área da Edícula. Parece que a luz vem do meio, como uma bola de luz. A Edícula rodeada por paredes brancas cria uma atmosfera realmente estranha – geralmente a igreja não tem essa aparência. Ao vê-la de cima, a luz realmente a destacou. Nosso olhar e atenção vão direto para o centro do quadro. Então, a luz juntamente com uma lente grande-angular de 14mm causa essa aparência.

Um curador limpa a superfície da placa de pedra venerada como o lugar de descanso final de Jesus Cristo.
Foto de Oded Balilty, AP for National Geographic

Você e Dusan tiveram que entrar no túmulo para fazer algumas das fotos que vemos aqui. Descreva a configuração que vocês dois criaram para capturar o momento em que a placa interna do túmulo foi puxada para trás.

O espaço era muito, muito, muito pequeno. Mal dava para ficar de pé, especialmente quando havia três pessoas trabalhando ali. Uma vez que eles puxaram a primeira pedra para trás [80 cm], o lugar ficou menor ainda.

Não conseguíamos ficar de pé no túmulo mesmo. Ficamos em uma estrutura de madeira que a equipe de restauração construiu para nós. Nós [prendemos] a câmera no alto do túmulo [porque] queríamos que as pessoas vissem o túmulo todo e compreendessem como era.

Conectamos a câmera numa rede wifi porque tivemos que sair lá de dentro. É tão pequeno [que, de outra forma, sairíamos na foto].

Como você se adaptou ao trabalho em uma área tão pequena?

A atmosfera dentro do túmulo é tão frágil. Eu tinha uma câmera presa acima da minha cabeça e outra sobre meu ombro. Era como pisar em ovos.

Quando estou trabalhando, geralmente é muito diferente. Eu ando rápido. Reajo com rapidez. Me movo bastante. Mas ali eu não conseguia dar a volta no túmulo. Fiquei em um pedaço de madeira. Só podia tirar minhas fotos dali. Me senti de mãos atadas. Fiz fotos de onde eles decidiram que eu as faria. Foi um sentimento muito estranho para mim.

Costumo usar lentes de 35 ou 50mm – são as minhas favoritas. [Nesta situação] eu tive que usar lentes grande-angular, o que dita uma maneira totalmente diferente de se contar uma história, mas eu não tinha alternativa.

Você fotografou a cena várias vezes ao longo de um período de dias. Como foi entrar nesse cenário às cegas?

Normalmente, eu tenho uma ideia do que deve acontecer na próxima hora ou nos próximos dias. Meu cérebro começa a esboçar, e eu tento construir algumas ideias sobre o que vou fazer.

Ali, eu não sabia qual seria o próximo passo. Eles me deixavam fotografar tudo o que eu queria, mas nunca me diziam o que seria feito[amanhã]. Todas as vezes que entrava lá era uma surpresa.

Em vez de entrar e ir com calma, a cada vez era como se fosse um furo de reportagem.

Vigas de aço sustentam a Edícula enquanto o trabalho de restauração ainda está em andamento.
Foto de Oded Balilty, AP for National Geographic

Apenas 30 pessoas tiveram acesso ao túmulo aberto. Como você se sentiu documentando parte da História?

Abri uma janela para mostrar às pessoas algo que não acho que vá acontecer [novamente] na minha vida. A parte mais importante do nosso trabalho é mostrar às pessoas o que está acontecendo do outro lado do globo. Eu lhes dei a chance de ver algo. É um sentimento e tanto.

A sessão de fotos foi muito sigilosa. Que desafios isso apresentou?

Eu não sabia nem o tipo de equipamento que deveria preparar para levar. Não sabia nem que havia duas camadas de pedras. Dusan e eu juntamos dois sistemas [de computador] caso um deles falhasse. Fizemos alguns testes para garantir que o sistema funcionasse. Tudo isso era muito importante porque sabíamos que só teríamos alguns minutos para fotografar o túmulo.

Como você abordou esta reportagem fotograficamente?

Fui no dia anterior só para olhar. Eu gosto de sentir o lugar antes de chegar com a câmera. Gosto de deixar o lugar entrar na minha cabeça e de voltar no dia seguinte com um esboço de onde fotografar e de quais são melhores maneiras de fotografar cada coisa, em diferentes ângulos.

Eu não estou ali só para tirar fotos bonitas. Estou contando histórias. Eu estava tentando juntar tudo e fazer disso algo interessante. Eu tive que me concentrar na reportagem porque havia muitas imagens ao redor que me chamavam atenção, mas elas não contavam a história. Eu estava tentando me concentrar nos momentos e no visual [desses] humanos [que] nunca mais estarão lá. Esse era o meu objetivo.

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