Múmias raríssimas de leão descobertas no Egito

Até hoje, apenas uma múmia de leão havia sido encontrada pelos egiptólogos. Os leões mumificados eram de fato raros ou simplesmente ainda não haviam sido encontrados?

Por Antoaneta Roussi
Publicado 1 de dez. de 2019, 09:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Este filhote de leão tinha cerca de oito meses quando foi mumificado. Até a declaração recente, apenas um leão mumificado era conhecido no Egito antigo.
Foto de Supreme Council of Antiquities of Egypt

Os grandes felinos também eram mantidos como animais de estimação em complexos da realeza, com Ramsés II e Tutancâmon representados em ilustrações com um leão sentado. O escritor romano Cláudio Eliano tem um trecho famoso que dizia  que, quando visitou Sacara, viu leões em templos ao som de músicas enquanto eram alimentados com bois.

Mesmo assim, o leão nunca foi fortemente associado a uma única divindade, como o íbis a Tote ou o chacal a Anúbis. As múmias encontradas em Sacara provavelmente estão ligadas à deusa dos gatos Bastet e à sua irmã Sacmis, deusa guerreira com rosto de leoa, conta Lord.

Esse elo perdido com uma divindade e um culto específicos pode ser a razão pela qual as múmias de leões são encontradas com muito menos frequência do que outros animais, acrescenta ela. Outra explicação possível é que simplesmente não foram descobertos ainda.

“Realmente não há razões práticas para a falta de múmias de leões”, afirma Lord. “Os antigos egípcios eram perfeitamente capazes de mumificar uma criatura desse tamanho. O touro Ápis, um animal de culto, foi mumificado utilizando as melhores técnicas, incluindo a remoção dos órgãos.”

A única diferença na mumificação de um leão é que a remoção de órgãos seria mais fedorenta por ele ser carnívoro, explica Salima Ikram, arqueóloga da Universidade Americana do Cairo, que realizou uma tomografia computadorizada em algumas das múmias de leões.

Ikram afirma que a descoberta é “extremamente importante”, pois dará aos pesquisadores novos conhecimentos sobre como eram capturados os leões no Egito antigo e se eram reproduzidos ou comercializados.

“É bem possível que, com o progresso da escavação de Sacara, mais múmias de leão venham à tona”, disse ela. “Os escritores clássicos falavam de leões mumificados no Egito e alguns estudiosos, inclusive eu, andaram procurando um cemitério de leões.”

As múmias de leão podem estar associadas ao culto a Sacmis, a deusa guerreira egípcia com rosto de leoa.
Foto de age fotostock, Alamy

É difícil, hoje, imaginar bandos de leões vagando pelo Egito, mas, até 1000 a.C., os grandes felinos passavam o tempo à toa às margens do Nilo — e alguns até descansavam nos palácios como animais domésticos da realeza. O leão (Panthera leo) era associado ao sol e ao faraó, os elementos mais poderosos da vida e da morte no Egito antigo. E, mesmo depois que o clima do Egito ficou mais árido e os bandos migraram para o sul, os leões continuaram a ter presença de destaque na cultura egípcia.

“O leão desempenhou um enorme papel na iconografia do Egito antigo”, afirma Conni Lord, egiptólogo do Projeto de Pesquisa sobre Múmias de Animais do Museu Nicholson da Universidade de Sydney. “O leão era um símbolo da autoridade real, mas imagens de leões também eram utilizadas em objetos do cotidiano, como cadeiras e camas. Pode ter sido puramente decorativo, mas é provável que houvesse um significado mágico relacionado à proteção.”

Como as representações de leões eram tão comuns no Egito antigo, há muito tempo os pesquisadores se perguntam por que apenas uma múmia de leão até hoje havia sido descoberta entre os milhões de animais mumificados sepultados pelos antigos egípcios. Agora, uma equipe de arqueólogos liderada pelo Conselho Supremo de Antiguidades do Egito revelou mais cinco múmias de leão, provavelmente filhotes, descobertas na necrópole de Bubasteion — literalmente, uma catacumba de múmias de gatos — em Sacara.

Acredita-se que os filhotes de leão mumificados, com cerca de 90 centímetros de comprimento, tivessem oito meses de idade. Eles foram encontrados juntamente com uma grande coleção de estátuas de madeira e bronze de gatos e outros animais mumificados, incluindo cobras e crocodilos. O Conselho Supremo de Antiguidades disse que os artefatos provavelmente pertenceram à 26a Dinastia do Egito (664-525 a.C.).

O leão tinha um status privilegiado no Egito antigo, sendo considerado o guerreiro mais feroz da natureza e símbolo de perigo e proteção. Os faraós eram conhecidos por participar de caçadas a leões para demonstrar sua própria supremacia, incluindo Amenófis III, que alegou ter matado 102 leões nos primeiros dez anos de seu reinado.

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