Por dentro do misterioso mundo dos caçadores da bíblia
No terreno sombrio onde religião e arqueologia se encontram, cientistas, colecionadores e trapaceiros competem para descobrir textos sagrados.
Confira a reportagem completa na edição de outubro da revista National Geographic Brasil.
O calor é impiedoso nos áridos morros do Deserto da Judeia na orla do Mar Morto. Mas está misericordiosamente ameno dentro da caverna onde Randall Price, de bruços no chão, fita a greta em que, ainda ontem, ele descobriu uma panela de bronze de 2 mil anos. “Esta caverna foi roubada por beduínos há uns 40 anos”, explica Price, arqueólogo e professor na Universidade Liberty, no estado americano da Virgínia. “Para nossa sorte, não cavaram muito fundo. Nossa esperança é de que, se continuarmos a cavar, encontraremos o veio principal.”
Quem já ouviu falar dessas famosas cavernas nas imediações do antigo povoado judeu de Qumran sabe a qual veio principal Price se refere. Em 1947, jovens beduínos que pastoreavam cabras deram uma espiada em uma caverna próxima e fizeram uma das maiores descobertas arqueológicas do século 20: sete pergaminhos enrolados cobertos por escrita em hebraico antigo – o primeiro dos famosos Manuscritos do Mar Morto. Membros da seita separatista de Qumran provavelmente esconderam os manuscritos na caverna por volta de 70 d.C, quando soldados romanos estavam chegando para esmagar a Primeira Revolta Judaica. Outras centenas de manuscritos seriam descobertos depois. Eles remontam até o século 3 a.C., e são os textos bíblicos mais antigos já encontrados.
As cavernas de Qumran ficam na Cisjordânia ocupada por Israel, e muitos consideram o trabalho de Price ilegal, segundo o direito internacional. Mas isso não dissuadiu nem Price nem o chefe da escavação, o israelense Oren Gutfeld, da Universidade Hebraica de Jerusalém, de levar a cabo um plano de pesquisa derivado de uma operação anterior igualmente controversa.
Em 1993, depois de assinar os Acordos de Oslo – que pautaram a devolução ao controle palestino de territórios em disputa – o governo israelense lançou a Operação Manuscrito, um levantamento urgente de todos os sítios arqueológicos que o país corria o risco de perder. Feito às pressas e sem cuidado, o levantamento não revelou nenhum novo manuscrito. Mas os pesquisadores mapearam dezenas de cavernas que haviam sido danificadas por terremotos e possivelmente passado despercebidas pelos beduínos caçadores de tesouro. A caverna catalogada sob número 53 chamou a atenção de Price em 2010, e depois de Gutfeld. “Encontraram ali muitas cerâmicas de várias épocas: do Primeiro Período Islâmico, do Segundo Templo e até do Helenístico”, diz ele. “Havia motivo para acreditar que ainda houvesse mais alguma coisa ali.”
Dois anos atrás, durante sua primeira sondagem da Caverna 53, os arqueólogos descobriram um rolo de pergaminho em branco e vasos quebrados, evidências de que a caverna podia ter guardado manuscritos. Agora, depois de três semanas escavando, seus achados estão dispostos sobre uma mesa fora da caverna. Há pontas de flecha do Neolítico, uma lâmina de obsidiana da Anatólia e a panela de bronze. Mas nenhum manuscrito. Por isso, a escavação prossegue.
Confira a reportagem completa na edição de outubro da revista National Geographic Brasil.