Luto e raiva se misturam depois do incêndio que devastou o Museu Nacional

Fotos mostram o prédio em chamas e o que restou dele no dia seguinte.

Por Michael Greshko
Publicado 4 de set. de 2018, 19:05 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT

Por mais de 200 anos, o Museu Nacional do Rio de Janeiro serviu como o tesouro mais antigo e mais importante do patrimônio brasileiro. Agora, um dos maiores museus de história natural e cultural da América Latina é apenas uma casca queimada. O incêndio que atingiu o museu em 2 de setembro destruiu suas coleções e cerca de 90% dos 20 milhões de objetos da instituição. Não há feridos. 

Enquanto bombeiros trabalhavam para apagar as chamas, funcionários do museu e voluntários recolheram o que puderam do edifício, incluindo parte da coleção de moluscos. O meteorito Bendegó, o maior encontrado no Brasil, é um dos poucos objetos que sobreviveram ao contato direto com as chamas. Cientistas ainda têm esperanças de que objetos das coleções de arqueologia e paleontologia guardados em armários de metal tenham sobrevivido.

Duane Fonseca, biólogo da Universidade Federal do Rio Grande, reportou no Twitter nesta terça-feira que 80% dos espécimes-tipo estavam em outro edifício durante o incêndio e estão salvos, assim como a biblioteca do museu e o arquivo botânico. Recentemente, pesquisadores escanearam em 3-D alguns dos artefatos egípcios, preservando pelo menos a forma desses objetos para a posteridade. 

Mas a maior parte da coleção – resultado de vidas inteiras dedicadas a pesquisas acadêmicas – provavelmente se perdeu, incluindo fósseis raros e gravações de povos indígenas cujos idiomas já não são falados. 

"Não dá para exagerar a importância das coleções que perdemos", disse Luiz Rocha, especialista em ictiologia que estudou as coleções do Museu Nacional várias vezes, à National Geographic em outra entrevista. "Elas eram únicas. Muitas eram insubstituíveis, não tem como colocar um valor monetário nelas."

Membros da academia criticaram com veemência o governo brasileiro pela tragédia – eles acreditam que podia ter sido evitada. Anos de cortes de verbas e reformas atrasadas deixaram o museu com paredes descascando e fios elétricos à mostra. Quando bombeiros chegaram à cena, os dois hidrantes da região estavam secos e os militares tiveram que buscar água de caminhões-pipa e dos lagos da Quinta da Boa Vista.

Desde de que a notícia do incêndio surgiu no domingo, pessoas e museus de todo o mundo estão de luto pela perda. "Neste dia sombrio não só para o patrimônio brasileiro mas para o patrimônio do mundo, queremos reiterar nossa confiança inabalável na resiliência e no profissionalismo dos museólogos do Brasil, e nossa fé na capacidade deles de se recuperarem deste evento doloroso", disse o Conselho Internacional de Museus em uma declaração

Debates já circulam sobre se, ou como, o Museu Nacional deve ser reconstruído. Enquanto isso, estudantes cariocas já começaram um projeto de recuperação.

"Em vista da tragédia desta noite, estudantes do curso de museologia da Unirio [Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro] estão se mobilizando para preservar a memória do Museu Nacional", disse o Museu Nacional por e-mail. "Pedimos a todos que tenham imagens (fotos, vídeo e até selfies) da coleção e dos espaços de exibição que as divida conosco."

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