DNA de morsa indica que nórdicos groenlandeses dominavam o comércio de marfim

Estudo revela como os nórdicos conquistaram uma vida cômoda na gélida ilha por meio do comércio desse exótico produto selvagem.

Por Alejandra Borunda
Publicado 14 de ago. de 2018, 12:14 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Osso superior do maxilar da  morsa, com as presas, que foi utilizado no estudo para ...
Osso superior do maxilar da morsa, com as presas, que foi utilizado no estudo para identificar a origem do marfim medieval na Europa.
Foto de Musées du Mans

POR ANOS, ARQUEÓLOGOS se perguntaram o porquê de os nórdicos terem se estabelecido em uma Groelândia inóspita e cercada por gelo ao final do primeiro milênio d.C. A sobrevivência certamente não era fácil - então por que eles ficaram e como sobreviveram?

As comunidades nórdicas eram de fazendeiros e pescadores.  No entanto, um novo estudo sugere que eles tinham outra fonte valiosa de apoio: o comércio de marfim de morsas em um ávido mercado europeu.

O marfim das morsas era popular no início da Europa medieval, avaliado como um material exótico do longínquo norte. Igrejas eram decoradas com presas e elaboradas peças de xadrez esculpidas participaram das jogadas nos tabuleiros da elite.  Apesar disso, até hoje os pesquisadores não têm certeza de onde exatamente o marfim era extraído: das gélidas águas orientais da Escandinávia ou dos confins ocidentais da Groelândia?

O estudo se baseia no fato de que as morsas da Islândia e da Escandinávia são geneticamente diferentes das morsas da Groelândia e do Canadá.  Os cientistas rastrearam as presas, ossos e objetos feitos a partir do marfim das morsas de coleções de museus por toda a Europa e analisaram seu DNA para chegar às fontes originais de tal material precioso.

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O que eles encontraram foi impressionante. Antes dos anos 1100, apenas um século após o momento em que se acredita que o lendário viking Erik, o Vermelho, se estabeleceu na Groelândia, basicamente todas as presas de morsas das coleções europeias vinham, em sua maioria, de pontos localizados no leste - Mar de Barents, Islândia e Esvalbarda.  Porém nos cem anos seguintes e até mais ou menos 1400 a fonte mudou para oeste, sugerindo que os nórdicos groenlandeses tinham um bloqueio no comércio de marfim de morsas para a Europa.

Bastiaan Star, antigo especialista em DNA da Universidade de Oslo e principal autor do estudo, diz que esse deslocamento geográfico da fonte de marfim de morsa foi uma "grande surpresa".

"Talvez porque as [população de morsas] orientais acessíveis aos europeus já tinham sido exterminadas?", ele questiona. "Ou, de algum modo, porque os valores socioeconômicos das viagens da Groelândia para a Europa eram tão baratos que era possível para eles criar um monopólio comercial?”.

Benefícios - e riscos - da globalização

A vida nas margens gélidas da Groelândia era um desafio constante, explica Jette Arneborg, especialista em nórdicos groenlandeses do Museu Nacional da Dinamarca, que não está envolvida no estudo.  Faltavam aos colonizadores nórdicos muitas coisas necessárias para a sobrevivência - por isso, eles precisavam se apoiar profundamente no comércio com seus vizinhos do sudeste a fim de sanar essas necessidades.

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    "Se eles quisessem sobreviver na Groelândia, eles tinham que comercializar, pois esses itens eles simplesmente não poderiam ter – matérias-primas como, por exemplo, o ferro", diz Arneborg.  "Sendo assim, a partir do primeiro dia eles precisavam de algo para comercializar - e nós, é claro, suspeitamos que os marfins de morsas eram seu principal item de comercialização".

    Contudo, em meados de 1400, as comunidades nórdico-groenlandesas estavam se esvaindo, devastadas pelas mudanças climáticas e pelo aumento dos mares que inundavam suas escassas terras agrícolas. Alguns arqueólogos acreditam que os nórdicos groenlandeses podem ter perdido o contato comercial com a Noruega, um de seus principais parceiros comerciais. 

    "A população dos acampamentos nórdicos era dependente do comércio de morsas", diz Arneborg, e ela acredita que aconteceu mais ou menos o seguinte cenário "quando eles perderam contato com a Europa e não puderam mais comercializar, eles se viram com um grande problema".

    "Acredito que esse é um registro antigo da globalização", diz Star, "quando você tem uma demanda da Europa já impactando uma região ártica remota, com mil quilômetros de distância, centenas ou milhares de anos atrás".

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