Essa icônica foto da Segunda Guerra Mundial foi forjada? Conheça a verdadeira história
A imagem inspiradora resgatou a moral de uma nação e levantou suspeitas de que talvez fosse perfeita demais para ser verdade.
Em 23 de fevereiro de 1945, seis fuzileiros navais dos Estados Unidos hastearam uma bandeira norte-americana no topo de uma colina na ilha de Iwo Jima, uma fortaleza japonesa defendida de forma violenta. O fotógrafo Joe Rosenthal teve sorte e capturou o momento em uma única imagem imortal. Em poucas semanas, a foto se tornou o tema da sétima campanha de Títulos de Guerra do governo dos Estados Unidos. Um selo postal também exibia a imagem. A cena foi reproduzida diversas vezes no cinema.
Uma homenagem mais duradoura talvez seja uma escultura monumental da bandeira sendo hasteada. Ela foi baseada inteiramente na foto da Associated Press de Rosenthal e está localizada acima do rio Potomac, na margem oposta a Washington, D.C.
E tudo porque Rosenthal apontou sua volumosa câmera Graflex 4x5 na direção certa, naquele exato segundo, e tirou a foto — sem sequer olhar pelo visor.
O resultado ficou tão perfeito — captura um momento crucial, representa a coragem e a camaradagem dos combatentes e atende a praticamente todos os padrões de composição artística já consagrados — que, pelo resto de sua vida, Rosenthal teve que refutar as acusações de que tudo foi forjado.
Na verdade, naquele dia — cinco dias após o início de uma das batalhas mais sangrentas da Guerra do Pacífico — Rosenthal tinha apenas uma coisa em mente ao subir o monte. “À medida que a trilha se tornou mais íngreme”, ele disse mais tarde, “comecei a refletir e torcer para que a subida valesse a pena.”
Mesmo assim, apesar de Rosenthal ter chegado tarde demais, ele chegou na hora certa.
Antes de chegar ao cume do cone vulcânico de 168 metros de altura no Monte Suribachi, uma equipe de fuzileiros navais já havia hasteado uma pequena bandeira dos Estados Unidos. O fotógrafo do corpo de fuzileiros navais, o Sargento Louis Lowery, registrou o momento em que o mastro improvisado foi erguido, mas a visão da bandeira provocou um ataque das tropas japonesas. Ao deitar-se no chão para se proteger, Lowery quebrou a câmera e desceu a colina para buscar outra. No percurso, encontrou Rosenthal, que ainda se esforçava para chegar ao topo, e lhe contou as más notícias: a bandeira já havia sido hasteada.
Ainda assim, Rosenthal continuou, na esperança de conseguir boas fotos de cima do cume. Ao chegar lá, observou uma equipe de fuzileiros navais se preparando para levantar uma segunda bandeira maior, sob ordens da Marinha, que queria que o símbolo nacional fosse visto de toda a ilha.
Fotógrafos de guerra quase nunca têm uma segunda chance de conseguir ótimas fotos, mas Rosenthal sabia que a sorte estava ao seu lado. Agora, precisava correr contra o tempo e obter uma boa vantagem imediatamente antes de a segunda bandeira ser levantada. Rapidamente, o fotógrafo de 1,65 de altura empilhou alguns sacos de areia nos quais pudesse subir.
“Joe, eu não estou atrapalhando, estou?”, perguntou um cinegrafista no local. Rosenthal virou-se para olhar para o companheiro — e quase perdeu a cena do século.
O Exército dos Estados Unidos havia dispensado Rosenthal como fotógrafo porque sua visão não era boa. Mas são os reflexos que fazem um fotógrafo de guerra, e os de Rosenthal eram rápidos. Do canto do olho, avistou os fuzileiros erguerem o mastro com a bandeira tremulante. Em um movimento, ele se virou, levantou a câmera, tirou sua única foto e deixou o destino cuidar do resto.
Reflexos a parte, Rosenthal não teve certeza de que havia conseguido tirar a foto. O filme em sua câmera seria enviado para Guam para ser revelado e depois transmitido via telefotografia para seus editores em São Francisco.
