Encontradas em âmbar as rãs de floresta tropical mais velhas do mundo

“Foi empolgante segurar esses pequenos fósseis contra a luz e revelar as rãs lá dentro”, diz paleontólogo.

Por John Pickrell
Publicado 15 de jun. de 2018, 12:11 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Esse pedaço de âmbar do Myanmar tem uma pequena rã que viveu com os dinossauros.
Esse pedaço de âmbar do Myanmar tem uma pequena rã que viveu com os dinossauros.
Foto de Chen Hai-ying

Mais de um terço das 7 mil estranhas espécies vivas de sapos e rãs são encontradas nas florestas tropicais pelo mundo. Mas o registro fóssil de anfíbios nesses ambientes úmidos e tropicais é quase inexistente, deixando os paleontólogos com pouco conhecimento sobre o início de sua evolução.

Agora, pedaços de âmbar do Período Cretáceo revelaram quatro pequenas rãs tropicais que viviam com os dinossauros, tornando-os os fósseis mais antigos de sua família. Os espécimes incluem restos de uma rã completa o bastante para ser chamada de uma nova espécie, chamada Electrorana limoae.

“Foi empolgante segurar esses pequenos fósseis contra a luz e revelas as rãs lá dentro”, diz David Blackburn, paleontólogo do Museu de História Natural da Flórida em Gainesville. “Nós temos alguns pequenos fósseis de rãs intactos, o espécime primário do Electrorana é um achado raro”.

Em vida, todas essas rãs teriam menos de uma polegada, de acordo com um artigo que descreve os fósseis na Scientific Reports, liderado pelo explorador da National Geographic Lida Xing, da Universidade da China de Geociências, em Pequim. (Recentemente, cientistas encontraram as origens da doença que está acabando com os anfíbios modernos.)

“Lagartos e rãs em âmbar certamente não são uma raridade, mas tão velhos assim é excepcional”, diz Marc Jones, especialista em fósseis de rãs com base no Museu de História Natural de Londres, Reino Unido. “O registro de fósseis de rãs continua tendencioso e irregular, mas ocasionalmente temos exceções como essa, que nos ajudam a apreciar o que estamos perdendo”.

Doação “milagrosa”

As rãs de 99 milhões de anos vêm dos mesmos depósitos de âmbar no norte do Myanmar que produziram muitos fósseis excepcionais, inclusive uma cauda de dinossauro, alguns filhotes de pássaros, asas de pássaros intactas e inúmeros insetos. Pedaços de bambu, vermes veludo e aranhas aquáticas também encontrados nesse âmbar sugerem que o ambiente do Cretáceo era uma floresta tropical, já que espécies parecidas são comumente encontradas em florestas tropicais de hoje.

O Dexu Institute of Paleontology, em Chaozou,  recebeu os espécimes como doações de colecionadores particulares de fósseis da China. O instituto teve três dos fósseis por alguns anos, disse Xing, mas eles tinham apenas alguns membros das rãs e a impressão de um corpo sem cabeça, sem o esqueleto. Uma doação “milagrosa” de um espécime maior e mais completo em 2010 tornou a pesquisa mais recente possível.

“Estava levemente decomposto, mas dava para observar a ótima estrutura do esqueleto a olho nu”, disse Xing.

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    Tomografias computadorizadas revelaram muito mais sobre a estrutura tridimensional e anatomia interna dos fósseis, incluindo evidências de que Electrorana era semelhante a rãs modernas de muitas formas. O animal parece ser um membro antigo de uma das linhagens mais antigas de rãs vivas, representada por espécies modernas como os bombinas e sapos-parteiros.

    “Enquanto o Electrorana não preserva muito tecido mole, diferente de alguns espécimes de lagartos dos mesmos depósitos, o esqueleto bem preservado representa o registro mais antigo de um sapo de uma floresta tropical, que é uma habitat moderno muito importante para as rãs”, diz Michael Pittman, paleontólogo da Universidade de Hong Kong.

    E um besouro também

    Dada a qualidade e variedade de fósseis nesses depósitos de âmbar, pode haver futuras oportunidades de estudar as dietas dessas rãs para ver como diferem de parentes vivos.

    De modo tentador, o pedaço de âmbar que contém Electrorana também tem um besouro, indicando que poderia ser uma presa do anfíbio da era dos dinossauros.

    A rã mais completa era uma jovem com ossos moles que não se fossilizou completamente, então, os cientistas não sabem muitos aspectos do esqueleto que poderiam dar mais informações sobre o comportamento e ecologia, como as articulações de quadril relacionadas ao salto e os ossos internos de orelha.

    No entanto, Blackburn, um dos autores do estudo, espera que, coletando mais fósseis, eles encontrem amostras ainda mais conservadas e possam comparar com rãs vivas. Isso permitiria que cientistas fizessem perguntas mais sofisticadas sobre como essas rãs antigas viveram e evoluíram.

    “Só posso torcer para que surjam mais fósseis espetaculares no futuro”, ele diz. “Nas florestas tropicais de hoje, há uma grande diversidade de espécies de rãs vivas. Então, deve haver muitas outras espécies para descobrirmos ainda no âmbar do Cretáceo de Myanmar”.

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