Para garantir, Rosenthal pediu que 16 fuzileiros navais e dois militares da Marinha posassem gloriosamente ao lado da bandeira. Entre eles estava Ira Hayes, nativo norte-americano da tribo Pima, que também aparece na primeira foto icônica. (Ele é o fuzileiro na ponta esquerda cujas mãos acabaram de soltar o mastro.)
Entre os amigos mais próximos de Hayes estava Jack Thurman, um atirador de elite da Marinha com 19 anos na época. Thurman, agora com 94 anos, relembra que os dois haviam escalado a colina naquela manhã, Hayes como parte da equipe que hastearia a bandeira, Thurman como atirador de elite para protegê-los.
“Jack, desça até aqui!” Thurman se lembra de Hayes gritando. “Quero tirar uma foto com você!” A imagem resultante não é muito nítida e gerou debate sobre quem, exatamente, está na fotografia. Mas olhando para ela hoje em uma sala ensolarada de sua casa em Loveland, Colorado, Thurman se identifica como o fuzileiro naval na ponta esquerda, que acena, bastante animado, com o seu capacete.
Ele admitiu que remover seu equipamento de segurança não foi a coisa mais inteligente a se fazer considerando que os ataques inimigos vinham de todos os lados. “Mas a gente se acostuma”, conta ele. “Os projéteis voavam acima de nossas cabeças a toda a hora.”
O hasteamento das bandeiras em Iwo Jima teve um efeito imediato nos fuzileiros navais em todo o território da ilha, que chega a cerca de 20 quilômetros quadrados. Quando a primeira bandeira foi hasteada, a frota invasora soou suas buzinas e os soldados dispararam suas armas no ar.
“Que sensação!”, lembra Bill Montgomery, de 95 anos, um dos poucos fuzileiros navais que chegaram a Iwo Jima no primeiro dia da batalha e permaneceram até o amargo fim. “Eu me senti extasiado! Sabia que tudo havia acabado! Muitos de nós haviam sido mortos. Mas nós conseguimos.”
Thurman compartilhou esse otimismo com seus colegas fuzileiros, mas era uma falsa esperança. A batalha de Iwo Jima duraria mais um mês, causando mais de 26 mil baixas norte-americanas, incluindo 6.281 vidas. Mas, apesar de tudo, deixou a bandeira no topo de Suribachi, fotografa em meio aos fortes ventos do Pacífico. A visão inspirou os fuzileiros navais durante os cansativos dias — e noites — da guerra.
“Mesmo depois de escurecer”, diz Thurman, “projéteis eram lançados e, com o clarão, podíamos ver a bandeira lá em cima, ainda balançando. Ainda erguida. Não pude deixar de pensar em Fort McHenry e no hino ‘Bandeira Estrelada’. As bombas que explodiam no ar durante a noite realmente confirmavam que nossa bandeira ainda estava lá.”
Dois dias depois que Rosenthal tirou suas fotos no topo de Suribachi, a Associated Press divulgou sua imagem icônica — uma foto ganhadora do Prêmio Pulitzer que, para muitos, parecia perfeita demais.
Até sua morte, aos 94 anos de idade, em 2006, “Joe passou a vida inteira defendendo sua foto contra alegações de que seria uma 'imagem falsa'”, disse o ex-editor executivo de fotografia da AP, Hal Buell, em uma entrevista. Mesmo depois de oficiais militares e editores da revista Life conduzirem uma investigação e concluírem que era uma imagem jornalística autêntica, o boato persistiu.
Quanto ao Sargento Lowery, o fotógrafo militar que perdeu a foto do século porque sua câmera quebrou, ele sustentou durante anos que a imagem de Rosenthal havia sido possivelmente forjada. Mas depois que os dois se encontraram por acaso em um evento da Marinha anos depois, ele mudou de ideia.
“Eles continuaram amigos”, disse Buell. “Na verdade, Joe foi ao funeral de Lou Lowery.” Agora que diminui cada vez mais o número de homens que testemunharam, em primeira mão, a bandeira sendo hasteada, a foto de Joe Rosenthal preserva o espírito de um dos momentos mais inabaláveis da Segunda Guerra Mundial.
“Penso nisso sempre que vejo nossa bandeira balançando ao vento, até hoje”, diz Jack Thurman. “Essa bandeira está dizendo para todos nós: ‘Ainda estou aqui, amigos. Ainda estou aqui.’”